CDS-PP dá prova de vida em Aveiro

Nuno Melo quis dar sinais de que o partido está vivo e recomenda-se. Dando abertura a entendimentos com PSD e IL, rejeitou que o Chega fosse um ‘aliado’ para construir alternativa.

O CDS-PP ainda não deitou a toalha ao chão. É essa a imagem que fica da tomada de posse dos novos órgãos da distrital e das concelhias de Aveiro do partido. O Pavilhão Polidesportivo Angeja, em Albergaria-a-Velha, na passada sexta-feira, teve casa cheia, contando-se na plateia cerca de 600 pessoas, entre autarcas, dirigentes, militantes e simpatizantes.

Em mais um esforço de manter as estruturas ativas e com dinamismo no plano nacional e local, o partido tem promovido eleições  internas em todo o país, quer no litoral como no interior, nos Açores e na Madeira, quer de órgãos concelhios, quer de órgãos distritais, tendo Aveiro sido o mais recente exemplo disso mesmo.

No distrito em que o próprio presidente do partido reconheceu ser o «pulmão do CDS-PP», Nuno Melo quis demonstrar que o partido está vivo.

«Enquanto por aqui e ali se diz que o CDS acabou, olhem bem para esta sala porque esta é a mensagem que nós queremos dar a Portugal», declarou, ao abrir o discurso, agradecendo o entusiasmo de alguns dos centristas que marcaram presença, como foi o caso de Pedro Morais Soares, secretário-geral do CDS-PP, Paulo Núncio, vice-presidente do partido, João Almeida, o antigo deputado à Assembleia da República eleito por Aveiro que chegou a disputar a liderança do partido, ou ainda Francisco Camacho, presidente da Juventude Popular.

Também a presença de Ribau Esteves, autarca que lidera a coligação PSD/CDS-PP na Câmara de Aveiro, não foi ignorada pelo líder centrista, prova da indubitável relação entre os dois partidos, mas também indício da disponibilidade para entendimentos à direita.

«O distrito de Aveiro representa muito do que queremos para Portugal», afirmou Nuno Melo, propositadamente ou não, aludindo à coligação Aliança com Aveiro, que reúne PSD, CDS-PP e PPM, e aos cenários que poderão funcionar também no plano nacional.

Na mesma semana em que os líderes do PSD e da Iniciativa Liberal (IL) almoçaram juntos, com a crise política como prato principal, o presidente do CDS-PP também quis dar um primeiro sinal de que está aberto a ter um lugar à mesa das conversações.

«O CDS-PP é uma direita democrata que está aberta a liberais e a conservadores, experimentada no governo – foram sete –, experimentada nas autarquias – são mais de 40 em coligação com o PSD, experimentada nos Açores e na Madeira – onde estamos nos respetivos governos –, experimentada e com provas dadas», referiu, dando nota de que o relacionamento entre os dois partidos não está dependente de almoços,  porque há uma gestão constante de mandatos comuns.

Nuno Melo quis também sinalizar outro ponto. Se do lado dos sociais-democratas o tema Chega é gerido com pinças, do lado do CDS-PP não há ponte possível para o diálogo com o partido de André Ventura, posição que é partilhada com a IL.

 «O nosso adversário é o PS e todas as esquerdas que apoiam o PS. Mas quem quer crescer a acabar com o CDS também não é nosso aliado», clarificou, referindo-se diretamente ao Chega.

Recuperando o episódio da sessão de boas-vindas ao Presidente do Brasil, Lula da Silva, na Assembleia da República, demarcou-se do «discurso inflamado» do Chega que classificou de «conversa de café».

«A direita conservadora não é aquilo que se viu na Assembleia da República no dia 25 de Abril. A direita conservadora tem doutrina e tem ideias, não é boçal. Tem sentido de Estado, é institucional, mesmo quando discorda», criticou, vincando que é necessário ser «cristalino» nesta matéria para obter resultados nas urnas.

E ainda deixou mais um recado: «Quando o presidente do PSD assume que não contará com o Chega para nenhuma solução de governo ou parlamentar, o que se percebe é que para uma verdadeira alternativa a António Costa e ao PS, o voto no Chega é um voto inútil e é um favor ao PS. Tudo o que António Costa quer é que esse partido cresça e que a direita se divida e não haja nenhuma alternativa».

Perante a resistência do Presidente da República em dissolver a Assembleia da República e em convocar eleições antecipadas, seja por razões de instabilidade ou porque Marcelo ainda não vê uma alteranativa à direita que não dependa do Chega, nas últimas semanas também têm sido várias as vozes que defendem entendimentos à direita entre PSD, IL e CDS-PP, deixando de fora o partido de André Ventura. Num comentário, na RTP, Miguel Poiares Maduro, ex-ministro de Passos Coelho, considerou que apenas uma solução «arriscada» como essa era capaz de demonstrar a Marcelo que «existia ali, sem depender do Chega, uma alternativa».

José Miguel Júdice tambémdeixou o mesmo conselho na SIC Notícias, acreditando que apenas «essa solução dará a muitos eleitores a esperança que as coisas possam mudar».