O trunfo da Língua Portuguesa

Temos um país extraordinário, pois, se assim não fosse, não teríamos a garra, resiliência e arte de sermos portugueses. É por isso que merecemos mais. Muito mais. Mesmo sabendo que, hoje, já não basta hastear a bandeira nos paços do concelho para mudarmos um regime. 

Lula vai reabrir o Banco de Desenvolvimento dos BRICS e fala, em Português.

Temos, um português, líder da ONU a falar todas as línguas sem impulsionar o Português. 

Temos líderes, em todo o mundo, portugueses, a falarem outras línguas, em especial inglês, reforçando a Commonwealth.

A verdade é que só Lula fala em Português, sem medos, preconceitos, vergonhas ou confusões. Mesmo que não saiba falar inglês. 

Porquê? Porque será?

Não me importam questões políticas, jurídicas ou criminais. Importam-me, questões de estratégia e de identidade. 

E, nesse aspeto, Lula, mesmo que não saiba falar inglês, reforça e posiciona o Português, como língua global e relevante que é.

Considero muito importante a força do soft power e do recurso natural que é a língua Portuguesa. Que, como nos ensinou o Professor Adriano Moreira, «também é nossa».

Fomos os líderes da primeira globalização comercial, sem os recursos que hoje temos. 

Somos a quarta língua mais falada no mundo e das líderes sem precedentes no digital.

Por outro lado, num mundo outrora em guerra, tivemos a força da isenção, sendo a base das elites europeias e globais. 

 

Reflitamos e vejamos em que é que hoje nos tornámos.

Porquê? E para quê ou para quem?

Porquê este retrocesso (com aparente progresso) e para quê? (com este Estado inatamente corrupto e sem estratégia)

Por isso, esqueçamos as histórias da carochinha da pobreza de ontem. Porque, nesse ontem, fomos grandes na certeza do nosso valor. Hoje, somos irrelevantes, cada vez mais vendidos ao ‘preço’ (ao dinheiro), desprezando o que fomos, somos e precisamos de voltar a ser, como pequeno Estado estratégico pela sua história, posicionamento e povo.

Não pode ser. Não temos dimensão para ousarmos permitir esta mediocridade. Pior que nos tempos de Eça.

Temos um país extraordinário. Aliás, se assim não fosse, não teríamos o investimento atual em Portugal. Mas a memória perdeu-se e estamos a deixar que outros refaçam o que sempre tivemos.

 

Temos um país extraordinário, pois, se assim não fosse, não teríamos a indústria e a agricultura extraordinária que temos, apesar de não terem sido incentivadas pelo ‘credo do dinheiro e do mercado’. Aliás, sem os heróis empresários, não teríamos, hoje, Portugal. Pois, são os empresários que pedem Portugal.

Temos um país extraordinário, pois, se assim não fosse, não teríamos o povo e os novos habitantes de Portugal.

Temos um país extraordinário, pois, se assim não fosse, não teríamos a garra, resiliência e arte de sermos portugueses.

É por isso que merecemos mais. Muito mais. Mesmo sabendo que, hoje, já não basta hastear a bandeira nos paços do concelho para mudarmos um regime. 

Hoje, precisamos de exigir sem medo. 

Hoje, temos de acabar a podridão em que nos tornámos (via uma pseudo-elite corrupta, sem valores e que nos vende a todo o preço… lembra os tempos de Castela).

 

O melhor é que, hoje, os portugueses começaram a pensar, refletir e discutir Portugal.

Deixem-nos pensar, refletir, discutir e atuar. Pois, se assim for, certamente, teremos e deixaremos aos nossos filhos e netos um país e um Portugal muito melhor do que o que, infelizmente, recebemos e temos vivido.

Por Bernardo Theotónio-Pereira

Jurista e Empresário