Muito se falou sobre o custo da inscrição dos peregrinos, mas pouco se disse sobre as vantagens de ter acesso ao kit completo, e não estamos a falar da mochila oferecida. Os jovens que pagaram os cerca de 250 euros terão um lugar privilegiado no Parque Tejo, tendo acesso aos talhões que dividem o espaço (ver caixas). Na parte de Lisboa, próxima do palco-altar, espera-se que 200 mil jovens possam estender o seu saco cama para dormir o sono dos justos na noite de 5 para 6. Depois de levantados os sacos camas é que poderão entrar os outros peregrinos para ouvirem a missa papal. Se Lisboa tem 36 hectares, Loures dispõe de 70, sendo por isso previsível que, no total, se as inscrições aí chegarem, 400 mil jovens aproveitem a noite de sábado para domingo para verem as estrelas. Como já foi referido, os jovens inscritos terão prioridade no espaço, e só se abrirão as portas para os restantes peregrinos depois de se analisar para onde serão reencaminhados. Prevendo-se mais de um milhão de fiéis na missa final, é fácil concluir que os jovens com lugar cativo nos talhões do espaço terão a sorte de ficar mais próximos do Papa.
Mas o que era o enorme terreno agora quase totalmente requalificado? Tem a palavra Filipe Anacoreta Correia, vice-presidente da autarquia lisboeta. «Fala-se da confusão, das despesas e chatices. Isto é uma obra que vai ficar e um lugar que fica. A Jornada Mundial da Juventude vai abrir uma fase nova na cidade, isto é, o que era um aterro, uma lixeira, passa a um parque extraordinário com 36 hectares que, somados aos de Loures, ultrapassará os 100 hectares. É um parque extraordinário e é uma coisa que fica na cidade, numa zona muito bonita, junto ao rio. Independentemente de tudo, da ocasião, da festa e do que vai representar a JMJ, dos participantes, há aqui qualquer coisa que fica na cidade. É dos lisboetas e nós fizemos, nós concretizámos. E não é muito comum uma obra ficar praticamente concluída a dois meses do evento, que foi o que aconteceu. Só faltam pormenores para tudo ficar concluído».
O Parque Tejo, depois, será arborizado e requalificado e poderá receber diferentes eventos, sendo previsível que alguns concertos de música venham a realizar-se neste parque, como admite o vice-presidente da autarquia lisboeta. Anacoreta Correia, um entusiasta da JMJ, reforça ainda que, apesar de não ser obrigação da Câmara, esta aproveitou a Jornada para dobrar o número de bebedores existentes em Lisboa, passando de 200 para 400. A autarquia ‘contratou’ ainda 300 miúdos, que estarão espalhados pela cidade «para dar orientações aos peregrinos».
Casas de banho. Em nome do ambiente
A despesa ficou a cargo do Governo, mas o Executivo camarário lisboeta gosta de realçar que três quartos das 1700 instalações sanitárias estão ligadas à rede de esgotos, uma novidade em espetáculos de massas. No que diz respeito à parte de Lisboa, haverá três núcleos de casas de banho que os peregrinos poderão usar. As preocupações ambientais, seguindo os pedidos do Papa, estão presentes e o enorme relvado dos 36 hectares da parte lisboeta, bem como os 70 da zona de Loures, são regados com água da ETAR do Parque das Nações. Para se perceber melhor, os mais de quatro quilómetros de terreno são separados pelo rio Trancão. A Sul é da responsabilidade da Câmara de Lisboa, que mandou instalar 640 torneiras de água potável, o que dá uma média de uma torneira por 300 peregrinos. O espaço está preparado para receber 200 mil peregrinos que aí irão pernoitar de dia 5 para 6. Já na manhã de domingo serão esperados muitos mais fiéis, até porque os sacos de cama serão arrumados. A parte de Loures, como é óbvio, irá receber muito mais gente.
Talhões. As vantagens dos inscritos
A parte lisboeta, que tem as obras bem mais avançadas, está dividida em 34 talhões que os peregrinos que fizeram a inscrição completa poderão usufruir, embora cada um só tenha direito a estar na sua área atribuída. Aí terão serviços como a internet, tendas de acolhimento, espaços para a comunhão, sítios para recarregar o telemóvel, além de água canalizada. Num dos espaços do Parque Tejo ficará o Compound RTP e o media press. É dessa estrutura, que passou de um custo de 500 mil euros para um milhão, depois dos pedidos do Governo, que a televisão pública emitirá para o mundo inteiro, prevendo-se que as imagens cheguem a 500 milhões de lares. A RTP passará as imagens aos outros canais televisivos, entre nacionais e estrangeiros, que as trabalharão nos estúdios montados. Também as estruturas para os enormes ecrãs já estão em fase final de montagem, permitindo que todos possam ver o Papa, mesmo que estejam a quatro quilómetros.
Bispos. Os balneários dos clérigos
É no Colégio Pedro Arrupe que os 800 bispos se vão paramentar, que é como quem diz, se vão equipar. Segundo o site do colégio, «o Pedro Arrupe é iniciativa e propriedade do Grupo Alves Ribeiro que, desde o início quis contar com a colaboração da Companhia de Jesus. A Companhia de Jesus aceitou este desafio de colaboração que se concretiza na partilha de uma experiência educativa que vai a caminho de cinco séculos. Acreditamos que a espiritualidade e pedagogia inacianas têm potencialidades para lá das fronteiras das instituições da Companhia de Jesus; e é essa experiência que aceitámos pôr ao serviço de uma nova instituição educativa».
A entrada de convidados VIP deverá ocorrer pelo colégio, sabendo-se que os pequenos-almoços serão servidos a partir das cinco da manhã, pois os bispos presentes terão missões espalhadas pela Grande Lisboa nas suas ações evangélicas. seja em colóquios ou em confissões.
Ponte pedonal. A única obra adjudicada por Medina
É uma das obras emblemáticas do espaço e unirá Lisboa a Loures. Apenas esta obra foi adjudicada pelo anterior Executivo camarário e permitirá que os peregrinos de Lisboa se unam aos de Loures. Orçamentada em cerca de três milhões acabou em mais de quatro milhões de euros. A ponte ciclopedonal foi financiada por fundos europeus no âmbito do Programa Operacional Reginal de Lisboa 2014-2020 (Lisboa 2020) e será da responsabilidade da EMEL. Em caso de algum problema de segurança, será este um dos locais previsto pelas polícias e serviços secretos para a evacuação do Papa. Incicialmente chegou a pensar-se numa segunda ponte militar, mas os custos excessivos fizeram abortar o plano. Depois da Jornada Mundial da Juventude a população da zona quererá fazer o passeio a pé ou de bicicleta, que poderá, em breve, começar em Vila Franca de Xira e terminar em Cascais. Foi inaugurada ontem.