O deputado único do Livre, Rui Tavares, foi o primeiro a discursar e começou por deixar um alerta.
"É preciso que alguém o diga nesta data. A nossa democracia não só não está garantida como vive o momento de maior risco à sua existência". "Estes 49 anos devem servir para alertar para tudo aquilo que podemos perder", afirmou, acrescentando que "o principal risco para a democracia não está nos autoritários que serão sempre uma minoria, mas sim naqueles que lhe quiserem dar a mão".
A segunda intervenção foi da deputada do PAN Inês Sousa Real que criticou protestos do Chega a Lula da Silva e elogiou a reação de Santos Silva.
"Partilhamos do mesmo embaraço perante o desrespeito que aqui foi demonstrado por alguns perante um povo irmão", afirmou, tendo sido aplaudida.
A líder do PAN deixou também críticas ao Governo, que considera viver "obcecado com o défice", há “sempre dinheiro público para as touradas" mas não para a proteção animal, para os animais de companhia ou para os pensionistas e a habitação."O que falta para uma verdadeira revolução social e ambiental", questionou.
A ainda líder do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, fez a intervenção seguinte e começou por citar Chico Buarque para lembrar que há um cheiro a “bafio fascista” que é preciso combater.
Após o 25 de Abril, "nada voltou a ser o mesmo", disse, acrescentando, no entanto, que "só a desonestidade pode negar o que ficou por fazer", citando o exemplo dos salários baixos que não pagam as casas demasiado caras.
Para a deputada do BE é preciso cuidar "da semente de Abril" e impedir que o povo fique reduzido à condição de "alfinete de lapela".
Segundo Catarina Martins sente-se "o cheiro a bafio" que "contamina e adoece a democracia". "Se, sempre que o bafio fascista se faz sentir, estamos juntos a combatê-lo sem hesitação, recusamos determinantemente a subalternização de todos os debates substanciais" em detrimento do foco nas "arruaças" da extrema-direita, afirmou, acrescentando: "Queremos uma democracia que faça germinar a semente de Abril. Recusamos afogá-la em formol".
Manuel Loff, deputado do PCP, reiterou alertas de Rui Tavares e Catarina Martins e disse que democracia está em risco.
“A democracia está há anos ameaçada, de novo, pelo fascismo de cuja sombra nos julgávamos ter libertado por todo o mundo há 80 anos, ou, justamente, há 49 anos em Portugal”, começou por dizer, acrescentando que “é ilusório” pensar que “o assalto da extrema-direita fascista está a fazer ao poder deixa incólume a democracia”.
“O 25 de Abril tem agora de continuar a ser feito por nós, por quem acredita nesses valores que permanecem, sabemo-lo hoje melhor do que nunca, a solução para os problemas estruturais do nosso país”, concluiu, antes de citar o Grândola, Vila Morena, de Zeca Afonso, sublinhando que “o povo é quem mais ordena” e que “tem de ser cada uma das nossas cidades e aldeias de um país verdadeiramente democrática”.
O líder da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, sublinha importância do 25 de abril de 1974, mas considera que, nestes 49 anos, "alguém não fez o suficiente".
“Em Abril de 1974, Portugal fez-se novo outra vez", mas, se nessa altura, "tudo era possível", disse Rui Rocha, para quem o facto de Portugal se hoje "mais estreito” do que sonhava, prova que "alguém não fez o suficiente", e apontou como exemplos dois milhões de pobres, os problemas na habitação, a questão dos professores ou a emigração.
O liberal aproveitou para fazer uma referência ao 25 de novembro de 1975, data que assinala a "reafirmação da liberdade" em Portugal. Comentando a polémica dos últimos anos, sublinhou que "o 25 de Abril não tem donos” e que o seu Partido desfilará na Avenida da Liberdade, "contra a vontade dos que nos quiseram impedir de o fazer".
