Comparações: produtivas ou improdutivas?

O sal da vida é construir um futuro melhor. E isso só se consegue quando se compara onde estamos, com de onde viemos e para onde vamos…

por Pedro Ramos

 

Nova Iorque, maio 2023

«A maior parte das pessoas morre aos 25 anos, mas não é sepultada até aos seus 75».
Benjamin Franklin

«A vida não examinada, não vale a pena ser vivida».
Sócrates

«O caminho de mil quilómetros começa com um só passo».
Lao Tzu

 

Queridas Filhas,

Dizem muitos que o segredo da felicidade é não fazer comparações. Mas, valerá a pena viver se eliminarmos completamente as comparações?

Há dois tipos de comparações: a comparação de nós com os outros; e a comparação do ‘eu’ de hoje com o ‘eu’ de ontem. A primeira é potencialmente perigosa, a segunda é muito útil.

Dizem-nos vários investigadores, incluindo Jonathan Haidt e Jean Twenge, que a comparação com outros, aumentando com a emergência com redes sociais como o Instagram, Snap e Facebook, despoletou um aumento forte de doenças mentais como depressão, e suicídio. As populações mais afetadas foram os jovens, em especial do sexo feminino. Eles alertam que a comparação da vida de cada um, com a vida aparentemente perfeita que os nossos amigos reportam nas redes sociais prejudica a nossa felicidade. O debate académico continua, mas a minha experiência pessoal confirma essa asserção.

Não quer isto dizer que todas as comparações com os outros são prejudiciais. Várias biografias são inspiradoras. Amigos e conhecidos nossos inspiram-nos a sonhar mais e aplicarmo-nos. Histórias de pessoas que começaram pobres, mesmo na miséria, mostram o que é possível fazer nesta vida: Andrew Carnegie, Oprah Winfrey, Larry Ellison, Bem Franklin, JK Rowling, entre muitos outros. Nasceram em famílias destroçadas e na pobreza e acabaram como algumas das mais ricas pessoas do mundo tendo transformado as suas indústrias. Qualquer um tem oportunidade de se juntar a esta lista.

Para lá chegar, cada uma destas pessoas procurou melhorar as suas capacidades e a sua condição todos os dias. Nessa caminhada, queriam sempre que hoje fosse melhor que ontem. Compararem onde estão hoje com onde estavam no mês passado, ano passado e década passada foi importante para os motivar e animar nessa caminhada.

Quem perde esta perspetiva de crescimento e melhoria diária, perde os seus sonhos. E quem perde os seus sonhos perde felicidade. No limite, pode até perder o gosto pela vida. Isso vê-se muito em países comunistas. Dado que quase tudo o que se faça não melhora a vida própria, as pessoas são apáticas. Para manter a obediência, a propaganda oficial cria inimigos internos e externos e um sentimento de perigo constante que reduzem as aspirações individuais a segurança e sobrevivência. Vemos isso na Coreia do Norte. Foi claro durante o governo de Mao com o ‘Grande Salto para a Frente’ e a ‘Revolução Cultural’. A Guerra Fria e os Gulags foram usados para o mesmo efeito pela União Soviética.

O Ocidente abraçou a economia de mercado, e criou sonhadores, empreendedores e líderes inspiradores. Este sistema acendeu um fogo criativo na humanidade sem paralelos históricos. Os USA são, segundo Warren Buffett, o melhor exemplo disso: um país de renegados que em menos de 250 anos se tornou líder mundial.

Claro que como qualquer sistema humano, os USA não criaram uma utopia. Houve muitos que ficaram para trás, e há ainda muita insegurança interna e internacional. Isto tem levado, e bem, a um maior foco nestes temas não só por líderes políticos, mas pela população em geral. O exemplo de Haidt e das redes sociais é um exemplo saudável deste diálogo necessário.

Mas corremos o risco de exagerar esta tendência e tornar a igualdade de resultados como valor absoluto. Nos países comunistas isso levou ao desespero, desanimo e perda de identidade. E nas economias de mercado esse foco excessivo em igualdade de resultados (em vez de igualdade de oportunidades) levará ao mesmo.

O filme Groundhog Day é um caso interessante. Quando o protagonista acordava sempre no mesmo dia, apesar de saber qual a melhor forma de obter aquilo que queria, ele não era feliz. Desesperado só sossegou quando saiu deste ciclo. O sal da vida é construir um futuro melhor. E isso só se consegue quando se compara onde estamos, com de onde viemos e para onde vamos…