A longa sesta prejudica

Numa fase de tal desgaste e descrédito do Governo socialista o PSD tinha a obrigação e a responsabilidade histórica de apresentar de forma credível e eleitoralmente atraente.

por Eduardo Baptista Correia

Os temas que o Governo socialista apresenta aos portugueses constituem a demonstração da fragilidade política em que nos encontramos. Nos últimos meses foi particularmente visível a falta de preparação técnica, profissional e política de vários membros do governo bem como de vários membros das comissões parlamentares de inquérito.

O caso TAP, com as suas diversas nuances, o caso do computador do adjunto do ministro, as demissões encenadas e não aceites, os comentários nem sempre percetíveis do Presidente da República, a viagem a Budapest do chefe do governo e por fim a sua eventual candidatura à chefia da Europa são as matérias em debate. Se analisarmos com atenção nenhuma delas é importante para a resolução do impasse estratégico e civilizacional em que Portugal se encontra. Nenhuma contribui para a melhoria das condições de vida dos portugueses. Nenhuma se foca nos problemas que afetam o funcionamento da economia, da educação, da administração pública, da saúde, da burocracia, da justiça. Nenhuma!

Qualquer uma, num país alinhado, com direção e trabalho para fazer, seria tema menor e de resolução natural. O gradual afastamento da política portuguesa dos valores cívicos, éticos e meritocráticos está na base da permissividade, incompetência, falta de direção e objetivos que a caracterizam e que naturalmente circunscrevem, regra geral, o debate a este nível.

Uma vez mais insisto em criticar e chamar à atenção o PSD por seguir este tipo de agenda. Numa fase de tal desgaste e descrédito do Governo socialista o PSD tinha a obrigação e a responsabilidade histórica de apresentar de forma credível e eleitoralmente atraente, as causas e o plano para a resolução do impasse em que a sociedade portuguesa se encontra. Andar atrás da agenda socialista não só não resulta como descredibiliza. Não posso, aqui, deixar de lembrar a forma clara e frontal como Luís Montenegro foi reclamando com Rui Rio, por situação idêntica, mas efetivamente com os socialistas, na altura, muito menos desgastados e muito menos descredibilizados. A dureza da realidade mostra que a atual direção do PSD não está capaz de colocar o PSD no patamar que a história dele exige.

Restam três atitudes possíveis que exponho por ordem decrescente de preferência:

1. O PSD cria agenda própria à volta das principais causas e objetivos para Portugal, estabelecendo bandeiras de uma social democracia contemporânea. Objetivos como país mais cívico, ético e meritocrático da Europa. País mais limpo da Europa, melhor sistema de ensino publico da Europa e redução da carga fiscal constituem bons exemplos de áreas de atuação. Por fim, o PSD deve também distinguir-se pela sua matriz laboral, focando nas obrigações e contributos de cada um para uma sociedade mais desenvolvida, inovadora, tecnológica, equilibrada, tolerante, ambiciosa e meritocrática.

2. Apesar do trabalho e do entusiasmo que carrega, os resultados na carga empática com os portugueses são fracos e a atual direção conclui não ter a capacidade de alterar o status quo. Nessa sequência demite-se, dando lugar a um debate alargado para a construção de uma solução que coloque rapidamente o PSD no lugar que a sua história e a degradação da economia portuguesa exigem.

3. Mantemos como está, à espera que alguma coisa de extraordinário, e que efetivamente não dominamos, se encarregue milagrosamente de nos entregar o poder.

Receio que a minha ordem de preferência esteja muito desalinhada com o status quo e que por apatia continuada se acrescente mais um aos vários ciclos de atraso.

A longa sesta do PSD prejudica o país.