No seu discurso não esqueceu também de reiterar a oposição da IL à visita do Presidente do Brasil ao Parlamento, sublinhando que Lula da Silva "não devia ter sido recebido" no Parlamento, justificando que a defesa da liberdade "não é compaginável" com um chefe de Estado que, segundo Rui Rocha, branqueia as autocracias.
No entanto, após várias críticas, terminou a intervenção com uma nota de otimismo. "Em democracia há sempre alternativa e o vento da mudança já começou a soprar em Portugal", rematou.
André Ventura, líder do Chega, começou a sua intervenção criticando a cerimónia com Lula da Silva, que antecedeu a sessão solene do 25 de Abril na Assembleia da República.
"Não estaria bem com a minha consciência se não dissesse esta cerimónia foi um tremendo erro" afirmou e acusou os dirigentes nacionais de "dão a mão a Zelensky durante o dia e a Lula e à China durante a noite".
“25 de Abril era para acabar com o elitismo, a noite que terminou e a manhã clara que chegou aos nossos dias… Alexandra Reis deve pensar o mesmo: a manhã clara e nobre em que recebeu 500 mil euros da TAP e pôs o cravo ao peito e disse: 25 de Abril, sempre, fascismo nunca mais”, disse.
Ventura sublinhou ainda que quando chegar ao Governo “a prioridade será para homens e mulheres e milhões de famílias que enquanto viam outros ganhar tudo ficaram sem nada em Portugal”.
Terminou dizendo que, no Parlamento, o partido está só e assim continuará só porque defendem os "portugueses de bem"
Seguiu-se o discurso de Joaquim Miranda Sarmento, líder parlamentar do PSD, que começou por falar da Guerra na Ucrânia, lembrando que Portugal está do lado "da Europa, da NATO, do Ocidente e da democracia".
Reconheceu os progressos no pais no pós 25 de Abril, mas considera que Portugal vive estagnado há mais de duas décadas.
"Estes 25 anos de empobrecimento não são uma fatalidade. São uma consequência das políticas erradas de um PS que governou 21 dos últimos 28 anos, e com o PSD a governar sempre em emergência financeira", referiu.
Para Miranda Sarmento, o país está "cada vez mais desigual", em que "metade dos portugueses e três quartos dos jovens ganham menos de mil euros”, que "quatro em cada dez portugueses estão em risco de pobreza" e que dois milhões continuam pobres "mesmo depois das transferências sociais".
Portugal precisa, segundo o social-democrata, de "voltar a ter esperança no futuro", o que, atualmente, não é possível tendo em conta “descrédito das instituições" fruto de polémicas como a da TAP.
A terminar, a última intervenção da ronda dos partidos foi do deputado do PS João Torres, que assim como os partidos mais à esquerda, começou o seu discurso com alerta sobre os “ataques à democracia” que chegam “através daqueles que se sentam à extrema-direita neste hemiciclo”.
“São os que se servem das velhas fórmulas, como o populismo e a demagogia – aliados eternos da ignorância, da iliteracia política – para sabotar a crença na democracia”, afirmou.
Seguiu-se o elogio às políticas do Executivo socialista: "Estamos a trilhar um caminho progressista de redução das desigualdades e a fortalecer o Estado Social no acesso à saúde, à educação e ao ensino superior, com mais coesão e inclusão, melhor articulação do desenvolvimento territorial, e em respeito pelo poder local e pelas autonomias regionais".
Embora não tenha feito referência direta ao cenário de uma eventual dissolução da Assembleia da República, pelo chefe de Estado, o deputado socialista lembrou a importância de respeitar “a vontade popular, a estabilidade e os mandatos que o povo confere".
De seguida, deixou o recado à direita: "Como diz a sabedoria popular, tão ladrão é o que rouba como o que consente. E, por isso, cada vez mais nos deve preocupar a influência que o populismo exerce na direita democrática, uma direita que sempre respeitamos, mas para quem parece não haver limites nem tabus quando o que conta é a vã cobiça do poder pelo poder, custe o que custar".