E se começássemos a mudar?

Não temos razões para estar satisfeitos e muito menos razões temos para aceitar de ânimo leve a forma displicente como os responsáveis pelos partidos políticos (não) pensam e (não) debatem os temas centrais ao desenvolvimento da economia e da sociedade portuguesa. 

É absolutamente evidente a fragilidade dos resultados das políticas económicas e sociais que em Portugal se tem tentado desenvolver. 
É absolutamente claro para todos que a taxa de desenvolvimento e crescimento económico que Portugal foi alcançando, é substancialmente inferior aos níveis atingidos por outros países, de várias localizações no mundo e com particular surpresa por países europeus que se encontravam há poucas décadas substancialmente atrás.

Não temos razões para estar satisfeitos e muito menos razões temos para aceitar de ânimo leve a forma displicente como os responsáveis pelos partidos políticos (não) pensam e (não) debatem os temas centrais ao desenvolvimento da economia e da sociedade portuguesa. 

Falava, um destes dias, com um conjunto alargado de jovens empreendedores, altamente formados em universidades de topo, com projetos de ciência e tecnologia avançada desenvolvidos pelas startups das quais são fundadores. Uma proporção significativa desses jovens tinham, a dada altura e recentemente, vivido em Portugal tentando desenvolver o projeto em Portugal. Escolheram Portugal pelas boas campanhas que internacionalmente são feitas e que de algum modo, na senda da Websummit, colocam o nosso país num aparente patamar de destino fértil para o desenvolvimento de startups de base tecnológica. O presidente da Câmara de Lisboa ao prometer uma ‘fábrica de unicórnios’ reforça, de forma, todos diriam, altamente credível, essa expectativa. A essa expectativa, adiciona-se um clima fabuloso, uma gastronomia de excelência, um povo simpático e uma declarada urbanidade com altos níveis de segurança.
Todos eles seguiram e acreditaram nessa mensagem. Contudo, todos eles decidiram passado algum tempo deixar de viver em Portugal. Do ponto de vista da gestão do negócio e respetivo desenvolvimento económico ficaram profundamente surpreendidos com o exagero e demora associados ao processo burocrático, assim como não acolheram os níveis de tributação e impostos aplicados. Além disso não sentiram que fosse assim tão seguro como é largamente anunciado. É evidente que temos um longo e difícil trabalho de alteração de paradigma se quisermos efetivamente outros níveis de performance económica e de riqueza.

Se traduzirmos a realidade anterior para uma análise política chegamos a uma conclusão simples. Portugal tem excesso de instituições públicas a quem é necessário pagar e que consequentemente oneram o Orçamento do Estado que por sua vez assenta na cobrança de impostos que tendencialmente tem vindo a crescer de forma muito significativa. Essas instituições e respetivo modelo de funcionamento não estão vocacionados para promover e acelerar as atividades económicas e servirem adequadamente, em tempo útil e de forma eficiente, o contribuinte e o cidadão. Esta é uma evidente fórmula de estagnação.

Em Portugal há excesso de atores para quem a comunicação, mediatismo e a criação de expectativas sobrepõem-se à concretização de obra e ao honrar da palavra dada.
A consciência da inadequabilidade deste modelo constitui argumento suficiente para trabalharmos na mudança de paradigma cultural. Sem estratégia e com o debate político sempre à volta de pessoas e casos, perdemos gradualmente a noção do rumo que já tivemos. A fatura cresce todos os dias e todos os dias se insiste em perder tempo com matérias altamente desinteressantes e de má-língua. Importante, importante é a indemnização de Alexandra Reis e quem decidiu telefonar ao SIS…
Mau demais.