por Raquel Abecasis
A ideia está em cima da mesa da comissão nacional para as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril. Ainda antes de abandonar as funções de comissário para as comemorações, Pedro Adão e Silva, atual ministro da Cultura, propôs que os cinco chefes de Estado dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), fossem convidados para estarem em Portugal no cinquentenário da revolução.
O tema da descolonização é de resto o tema principal das comemorações em 2024, ano em que se marca o início de um olhar particular aos três “D” que assinalaram as principais mudanças pretendidas com a Revolução dos Cravos. 2024 é o ano dedicado à Descolonização, 2025 é o ano para assinalar a Democratização e 2026 o Desenvolvimento.
Com este cenário tudo se estava a preparar para convidar os Presidentes de Angola, Moçambique, Cabo-Verde, Guiné-Bissau e Timor-Leste para virem a Portugal daqui a um ano e a porta estava mesmo aberta para que pudessem discursar na sessão comemorativa na Assembleia da República. Um plano que poderá ter tido alterações nos últimos meses por causa da polémica levantada com a presença de Lula da Silva nas comemorações deste ano.
Foi o próprio Pedro Adão e Silva que confirmou a intenção de formular os convites em declarações ao jornal Expresso no passado dia 3 de março, mas desde então nunca mais se ouviu falar no tema.
A polémica com a presença de Lula da Silva por estes dias no nosso país terá deixado a intenção em banho-maria, já que, até agora, nenhum dos partidos com assento parlamentar foi contactado sobre o assunto e na própria comissão organizadora dos festejos não conseguimos obter qualquer resposta sobre esta intenção.
As críticas a discursos de chefes de Estado estrangeiros na sessão solene do 25 de Abril podem mesmo ter afetado os planos, porque será difícil conseguir um consenso sobre a matéria e tudo o que ninguém quer é manchar pelo segundo ano consecutivo as comemorações. Ainda por cima tratando-se da passagem dos 50 anos.
Ao que apurámos o tema neste momento queima e ninguém quer falar sobre ele. Certo é que não tem sido fácil reunir os chefes de Estado dos PALOP em cimeira. A última que se realizou foi em julho de 2021 e desde então a atividade ao mais alto nível desta organização tem estado parada.
Se é certo que a reativação da CPLP enquanto organização dos Estados de Língua Oficial Portuguesa foi uma das prioridades que Lula da Silva trouxe como desafio a Portugal, a verdade é que os últimos eventos e até a posição que grande parte destes países tem assumido sobre o conflito da Ucrânia, não facilita o diálogo diplomático e muito menos o objetivo de alcançar posições conjuntas ao nível internacional.
Acresce que o eventual convite aos chefes de Estado dos PALOP pode abrir nova polémica, com a exigência de que outros líderes políticos destes países, nomeadamente dos principais partidos da oposição, devam também ser convidados.
A dúvida, neste momento, é perceber se o convite aos representantes dos países que ganharam a sua independência depois do 25 de Abril de 1974, não vem abrir novas feridas nas relações nem sempre fáceis entre Portugal e alguns destes países
Para já o silêncio é a alma do negócio. Ninguém quer atear nova fogueira, quando ainda não está apagada a que se acendeu com a associação de Lula da Silva às comemorações dos 49 anos da revolução.