Auditora PwC debaixo de fogo

A PwC está envolvida num escândalo desde fevereiro, na Austrália. Governo já suspendeu quaisquer relações entre entidades estatais e a consultora e diz que outros países devem avançar com as suas próprias investigações.

A PwC está envolvida num escândalo desde fevereiro, quando o Tax Practitioners Board – Conselho dos Profissionais Fiscais, ou seja, o órgão fiscalizador do setor – na Austrália, baniu Peter-John Collins, ex-chefe de impostos internacionais da PwC na Austrália, por partilhar informações com outros funcionários da auditoria de reuniões confidenciais com o Tesouro sobre novas leis destinadas a controlar a evasão fiscal.

De acordo com o Financial Times, em maio, o líder da consultora renunciou ao cargo executivo três dias depois de admitir que recebeu emails com informações confidenciais do Governo sobre mudanças nas leis de evasão fiscal, tendo-as usado para aconselhar clientes a contorná-las. 

De acordo com a mesma publicação, esta fuga de informação fiscal está a fazer com que vários clientes de peso no país estejam a reavaliar as suas relações com a consultora.

Os emails divulgados no Senado mostram que a PwC usou indevidamente informações confidenciais fornecidas por Collins, que assinou acordos de confidencialidade, para aconselhar os seus clientes e conquistar novos negócios.
As implicações não se fizeram esperar e a fuga de informação fiscal com origem na PwC australiana está a fazer com que vários clientes de peso no país estejam a reavaliar as suas relações com a consultora. Um deles é o fundo de pensões AustralianSuper, que conta com três milhões de associados. Segundo o Financial Times, o fundo anunciou que iria reavaliar este ano o contrato que tem com a auditora depois deste escândalo. Também o Governo australiano denunciou a PwC às autoridades e suspendeu quaisquer relações entre entidades estatais e a consultora e pediu uma investigação internacional sobre o assunto.

O senador australiano Richard Colbeck admitiu mesmo que as informações divulgadas até o momento mostram que o escândalo se «estendeu-se internacionalmente» e revelou que os outros países deveriam iniciar suas próprias investigações, revelou a Reuters.

A consultora, depois de o escândalo ter rebentado em maio, já suspendeu nove quadros dirigentes da empresa.
Este apelo ganha maiores contornos quando a PWC audita as contas dos quatro maiores bancos privados em Portugal: Santander, BCP, BPI e novobanco. Contactados pelo Nascer do SOL sobre esta questão, nem o Ministério das Finanças, nem o Banco de Portugal prestaram qualquer esclarecimento quanto a esta polémica. Também a Associação Portuguesa de Bancos não quis prestar nenhum comentário, referindo que a matéria não diz respeito ao setor em Portugal.

Conflitos de auditoras

Estas polémicas não são novas. Já em 2018, a Comissão de Valores Mobiliários da Índia (SEBI, na sigla em inglês) apertou o cerco à PricewaterhouseCoopers (PwC) por não ter detetado um esquema de fraude em torno de um gigante de software indiano. Como consequência, além de não poder auditar durante dois anos as empresas cotadas nesse país, os administradores foram alvo de um processo criminal. 

O caso ocorreu em 2009 e envolveu a quarta maior empresa de software indiana. O presidente da gigante Satyam Computer Services, Ramalinga Raju, passou anos a falsificar as contas da empresa. Um caso de fraude contabilística no valor de 2.250 milhões de dólares (cerca de 2 mil milhões de euros), que escapou à ‘vigilância’ da PwC, que não detetou o esquema.

De acordo com Raju, 94% do dinheiro que constava nas contas da empresa foi inventado.
O caso chocou o mercado, já que a Satyam era vista como uma das mais importantes empresas de tecnologia do país e o seu presidente e fundador como um grande empreendedor.

Já no ano passado, a KPMG foi sancionada no Reino Unido, pelo britânico FRC – Financial Reporting Council, com uma coima de 4,5 milhões de libras (cerca de 5,3 milhões de euros) por causa de falhas na auditoria ao grupo Rolls-Royce em 2010.

Em causa estava uma investigação iniciada pelo FRC em 2017 sobre o comportamento da KPMG na auditoria ao grupo Rolls-Royce entre os anos 2010 e 2013. As falhas de auditoria dizem apenas respeito ao exercício de 2010, quando a Rolls-Royce fez pagamentos a intermediários na Índia, que levaram a fabricante britânica a ser acusada de suborno e corrupção por parte do Serious Fraud Office, culminando com o pagamento de multas pesadas.

Já este mês, a KPMG deixou de prestar serviços de auditoria à Herbalife e à Skechers na sequência de um escândalo envolvendo um dos seus auditores, que admitiu ter divulgado informação privilegiada a troco de dinheiro e ofertas.

De acordo com o Wall Street Journal, o antigo auditor da KPMG Scott London – responsável pelas contas da Herbalife e da Skechers – foi despedido e mais tarde admitiu estar «arrependido de ter revelado dados confidenciais a terceiros». E referiu que as fugas de informação «começaram há alguns anos atrás», mas a KPMG «não teve qualquer responsabilidade» nas suas ações.

De acordo com o mesmo jornal, nem a KPGM nem Scott London divulgaram quem recebeu as informações confidenciais por parte do auditor, mas fonte próxima do processo revelou não se tratar de nenhum fundo ou investidor profissional e que as investigações surgem após críticas generalizadas por parte de reguladores e investidores relativamente à incapacidade demonstrada pela auditora em detetar problemas nos grandes bancos e empresas financeiras nos anos que antecederam a crise financeira.

Depois de ter abdicado das contas da Herbalife e da Skechers, a KPMG disse deixar de se responsabilizar pelos resultados financeiros apresentados nos últimos três anos pela empresa de nutrição e nos últimos dois anos pela fabricante de sapatos.