Desemprego em baixa, falta de mão-de-obra em alta

A taxa de desemprego baixou para 6,4%, o que leva os empresários a não saberem onde podem ir buscar os trabalhadores em falta. Falta de mão-de-obra já condiciona atividade.

A taxa de desemprego terá baixado para 6,4% em maio, depois dos 6,5% registados em abril, segundo os dados provisórios divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). «A taxa de desemprego situou-se em 6,4% em maio, valor inferior ao de abril e ao de fevereiro de 2023 (0,1 p.p. e 0,5 p.p., respetivamente), mas superior ao de maio de 2022 (0,4 p.p.)», destaca o gabinete de estatística.

Olhando para a população empregada – que chegou aos 4 931,8 mil -, esta registou uma variação relativa positiva em relação ao mês anterior (0,1%), relativamente a três meses antes (0,3%) e a um ano antes (1,3%).

Já a população desempregada (338,6 mil) diminuiu em relação ao mês anterior (1,7%) e a três meses antes (6,4%), tendo aumentado relativamente ao mês homólogo (8,5%).

Por sua vez, a população inativa (2 416,8 mil) registou crescimentos em relação ao mês anterior e a três meses antes (0,1% e 0,2%, respetivamente) e um decréscimo por comparação com o período homólogo (2,5%).

E a população ativa (5 270,4 mil) diminuiu em relação ao mês anterior (correspondendo a uma variação relativa quase nula) e 0,1% por comparação com fevereiro de 2023, tendo aumentado 1,7% relativamente a maio de 2022.

Por fim, detalha o gabinete de estatística, a taxa de subutilização do trabalho situou-se em 11,9%, o mesmo valor que o do mês anterior, inferior em 0,2 p.p. ao de três meses antes e superior em 0,4 p.p. ao do mesmo mês de 2022.

Em relação a estes dados, a análise da Randstad é clara: Portugal alcançou recorde no número de pessoas empregadas. A análise olha não só para os números do INE mas para os do IEFP e revela que o mês de maio registou um aumento de 4.100 pessoas empregadas face ao mês anterior. «Assim, o número de pessoas empregadas foi recorde e situou-se nos 4.931.800 profissionais. Relativamente ao período homólogo, verificou-se também uma subida de 62.500 pessoas empregadas», detalha.

Já em relação à população ativa, registou-se uma queda de 1.800 pessoas, que «foi resultado do decréscimo mensal de 5.900 pessoas desempregadas ser superior ao aumento de 4.100 pessoas empregadas, tendo correspondido a taxa de desemprego a 6,4%, a mais baixa desde outubro de 2022».

Em termos interanuais, analisa a Randstat, registou-se um aumento de 62.500 profissionais – +1,3% – no número de empregados relativamente a maio de 2022. Também, neste período, a população ativa aumentou em 89.200 pessoas, alcançando os 5.270.400 ativos. Já o desemprego cresceu em 26.600 pessoas face a maio de 2022, estimando-se um total de 338.600 mil pessoas desempregadas em Portugal.

E salienta que, no mês passado, «a diminuição do desemprego verificou-se tanto na população feminina como na masculina. Relativamente ao número que corresponde ao género feminino, 2.800 mulheres, valor que corresponde a -1,6%, deixaram de estar em situação de desemprego. Quanto ao género masculino, foram 3.100 homens, que equivale a 1,9%, que deixaram de estar em situação de desemprego».

O estudo dá ainda conta de que os pedidos de emprego diminuíram em maio, em 7.442, assim como os desempregados registados,  menos 9.567 pessoas em relação ao mês anterior.

 

Dor de cabeça para empresários

«Segundo os dados registados pelo IEFP, em maio, 285.855 pessoas encontravam-se desempregadas. Este é o número mais baixo para o mês de maio de toda a série histórica estatística apresentada pelo IEFP desde o ano de 2003. Apesar deste dado, a diminuição mensal do desemprego em -9.567 pessoas foi a menor desde o ano 2010, excluindo o aumento do ano 2020», comenta Isabel Roseiro, diretora de marketing da Randstad. 

Enquanto a taxa de desemprego continua a bater mínimos, os empresários vêm-se a braços com a falta de mão-de-obra. O  presidente da Associação Industrial Portuguesa (AIP), já tinha admitido que a falta de mão-de-obra já está a condicionar a atividade produtiva e é um fenómeno que afeta todos os setores da economia nacional. Ao Nascer do SOL, José Eduardo Carvalho revelou  que esta «situação resulta da conjugação de três fatores: crescimento económico, alteração do perfil da economia portuguesa e saída de Portugal dos trabalhadores qualificados».

E essa falhas estão, no seu entender, a levar a uma maior pressão salarial. «É a consequência natural do funcionamento do mercado laboral. Não é necessária a intervenção do sistema político para os fazer crescer», enquanto se assiste, ao mesmo tempo, a «uma necessidade do redimensionamento empresarial. Só empresas com maior dimensão e escala poderão pagar melhores salários».

 Uma realidade também já foi reconhecida pelo presidente da AEP, que, ao nosso jornal, chegou a admitir que a dificuldade de contratação de mão-de-obra qualificada é uma das principais preocupações dos empresários, logo a seguir à inflação elevada e ao aumento dos custos com a energia. «O mercado de trabalho é um enorme desafio. À cabeça está a falta de mão de mão-de-obra, que tende a agravar-se no contexto de uma dinâmica demográfica adversa, vincada pela alteração da pirâmide etária – estreitamento da base e alargamento nas idades mais avançadas».

E deu exemplos: «O índice de envelhecimento subiu mais de 140% e o índice de rejuvenescimento da população ativa agravou-se de forma significativa. Potencialmente por cada 100 pessoas que saem do mercado de trabalho, apenas ingressam 76, muito abaixo do valor que permite assegurar a reposição da população em idade ativa». O que leva Luís Miguel Ribeiro a afirmar que «são estatísticas que devem preocupar toda a sociedade, que exigem reflexão, mas, sobretudo, uma ação imediata».