O que o PSD tarda em entender

Portugal tem efetivamente falta de uma resposta social-democrata que o PSD por falta de definição deixou de representar e consequentemente não consegue nem o protagonismo nem a presença que a sua forma, outrora, de estar lhe garantiram.

por Eduardo Baptista Correia

Tenho a clara consciência que o PSD tem vindo ao longo dos últimos anos a perder o protagonismo e a consequente adesão eleitoral que a sua história, outrora, vivenciou. Os resultados eleitorais assim o demonstram.

Esse facto é muitíssimo preocupante porque tem por consequência deixar o espaço de manobra à continuação do desastre de governação a que o Partido Socialista tem remetido Portugal. A facilidade com que tem sobrevivido ao escândalo, ao desnorte e aos fraquíssimos resultados económicos é efetivamente da ausência de alternativa credível.

O PSD foi durante décadas a indiscutível alternativa. Não é nada claro que o seja hoje, tal como não é nada claro que os seus parceiros políticos reclamados de direita o possam ser. Não é possível implementar a tão ambicionada social democracia ao lado de liberais e de reclamantes radicais. Além disso, o PSD em pouco se diferencia do Partido Socialista, e ultimamente até parece, aos olhos dos portugueses, menos preparado (o que em face da asneirada socialista não é tarefa fácil). É um pouco como o aluno que promete fazer um doutoramento, inscreve-se, anuncia que é doutorando, e satisfeito por aí fica. O eterno doutorando…

Ao PSD falta definir-se na essência. Falta trabalho de fundo. Parece-me que lhe falta entender a sociedade do século XXI. Faltam-lhe bandeiras, faltam desígnios e, acima de tudo, faltam-lhe soluções para as grandes questões contemporâneas. Falta-lhe dar bons exemplos (não têm faltado oportunidades), carrega em si o estatuto do doutorando vitalício, que se queixa da falta de qualidade da tese dos outros, tal como ao PSD parece ser suficiente atacar, criticar e maldizer. É claramente insuficiente e é demonstrativo da falta de capacidade e ambição que aparenta carregar. O facto de reclamar ser um partido social-democrata e integrar uma família europeia de partidos da ala conservadora, constitui um primeiro sinal de indefinição da sua própria personalidade. A falta de clareza que é muitas vezes apontada como uma fragilidade tem aqui uma demonstração inequívoca.

A forma como se regozijou com a vitória do PP Espanhol, que não é um partido social-democrata, constitui, em minha opinião, a demonstração de falta de ambição e falta de clareza. Falta de ambição porque de facto e em face do desastre socialista em Espanha e de várias sondagens apontarem para uma maioria absoluta, o PP não conseguiu atingir um resultado que lhe permita constituir governo. Ou seja, o PP corre o risco de ver novamente o líder socialista espanhol como primeiro-ministro, ou eventualmente ter de concorrer ainda este ano a novas eleições. Não foi uma vitória, foi uma derrota.

Ao PSD exigir-se-ia que entendesse e reconhecesse essa incapacidade de modo a entender a razão pela qual o povo espanhol não votou da forma que se esperava que votasse. O povo espanhol não votou porque não reconheceu inovação, competência e atratividade no PP. Se o PSD não entende que o cinzentismo que afeta o PP é o mesmo que o afeta a si, vai naturalmente sofrer, como tem vindo a sofrer na última década, as consequências dessa postura.

Portugal tem efetivamente falta de uma resposta social-democrata que o PSD por falta de definição deixou de representar e consequentemente não consegue nem o protagonismo nem a presença que a sua forma, outrora, de estar lhe garantiram. Vejo que as sucessivas direções do partido tardam em não entender na esperança de que a mesma fórmula traga resultados diferentes. Preocupante…