Por Raquel Abecasis
{relacionados}
Como olha para este nosso cenário político atual? Já disse há bocado que toda a gente tem medo de eleições, mas…
O nosso cenário político atual é fruto de um caminho errado. Foi um erro tremendo por parte dos partidos políticos de direita terem-se comprometido todos a caminhar para o socialismo. E por isso é que agora, em 2023, toda a gente, incluindo o PSD e o CDS, fazem linhas vermelhas. O Chega é a direita em Portugal. Eu sou de direita, não sou do centro. Não acho que as pessoas ganham ao centro. Isto é um perigo.
Mas tem consciência de que o país não é de direita?
Não é um país de direita porque o Dr. António Costa, que agora é criticado por toda a gente, já prometeu que em setembro vai abrir os cordões à bolsa e distribuir 100 por cada um. Já começou a ameaçar os reformados a ter 50, e assim ganha outra vez as eleições. O que é que eu quero dizer com isto? É que a grande massa da sociedade portuguesa está viciada.
Pelos vistos, compensa essa distribuição?
Sim, exatamente. Portanto, isto é compra de votos ao fim e ao cabo. Se um partido de direita fizesse isto, isto era nazi-fascismo. O dr. António Costa disse que aquilo era fascismo (a manifestação dos professores), tirou a razão aos professores. Se verificar, houve milhões de portugueses que estiveram a combater desde 1961 até 74 em África, na Índia, em Timor, etc. E nas nossas colónias. E, de repente, somos esclavagistas. Um colonizador tem que pedir desculpa, tem que devolver a Angola, Moçambique, Guiné, todas as peças de arte que trouxeram de lá. Eu pergunto, não é isto uma desconsideração para com as centenas de mortos e uns milhares de estropiados física e mentalmente, que ainda estão vivos? A minha geração combateu em África.
Mas o país do pós-25 de Abril esqueceu todas essas pessoas.
Pois, porquê? Porque os partidos políticos se calhar não os representam. O tal centrão dos interesses não os representa. É por isso que as CPI, da TAP, do BPN, do Banif não têm seguimento nenhum.
Mas, no entanto, são os partidos do centro, PS e PSD que continuam a concentrar a maioria dos votos?
Lamento imenso por isso. Agora, qual é a solução senão praticarmos a democracia? E a democracia deixa de ser viável se nós não tivermos eleições. Se não arranjamos uma lei eleitoral que seja representativa das pessoas, se continuarem a ser as direções partidárias a escolher os deputados… E depois dizem-nos que os deputados vão votar em consciência? Se eu não sei minimamente quem eles são. Como é que posso ter acesso à consciência deles? Isto é uma coisa absolutamente abstrusa. E, se alguém diz isto, é fascista, reacionário, xenófobo.
Portanto, acha que vivemos uma imposição de pensamento único?
Acho. Se eu não for a favor dos homossexuais, das lésbicas, dos trans, dos mais não sei quantos, sou um tipo problemático, antiliberal. Se eu sou católico apostólico romano, não pode ser.
Acha que as liberdades estão postas em causa, incluindo a liberdade religiosa?
Sim, estamos perante uma restrição. Por exemplo, li hoje que o próprio Hemingway está a ser censurado por umas equipas que leem os romances. A Inquisição fazia a mesma coisa.
E como é que acha que isso se explica numa sociedade que se diz moderna, no século XXI?
Os Estados Unidos estão completamente nisto? Os ingleses também. E os franceses também. Modas sempre existiram, mas não esta cultura inquisitorial. Vai ter isso agora do Monumento dos Descobrimentos. Agora, nós não descobrimos coisa nenhuma, fomos lá escravizar e invadir. Há dois ou três dias houve um seminário na Sorbonne que foi interrompido por ativistas. O que é que eles estavam a tratar? Estavam a tratar das consequências jurídicas, sociológicas e psicológicas da ideologia de género. Mas isto é uma coisa séria. Quer dizer, os filósofos, os juristas, do ponto de vista científico, têm de tratar destas coisas. Foram interrompidos porque eram homofóbicos e não os deixaram dissertar. Mas chegamos a este ponto. Como é que eu vou explicar? Por exemplo, o clero católico é pedófilo. Mas o professor Boaventura Sousa Santos teve lá uns problemas sem importância. Aí a gente tem imensa responsabilidade, porque a Igreja em Portugal sempre fez o que a deixaram fazer, e sempre deixou fazer o que lhe fizeram. Não falo só da esmagadora maioria da população, mas mesmo as elites, desde o século XIX, desde 1820, que foi difundida uma cultura anticlerical. Se calhar, com muitas razões.
Influência francesa?
Provavelmente.