Whatever. Just wash your hands

Jornada Mundial da Juventude – destaco este evento como a grande notícia do mês, pelo qual crentes e não crentes se devem sentir orgulhosos. Além de, no plano estrito da logística, tudo ter aparentemente corrido às mil maravilhas, deve ser realçado o clima de enorme e contagiante alegria que se viveu, tantos foram os jovens…

Por José Manuel Azevedo

Economista

Como muitos portugueses, em agosto a família procura o Sul, descendo até ao Algarve. É uma época em que, em regra, muito pouco de interesse se passa, e em que são temas de conversa os preços que se praticam, os restaurantes que se deve frequentar, a temperatura da água do mar e das noites de estio algarvio. Não se fica também indiferente aos, infelizmente sempre repetidos, incêndios, às ‘novelas’ do futebol ou às gaffes dos políticos.

Este ano, contudo, há matéria que justifica que Agosto não esteja a ser assim tão silly nem tão desprovido de conteúdo. Alguns exemplos:

 

Jornada Mundial da Juventude – destaco este evento como a grande notícia do mês, pelo qual crentes e não crentes se devem sentir orgulhosos. Além de, no plano estrito da logística, tudo ter aparentemente corrido às mil maravilhas, deve ser realçado o clima de enorme e contagiante alegria que se viveu, tantos foram os jovens que nos visitaram ou que resolveram ficar por Lisboa, Loures, Oeiras, Sintra, Fátima, para assistir às celebrações que o Papa Francisco tão bem soube ‘liderar’. Foi sem dúvida uma grande vitória do espírito empreendedor que, quando queremos, mesmo que tarde e a más horas, conseguimos demonstrar ao mundo!

Há questões que se devem, não obstante, colocar? Sim! Os custos para o erário público foram significativos (segundo percebi, esta terá sido a primeira vez que os municípios, e não os privados, suportaram investimentos desta grandeza em JMJ), apesar de haver estudos que evidenciam que o retorno de curto e médio prazo mais que os compensa; será que, como disse o Governo, todos os contratos celebrados por ajuste direto foram mesmo sujeitos a visto bom do Tribunal de Contas? Por que razão, tendo nós sabido com tanta antecedência que o evento seria celebrado em Portugal, não conseguimos evitar custos de última hora? Por que razão só uma notícia na comunicação social dando conta do custo do altar-palco no Parque Tejo levou a que o orçamento fosse revisto ‘à lupa’, originando alguma poupança? E será que, no investimento total, estão contabilizados os custos que o enorme aumento da procura pela ‘população flutuante’ sempre provoca em acontecimentos destes? Quanto custou o reforço policial? Qual o montante despendido pelas autarquias em tarefas de limpeza e saneamento? Quantas toneladas de lixo foram recolhidas? Quantas foram recicladas? Esperemos pela transparência de informação que o futuro cardeal Américo nos prometeu…

 

Agência para a Modernização Administrativa – não em agosto, mas em julho, o Governo apresentou o novo Programa Simplex, com 18 medidas que visam «modernizar processos e consagrar o digital como regra de atuação para melhorar a qualidade dos serviços públicos». Não sabendo quando todas as ditas medidas verão a luz do dia, não deixo de destacar, pela positiva, uma situação que me sucedeu e que demonstra cuidado em servir – a Agência teve a preocupação de me responder a um email que lhe dirigi após não ter conseguido assinar um documento via digital, esclareceu-me devidamente sobre o motivo que estava na origem dessa impossibilidade, e indicou-me as alternativas de que dispunha para solucionar a questão. E a resposta foi dada apenas dois dias depois do meu contacto, prazo que, na circunstância, não me prejudicou! 

 

Qualidade (pouca) de serviço – duas notas negativas: o que fazer quando, depois de protestarmos por aguardar 15 minutos por dois cafés já pagos e nos dispormos a sair, nos dizem que se quisermos podemos ir bebê-los a outo lado, pagando mais caro? E o que fazer quando, depois de 3 anos de indisponibilidade do serviço público de aluguer de bicicletas em Vilamoura, nada de objetivo ter sido feito para o manter em funcionamento? O fornecedor do sistema de informação faliu – há mais de um ano e meio! – mas não teria havido tempo para procurar alternativas? Não foi por falta de contactos, telefónicos e por email, manifestando insatisfação, que a Inframoura não agiu… Resultado, imensas estações de estacionamento com mais de metade dos postos inoperacionais, bicicletas que não conseguimos levantar ou colocar nos postos, inúmeras chamadas dos clientes para que a Securitas (entidade responsável pela logística) lhes resolva problemas de indisponibilidade, enfim, exemplos do que não deve suceder, muito menos em agosto!

 

RSA 103/2023, de 4 de agosto – diz a Resolução do Conselho de Ministros que o dia 31 de março passa a ser consagrado como o Dia Nacional da Visibilidade Trans e que compete «ao Governo e às demais entidades públicas que prossigam a estratégia de eliminação de entraves à igualdade e à não discriminação das pessoas trans». Mais uma perda de tempo para cumprir a agenda woke, com uma medida que provavelmente não produzirá qualquer efeito prático! 

Por motivos profissionais estive recentemente na Suécia, tendo ficado alojado no hotel habitual.

À semelhança de tantos outros, havia dois lavabos comuns no piso da receção, um para Ladies outro para Gentlemen. Desta vez, porém, qual não foi a minha surpresa quando reparei que tinham alterado a sinalética para Whatever. Just wash your hands. Não consegui evitar um largo sorriso com este exemplo de inclusão cheio de humor.