Os portugueses estão a comprar menos em volume e a optarem por marcas próprias, mas a tendência é para se manter e, até mesmo, para crescer. Esta é uma das principais conclusões do estudo Redesenhar o futuro das marcas, realizado pela Centromarca, o que coloca vários desafios ao setor. «É possível aumentar a rentabilidade do retalhista, do fabricante beneficiando o consumidor. É o chamado triplo vencedor», revela ao Nascer do SOL, Nuno Fernandes Thomaz, presidente da associação.
O responsável diz que a ideia de avançar com este estudo deveu-se ao atual contexto que estamos a viver, lembrando que «nunca vivemos dois cisnes negros num espaço tão curto de tempo e estou a falar concretamente da pandemia e da guerra na Europa. Teríamos de recuar muitas centenas de anos para assistirmos a um fenómeno semelhante».
Uma situação que, de acordo com o mesmo, criou uma disrupção das cadeias, seguido por uma crise inflacionista. «Os consumidores começaram a sentir uma redução do poder de compra, até porque a inflação apareceu de repente, com força e a reposição salarial ainda é insuficiente». A somar a isso há que contar ainda com o aumento das taxas de juro que penalizou quem tem crédito habitação, tornando os orçamentos familiares cada vez mais apertados e isso refletiu-se no padrão de compra do consumidor.
Todos estes fatores levaram «a uma quebra de vendas em volume, porque o consumo caiu, apesar dos números finais das empresas não refletirem essa redução. Mas é certo que os portugueses começaram a consumir outro tipo de categorias, deixando de consumir determinados produtos para passarem para outros mais baratos e se este fenómeno já estava a crescer, agora agudizou-se de uma maneira dramática e que passou pela transferência do consumo de marcas de fabricante para marcas próprias», salienta Nuno Fernandes Thomaz.
No entanto, aproveita para destacar a sua importância: «As marcas dos fabricantes são quase uma garantia de estabilidade, representam um pilar de liberdade de escolha para os consumidores».
A par do preço que dita a decisão de compra, o estudo conclui ainda que já se começa a assistir a um abrandamento do comércio online, que registou um crescimento muito grande na altura da pandemia com o peso da venda a regressar às lojas físicas. Por outro lado, assistimos à redução da cesta. «Na pré-pandemia faziam-se várias compras e íamos a muitas lojas, depois com a covid e por uma questão de saúde pública, o consumidor só ia a uma e comprava tudo. Agora por causa da inflação e da redução do poder de compra adquire menos produtos», refere o presidente da Centromarca.
E as alterações não ficam por aqui. Também a demografia e como consequência o envelhecimento da população começa a ter um forte impacto na configuração do mercado e mais recentemente, as populações imigrantes que também começam a refletir o seu padrão de consumo.
Desafios pela frente
Perante este cenário, Nuno Fernandes Thomaz, diz que não só os fornecedores como também o próprio retalho devem ser mais ágeis, no que diz respeito ao preço, à promoção e à proximidade. «Essa é uma recomendação clara que resulta deste estudo, não esquecendo, ao mesmo tempo, que é fundamental inovar e comunicar. Costumo dizer que se uma marca não inova nem comunica está-se a branquear».
Outra recomendação diz respeito à necessidade de reter talentos, apesar do responsável reconhecer que este é um problema transversal a todos os setores. «É muito difícil reter talento e preparar as equipas para o que virá a seguir que é uma recuperação do mercado. Isto é o mercado a voltar a enfrentar tempos mais simpáticos».
Também o tema da sustentabilidade não pode ficar para trás, como reconhece o presidente da Centromarca. «Não é por, num determinado momento, o consumidor ter deixado de dar importância à sustentabilidade que esse tema fugiu. E aí também deverá haver um esforço por parte dos fornecedores, em oferecer os melhores produtos sustentáveis, mas a preços mais acessíveis».