Efacec: Uma história de muitos milhões até ser vendida

Sempre foi uma empresa na vanguarda na área para a qual atua mas passou por muitas mudanças ao longo dos anos, que culminaram em anos de prejuízos e em ter caído nas mãos do Estado. Para já há uma tentativa de venda falhada e outra ainda nas mãos de Bruxelas.

Depois de muito impasse e uma história de avanços e recuos, a Efacec foi finalmente vendida à alemã Mutares e, apesar do negócio já ter sido anunciado, é preciso ter em conta que ainda pode cair por terra, uma vez que precisa do aval da Comissão Europeia. O Governo não revelou o valor da venda, mas deixou a garantia de que apenas a proposta alemã apresentava o maior mérito. «O que seduziu, quer a equipa da Parpública, quer depois o Governo foi o projeto industrial e o projeto tecnológico que a Mutares identifica para a Efacec», disse António Costa Silva, ministro da Economia.

A empresa portuguesa regista prejuízos há quatro anos e a sua produção caiu para metade, tendo precisado de várias injeções do Governo. Até agora, recebeu 217 milhões de euros divididos entre injeções de capital e garantias mas a verba vai novamente aumentar até que a Efacec seja oficialmente vendida, uma vez que, o Estado terá de continuar a colocar mais de 10 milhões de euros por mês para garantir a sobrevivência da empresa.

Costa Silva disse que as garantias de 85 milhões de euros incluídas na injeção que o Estado não foram acionadas e espera que tal não venha a acontecer. «As garantias não foram acionadas e esperamos que não sejam. O objetivo é o Estado recuperar [o valor investido] e ao mesmo tempo manter a empresa», disse o ministro em entrevista à RTP3.

Sobre a Mutares, defendeu que «os negócios não são para se fazer num bazar, na praça pública» e que é uma «grande empresa tecnológica», que se articula com toda a cadeia no mercado português.

Quem também se pronunciou sobre o assunto foi o grupo José de Mello, que detém uma posição minoritária na Efacec e diz estar a aguardar o «desfecho formal» do processo de venda da participação de 71,73% do Estado à alemã Mutares para «perceber os próximos passos», garantindo ainda aceitar o facto de não estar envolvido nas negociações. 

 

Avanços e recuos

Nacionalizada em 2020, a Efacec conta já até essa altura com dezenas de anos de história. É uma empresa ligada às da áreas energia, indústria e mobilidade e foi nacionalizada, após vários meses de indefinição por causa da então principal acionista, Isabel dos Santos.

Sedeada na zona do Porto, mas com presença em vários países teve de ser nacionalizada para que pudesse ser salva. «A decisão foi tomada porque a Efacec se encontra em situação de grande impasse acionista, desde que, no final do ano passado, foi decretado o arresto» da participação social de Isabel dos Santos, chegou a dizer na altura o então Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital, Pedro Siza Vieira, depois de o Conselho de Ministros ter aprovado um um decreto lei que nacionalizava 71,73% do capital da Efacec, a participação detida por uma empresa indiretamente controlada por Isabel dos Santos. 

O ministro afirmava que a nacionalização tinha como objetivo «resolver o impasse acionista», tendo o Governo deliberado também «iniciar o processo de reprivatização da empresa», havendo então já interessados em comprar as ações agora nacionalizadas.

Antes disso, a Efacec tinha então anunciado que Isabel dos Santos saía do capital da empresa de forma definitiva. Mário Leite da Silva e Jorge Brito Pereira também renunciaram aos cargos na empresa. Esta foi uma decisão tomada na sequência das revelações do Luanda Leaks e da empresária angolana ter sido constituída arguida em Angola. Cinco anos antes, a empresária tinha comprado 66,1% da Efacec Power Solutions ao grupo José de Mello e à Têxtil Manuel Gonçalves, que se tornaram acionistas minoritários. O negócio aconteceu quando a Efacec estava a passar por dificuldades e foi de cerca de 200 milhões de euros.

Mas antes disto, a empresa passou por outras mãos. A história ruma a 1905 com a fundação da ‘A Moderna’ Sociedade de Serração Mecânica, que em 1921 dá origem à Electro-Moderna, Lda., empresa já dedicada à produção de motores, geradores, transformadores e acessórios elétricos e onde se criaram as competências necessárias para suportar os desenvolvimentos futuros do que viria a ser a Efacec.

Em 1948, segundo o site da empresa, foi constituída como EFME – Empresa Fabril de Máquinas Eléctricas, SARL, dando origem ao nascimento da marca e do projeto Efacec. O capital da empresa estava então distribuído entre a Electro-Moderna, com 20%, os ACEC – Ateliers de Constructions Électriques de Charleroi com igual valor, a CUF – Companhia União Fabril com 45%, estando os restantes 15% distribuídos por outros acionistas.

Depois de várias alterações na distribuição do capital, nomeadamente pela saída da CUF, os ACEC passaram a ser acionistas maioritários.

Só em 1962 nasce o nome Efacec, altura em que se inicia um período de crescimento e no final dessa década a empresa tornou-se «umas das primeiras empresas portuguesas cotadas na Bolsa de Valores de Lisboa». 25 anos depois, os ACEC deixa de ser sócio maioritário.

Depois, em resposta à crise, a Efacec adota um novo posicionamento que culmina com o redimensionamento da sua estrutura internacional e na simplificação do portfolio. E passa a chamar-se Efacec Power Solutions, SA, que foi constituída a 14 de agosto de 2014, «tendo como objeto a gestão de participações sociais como forma indireta de exercício de atividades económicas».

Recorde-se que, depois de ter passado para as mãos do Estado, a primeira tentativa de venda da Efacec foi em 2021 mas falhou porque a Comissão Europeia considerou que estava em causa um auxílio de Estado. Para ficar com a Efacec, a DST, empresa de Braga, pedia um empréstimo de 100 milhões de euros com garantia pública e Bruxelas entendeu que essa ajuda violava as leis da concorrência. O negócio caiu.