As ordens são para não largar o tema. O alvo é o PSD. A arma letal é o Chega. O objetivo é destruir tudo à volta para que o Partido Socialista conserve a posição hegemónica na cena política portuguesa. A estratégia está montada e é dirigida pela central de comunicação do Largo do Rato.
O convite a Lula da Silva para falar no Parlamento no dia 25 de Abril cumpriu o objetivo. Deu o cenário perfeito para reacender a demonização do partido de André Ventura protagonizada pelo grande defensor da democracia, o PS. Preocupados com os dados das últimas sondagens e pela dificuldade em virar a página das notícias negativas que há muito tempo ensombram o Governo, os socialistas viram na radicalização assumida pela bancada do Chega na sessão comemorativa do 25 de Abril uma oportunidade para virar o jogo a seu favor.
A clarificação de Luís Montenegro –ao garantir numa entrevista à CNN não estar disponível para negociar com a extrema-direita uma solução de Governo – deixou os socialistas nervosos. Desde esse momento que praticamente todas as vozes socialistas que se ouvem na praça pública fazem questão de dizer que o líder do PSD não esclareceu as dúvidas e que se estará mesmo a preparar para entendimentos com o Chega. Do lado socialista não faltam guiões a explicar como é que o PSD deve agir e as ondas de choque causadas pelos protestos do Chega na receção ao Presidente brasileiro caíram que nem ginjas para dar força à estratégia.
Aos ataques ao PSD, o Governo somou dois argumentos de peso: o anúncio do aumento intercalar de pensões e a promessa de um alívio no IRS. Mas a verdade é que os desenvolvimentos da Comissão de Inquérito à TAP acabaram por estragar os planos da máquina socialista, enquanto Montenegro marcava pontos numa semana com grande exposição mediática.
Os tweets de Paixão Martins
Entretanto, Luís Paixão Martins abandonou definitivamente a reforma para se dedicar de alma e coração à tarefa de manter o PS no poder.
A atividade no Twitter, a rede social mais frequentada pela bolha mediática, é o motor de arranque privilegiado para pôr a circular mensagens estratégicas e Paixão Martins sabe usar este instrumento como poucos. Uma consulta às publicações das últimas semanas permite perceber a estratégia que está montada: realçar os méritos da ação de Ventura por oposição ao demérito da ação de Montenegro. Num dos tweets mais comentados, o responsável pela comunicação do PS publica o Top 10 dos protagonistas de notícias nas TV’s nacionais durante o mês de março, sublinhando o facto de Ventura estar na terceira posição, logo a seguir a Costa e a Marcelo, enquanto Luís Montenegro surge só em sexto lugar, atrás do ministro das Finanças e do ministro da Saúde.
Na reação à sondagem que coloca o PSD pela primeira vez à frente do PS, Paixão Martins vai buscar a métrica que mais convém à narrativa socialista. O especialista em comunicação realça que, na mesma sondagem, André Ventura surge como o político que mais se destaca na oposição ao Governo, deixando Montenegro numa posição mais recuada.
O guião é simples: dar o máximo protagonismo ao Chega, fazendo o contrário do que defendeu António Costa, que acusou a comunicação social de ser a principal responsável pelo destaque dado ao Chega. Ao fazê-lo, os socialistas sabem que desvalorizam Montenegro e o PSD, acusando os sociais-democratas de conivência com André Ventura.
Não passarão
Mas, para que o plano resulte, é fundamental que as acusações sejam acompanhadas de gestos e atitudes que demonstrem que só o Partido Socialista está em posição de defender o sistema.
E o grande interessado em assumir essa defesa é Augusto Santos Silva. O presidente da Assembleia da República, que quer um dia ser Presidente da República, não perde uma oportunidade para liderar o combate ao Chega. Foi o que aconteceu mais uma vez na sessão de acolhimento a Lula da Silva, onde fez questão de exibir uma grande exaltação com o comportamento do grupo de doze deputados que se senta à direita do hemiciclo.
O momento em que pareceu ter perdido o controlo foi seguido da decisão de excluir o Chega das viagens oficiais do presidente do Parlamento. Mais uma ocasião para mostrar os pergaminhos de defensor da democracia e deixar o Chega no centro das atenções, conseguindo mais uma vez o duplo objetivo de ganhar pontos junto da opinião pública à custa de um inimigo útil.
Com o que Santos Silva não contava era com a captação das imagens e do som de uma conversa em que o presidente da Assembleia se vangloria da sua atuação numa animada conversa com António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa. A ARTV, o canal do Parlamento, passou as imagens em direto e depois manteve-as no site, dando assim a oportunidade aos meios de comunicação social para divulgarem a conversa com as respetivas legendas.
O episódio incómodo acabou por estragar o efeito da ação de Santos Silva, que na mesma conversa comenta de forma depreciativa a posição assumida pela Iniciativa Liberal na receção a Lula, tudo em ambiente de grande galhofa, que acaba também por comprometer o Presidente da República.
As imagens foram retiradas e a ARTV acusada de falta de ética, mas o que é certo é que a sua divulgação acabou por estragar a encenação que o PS levou toda a semana a construir.
Carrilho ataca ‘abjecta hipocrisia’ de Santos Silva
Na sua página do Facebook, o antigo ministro da Cultura de António Guterres, Manuel Maria Carrilho, arrasa Santos Silva.
Sob o título ‘ABJECTAHIPOCRISIA’, em letras maiúsculas, Carrilho começa por referir: «As desculpas de Santos Silva sobre o episódio da gravação televisiva não autorizada em S. Bento trazem-me à memória o seu cobarde silêncio quando, sendo ele o socrático ministro que tutelava a Comunicação Social, eu fui objeto de uma atuação em tudo idêntica, depois de um debate na SICcom o meu principal adversário na disputa da presidência da Câmara de Lisboa».
E prossegue: «Na altura, o socrático ministro S.S. não viu nessa tramóia nada que, como agora se queixa, violasse a Constituição ou atentasse contra os direitos e a liberdade de um cidadão, apesar de igualmente filmado sem autorização e, neste caso, até pelas costas…».
Para concluir: «Por aqui, por esta óbvia e escandalosa duplicidade de critérios, se vê como a hipocrisia de S.S. não tem limites, confirmando a contumaz e abjecta hipocrisia dos seus grotescos atritos com o Chega, que nada têm a ver com o combate político, antes visam apenas encurralar o PSDreforçando o prórpio Chega, ajudar o PS e, claro, promover as suas ambições político-presidenciais».