Papa e nus não é propriamente uma ligação muito normal, mas os serviços secretos portugueses acreditam que essa será uma das formas de luta que grupos europeus fundamentalistas ambientais irão tentar mostrar ao mundo, nos locais por onde o Papa passará. Tudo indica, pelas informações recolhidas, que a zona de Belém é um dos alvos destes fundamentalistas ambientais, que estão também a pensar colar-se às portas do Mosteiro dos Jerónimos, sabe o Nascer do SOL de fontes das secretas. Os outros grupos que preocupam as autoridades portuguesas são os anti-Igreja, motivados pelos escândalos sexuais em que se viram envolvidos padres europeus e não só, bem como os ativistas extremistas.
Como se chegou a esta conclusão? Simples: as secretas de vários países, que estão coordenadas e em sintonia, conseguiram entrar em grupos de WhatsApp fechados e têm uma lista de potenciais agitadores, o que já fez que nas fronteiras portuguesas alguns fossem mandados para trás. Só com o ‘cadastro’ desses elementos, que englobam todos os manifestantes problemáticos da Europa, as autoridades portuguesas têm conseguido travar a sua chegada a Lisboa.
A visita de cinco dias do Papa Francisco será um acontecimento que deverá chegar a 550 milhões de lares e é por essa razão que os ativistas ambientais, os anti-Igreja, além daqueles que são contra as desigualdades sociais, escolhem esta ocasião para alcançarem o mundo com os seus protestos. No fundo, já houve um pouco destas manifestações aquando da Jornada Mundial da Juventude em Cracóvia, Polónia.
O Nascer do SOL entrevistou, na terça-feira, o secretário-geral do Sistema de Segurança Interna, Paulo Vizeu Pinheiro, o responsável por toda a segurança do evento, e tentando não abrir o jogo sobre o que está em causa, o antigo embaixador em Moscovo disse: «Todos os receios que são definidos pelas forças e serviços de segurança, e particularmente pelo SIS, a quem compete fazer a avaliação da ameaça, depois também a avaliação do risco é feita de forma estática e dinâmica pelos serviços competentes. Daí a importância de termos criado aqui o Centro Coordenação e Controlo Estratégico, que também tem o Centro de Cooperação Policial. A vantagem do sistema é que cruzamos tudo o que chega da intelligence, do sistema de informações com aquilo que vem da cooperação policial da Europol».
E, na verdade, nos últimos dias têm chegado informações de que grupos radicais europeus não querem perder a oportunidade de se mostrarem ao mundo, aproveitando a boleia do Papa. «Nós vamos ter aqui uma unidade móvel da Europol, da Interpol, o que chega dos nossos parceiros, para além da Europol e Interpol, tudo o que chega na cooperação que cada força e serviço tem pelos seus parceiros na Europa, na América Latina em África. E esses dados, nessas preocupações, são obviamente contempladas, o terrorismo islâmico, o terrorismo de matriz ideológica extrema, etc. Essas preocupações referem-se aos movimentos antissistema violentos, um ativismo disruptivo», acrescentou o homem forte do SSI. Não sendo a ameaça terrorista, neste momento uma das grandes preocupações das autoridades portuguesas, Vizeu Pinheiro explica que «estamos a olhar para todos eles e temos os sistemas de radares ligados».
Controlados na fronteira
E como se controlam europeus que podem circular livremente no espaço Schengen? «A vantagem da reposição do controlo de fronteiras é precisamente para apertar um bocadinho a malha», explica o responsável, acrescentando, quando questionado se, por exemplo, os principais cabecilhas do movimento dos Coletes Amarelos de França estão no sistema: «Os serviços cooperam muito bem nesse aspeto. E quando é preciso parar um automóvel que está previamente identificado, temos uma cooperação muito forte com Espanha, França e Itália e, portanto, quem vem por via terrestre e pensa que pode não ser parado, está enganado». E reforça ainda a ideia: «Se alguém vem com maus propósitos e pensa que não pode ser parado está muito enganado. Se me pergunta se a malha é perfeita, perfeição só Deus. O que nós pusemos em marcha é o mecanismo de informação e de cooperação policial que junta intelligence, cooperação policial e, obviamente, as redes sociais estão a ser acompanhadas, incluindo aquelas que não são abertas» (ver págs. 12-17).
Mosteiro dos Jerónimos e Ponte Vasco da Gama
Segundo as informações recolhidas pelo Nascer do SOL, o Mosteiro dos Jerónimos é o local mais referenciado para os radicais mostrarem o seu protesto. «Acreditamos que se querem colar às portas do Mosteiro, falando-se que alguns estão na disposição de se despirem para chamarem mais a atenção», explicou fonte das secretas. «O Palácio de Belém, onde o Papa será recebido pelo Presidente da República, a moradia oficial do Núncio Apostólico, em que o Papa Francisco se vai encontrar com o primeiro-ministro são outros locais que vamos vigiar com muita atenção», confessa outra fonte do SSI.
Mas há outra manifestação que preocupa as autoridades portuguesas, nomeadamente a hipótese de quererem fechar a Ponte Vasco da Gama. «Eles querem ter um grande impacto e se isso acontecesse, obviamente que teriam tempo de antena, mas nós estamos preparados para essas ações e acho que não vão ter grandes hipóteses», acrescenta a mesma fonte.
Como é natural, a vida do Papa está sempre em jogo, pois é um dos rostos mais apetecíveis para os fundamentalistas islâmicos, e não foi por acaso que na semana passada as autoridades portuguesas fizeram uma grande incursão no_Martim Moniz, para identificarem eventuais extremistas. «Nessa matéria não há, supostamente, grandes perigos. O nível de ameaça é mediano e está tudo controlado», segundo fonte da organização responsável pela segurança da JMJ. No entanto, as declarações do sheik Munir, que revelou que há, em mesquitas improvisadas, um aumento do discurso de ódio, levou as autoridades a aumentarem a vigilância sobre migrantes que não estão devidamente documentados ou que estão em processo de legalização.
Para se ter uma ideia das medidas preventivas que o SSI está a tomar, diga-se que nem todos os voluntários se poderão aproximar do Papa. «O que posso dizer é que os voluntários passam pelo meu filtro e sobretudo os que vão estar mais perto do Papa, e posso garantir que o filtro foi uma malha apertada», disse Paulo Vizeu Pinheiro.