Por Eduardo Baptista Correia
Ao aproximarem-se as eleições europeias, uma série de comentadores começaram já a especular sobre nomes para encabeçarem as listas a essas eleições. Considero esta forma de tratar tão importantes atos, como o primeiro sinal de desrespeito pela importância, não tanto ao ato eleitoral em si, mas ao que efetivamente está em jogo: o desempenho de uma função extremamente importante para o futuro do ecossistema, dos cidadãos, dos eleitores e da sociedade civil.
A ligeireza como são tratadas as candidaturas desvaloriza a função política e estabelece, em minha opinião, o primeiro ato de afastamento e de falta de respeito relativamente ao eleitor. A sociedade civil, os eleitores e a generalidade dos cidadãos ambiciona que a política assente em dois eixos, ultimamente pouco presentes: a defesa de causas e projetos concretos e candidatos com competência ética, política e técnica, suficientemente robustas para transmitirem ao eleitor, ao cidadão e ao ecossistema a confiança nas suas capacidades de luta, defesa das causas assumidas e, acima de tudo, a implementação e execução dos ideais e projetos bandeira que os elegeram.
A propósito das eleições europeias; alguém já assistiu da parte desses comentadores, sempre prontos a uma opinião, a alguma reflexão sobre o futuro da Europa perante os desafios que as profundas e novas movimentações geopolíticas que o mundo tem de forma vindo a assistir? Nada ou quase nada. Em minha opinião e no contexto das eleições europeias, uma atitude responsável e digna passa, essencialmente por pensar e debater a dinâmica e instabilidade que a geopolítica mundial enfrenta. Acima de tudo pensar o papel e a posição da Europa. Neste contexto escolher, convencer e anunciar os candidatos mais bem preparados para assumir a função. Tratar a atualidade mundial como business as usual do pós 2.ª Guerra Mundial, constitui uma fórmula irresponsável, perigosa e vetada ao fracasso. A investigação, a leitura e o pensamento não parecem ser atividades preferenciais neste domino e por isso o que é giro é falar de pessoas, ‘casos e casinhos’ e aí, fica fácil e absolutamente natural avançar com nomes para candidatos.
Como o desprezo, ao eleitor, pela função disputada não é suficiente, fica também necessário desrespeitar o eleitor no que à função de partida diz respeito. Observo alguns comentadores que irresponsavelmente apontam nomes de cidadãos que estão em exercício de funções políticas resultantes de atos eleitorais e cujos mandatos estão longe de terminar. Estas aparentes nuances constituem detalhes reveladores do modelo muito pouco meritocrático e estruturado na competência, quanto à escolha de candidatos e consequente competência no exercício de cargos políticos. Pena é que os próprios e o presidente do partido respetivo não assumam princípios irrefutáveis relativamente a matérias de ética tão importantes na relação de confiança com os eleitores. É bem revelador das capacidades de mudança face às vontades anunciadas.
Esta imperfeição está presente na maioria das escolhas para os candidatos às diversas eleições – muitos dos quais nem conhecemos e que em muitas ocasiões acabamos por nunca saber quem são. Este modelo de recrutamento é prejudicial à transparência, à competência e à defesa dos interesses coletivos. É único. As empresas, as universidades e a própria administração pública não alista desta forma ligeira, sem critérios de mérito associados.
Aproveito para lembrar o presidente do PSD, que tanto apregoa querer mudar o país, que só mudamos as grandes coisas, sendo capazes de mudar as pequenas. As aqui, sumariamente enunciadas, parecem-me evidentes; defendo-as há décadas.
Como mais importante que palavras são ações, relembro que o único cabeça de lista às eleições europeias que tive a responsabilidade de apontar, em 2009, era na altura (ainda é) um dos portugueses mais bem-sucedidos a nível de gestão em multinacionais de setores altamente competitivos na europa. Quem melhor que um vencedor com provas dadas na europa para nos representar?