A Organização para a Cooperação e do Desenvolvimento Económico (OCDE) deixou o aviso: quem tem empréstimos bancários para pagar pode contar com algumas dificuldades este ano. Em causa estão as subidas das taxas de juro levadas a cabo pelo Banco Central Europeu (BCE) para combater a inflação.
Ao Nascer do SOL, Paulo Rosa, economista do Banco Carregosa diz que «apesar da forte desaceleração da inflação em maio na Zona Euro, o BCE continua empenhado na alta dos juros, sendo ainda esperadas pelo menos mais duas subidas de 25 pontos base das suas taxas de juro de referência nas próximas reuniões». Só que deixa alertas: «Juros cada vez mais elevados implicam um esforço acrescido das famílias com créditos à habitação aquando da revisão do mesmo», diz ao nosso jornal.
O economista detalha ainda que «como os créditos à habitação são sobretudo indexados à Euribor a três, 6 e 12 meses, mesmo que o BCE inicie uma reversão da sua atual postura monetária restritiva no final de 2023 ou início de 2024, a revisão das taxas de juro implícitas aos créditos só acontecerá mais tarde, a três, 6 e 12 meses, e só nessa altura as famílias sentirão um alívio». Por isso, acrescenta, «até lá a vida de alguns agentes económicos não vai ser fácil, diminuindo também o rendimento disponível, concorrendo também para menos consumo, menos vendas das empresas e contração económica».
Já Carla Maia Santos, Head of Sales da Forste, defende que os alertas da OCDE servem para perceber que a organização «não espera que o BCE avance com reduções nas taxas de juro no próximo ano de 2024, ou a existir, sejam expressivas». E acrescenta que se espera assim «que as prestações dos créditos se mantenham muito mais elevadas do que as que os contraentes de crédito estavam habituados, nos últimos anos, em que as taxas de juro apresentaram mesmo valores negativos».
E daqui para a frente?
Questionado sobre o que o BCE deverá fazer daqui para a frente, Paulo Rosa defende que «perante a visível tendência de abrandamento da inflação, sobretudo em maio, o BCE deveria olhar cada vez mais para a economia e não apenas focar-se na inflação». E o economista explica esta sua opinião: «Em boa verdade, a trajetória dos preços no consumidor parece cada vez mais controlada e cresce o número de dados macroeconómicos desfavoráveis, ameaçando a economia com uma recessão». Assim, acrescenta, «diante de uma inflação cada vez mais recessiva, o BCE deveria pausar a alta dos juros. Cresce a probabilidade de o BCE errar por excesso de zelo nos sucessivos aumentos das taxas de juro, podendo essa postura energicamente restritiva culminar numa recessão», alerta.
Já Carla Maia Santos defende que as decisões do BCE vão sempre depender da taxa de inflação. «Se virmos a inflação da UE a abrandar continuadamente, poderemos ver o BCE a reduzir as taxas de juro e aí teremos uma ‘lufada de ar fresco’ na economia e nos investidores». Se tal não acontecer, «a apreensão em relação ao crescimento das economias pode continuar».
A especialista é da opinião de que este alerta da OCDE «faz com que as expectativas de crescimento sejam revistas em baixa, levando a que qualquer dado mais positivo sobre a inflação e taxas de juro tenham também um impacto mais positivo no sentimento económico».
Por sua vez, Vítor Madeira, analista da XTB, diz que se espera que a taxa de juro continue a escalar 25 pontos base nas próximas duas reuniões do banco central e «posteriormente a taxa deverá ficar estabilizada nos 4.25% e só quando houver sinais claros de que a inflação irá regressar para os 2% é que o BCE deverá começar a descer as taxas, portanto não deverá ser expectável que a taxa desça antes de 2024».