Conselheiros de Estado não perdoam a Costa

Miguel Cadilhe  é mais um dos conselheiros de Estado que não gostou de se ver envolvido numa guerra entre Belém e São Bento e junta-se às críticas de Marques  Mendes e de Lobo Xavier. Em Belém, o tema é visto por outro prisma: ‘Manobra de distração que não resultou’.

E o mal estar fez-se logo sentir pela voz dos dois conselheiros de Estado que têm lugar cativo na comunicação social. Marques Mendes não quis deixar em branco o silêncio e depois a narrativa que António Costa e a máquina de comunicação do Governo e do PS puseram a circular. «Um membro do Conselho de Estado, pode ficar silencioso mas não deve fazê-lo. Deve usar da palavra. Quem lá está deve dar a sua opinião e exprimir o seu ponto de vista. Quem lá está não tem só o direito, tem o dever de falar”.

Na mesma noite em que Marques Mendes manifestava o seu desagrado com a polémica que se seguiu à Parte II do Conselho de Estado, um outro conselheiro, António Lobo Xavier, aproveitou o seu espaço público para também ele manifestar a sua indignação com as explicações do primeiro-ministro sobre o seu silêncio: «Eu nunca vi isto em lado nenhum, nunca vi em Portugal e considero-me revoltado porque o CE não é um grupo de meninos». «Se algum membro do Conselho de Estado sentiu que lhe foram imputadas mentiras sobre factos ouvidos, creio que a sua obrigação seria pedir autorização ao Presidente da República para desmentir e não lançar esta suspeita de que há membros não só a violarem a confidencialidade mas a mentirem», afirmou Lobo Xavier no domingo à noite, no programa Princípio da Incerteza, da CNN Portugal.

Ao Nascer do SOL, esta semana, também Miguel Cadilhe, ex-ministro das Finanças e, ao que se sabe, que fez intervenção muito crítica sobre a situação económica e política do país, veio subscrever as críticas feitas pelos seus colegas. Apesar de ter sido visto à saída em conversa com o silencioso António Costa, Cadilhe também não apreciou a atitude do primeiro-ministro e muito menos as declarações que Costa fez à comunicação social na sequência da reunião.

Marcelo desvaloriza ‘manobra política de distração’

Indiferente às manifestações públicas de desagrado dos seus conselheiros, o Presidente optou, nas suas declarações públicas, por baixar a tensão. «Eu, que sou membro do Conselho de Estado há muitos anos, assisti obviamente a debates muito intensos, grandes especulações cá fora sobre esses debates desde tempos muito antigos». Para o Presidente da República, o Conselho de Estado «é um orgão que é um verdadeiro termómetro, porque tem representantes de várias correntes de opinião».

Marcelo, sabe o Nascer do SOL, considera que António Costa aproveitou o Conselho de Estado para fazer «uma manobra de diversão» que não teve eco popular. Na Presidência explica-se que a maior prova de que tudo não passou de uma «manobra política» é o timing escolhido e o conteúdo das críticas ao orgão de aconselhamento do Presidente. «O Conselho foi em 21 de julho, onde cinco ou seis conselheiros expressaram a sua opinião. De 21 de julho a 5 de setembro, nenhum reparo foi feito, nem ao conteúdo nem à cobertura jornalística».

Na visão de Belém, a polémica da rentrée serviu aos socialistas para desviar as atenções dos muitos problemas que têm entre mãos. «É uma manobra hábil» da parte do primeiro-ministro. O problema, para a Presidência, é que, à medida que o tempo passa, é cada vez mais difícil tapar o sol com a peneira.

Percebendo a estratégia do Governo, Marcelo Rebelo de Sousa está determinado a não facilitar a vida a António Costa.

PR aponta aos problemas reais

Daí que o Presidente tenha optado por desvalorizar a polémica do Conselho de Estado, preferindo assinalar as dificuldades reais que o Executivo enfrenta, numa altura em que a vida dos portugueses está cada vez mais difícil.

Nesta linha, marcaram a semana política as observações presidenciais quando disse que não são só os jovens que precisam de apoios, que espera que o Governo resolva rapidamente as falhas com que se está a iniciar mais um ano letivo e a dar por adquirido que o Governo vai tomar medidas para ajudar as famílias, sobretudo, depois do novo aumento das taxas de juro anunciado ontem por Christine Lagarde.

Nas contas que se fazem em Belém, o truque de se fazer de vítima e de tentar distrair as atenções, começa a ficar gasto e o Presidente não vai condicionar a sua atuação por causa disso.

Costa pode cair na armadilha do ‘menino e do lobo’

Marcelo continua a valorizar mais o que sente na rua do que o que vê e ouve na comunicação social, o que o leva a concluir que as encenações socialistas já tiveram melhores dias. «Foi uma manobra política de diversão. Hábil, tendo em conta os problemas que tem entre mãos, mas já usada cinco vezes». Acredita-se em Belém que a tática de vitimização do Governo e de diabolização do Presidente «está estafada e sem repercussão».

Na verdade, uma semana passada sobre as declarações acaloradas do primeiro-ministro acerca de um Conselho de Estado de onde saíram «mentiras e fugas seletivas», já não há ecos da polémica. «Tudo se desvaneceu».

 O Nascer do SOL ouviu esta semana em Belém que «os problemas do primeiro-ministro não estão em Belém, estão no país real, que enfrenta muitos problemas».

Na agenda presidencial está um acompanhamento minucioso das respostas que o Governo dará a um cada vez maior número de emergências. A economia e a sua evolução estão na linha da frente das preocupações.

O anúncio feito esta quinta-feira por Christine Lagarde de aumentar em mais 0,25% as taxas de juro coloca um crescente número de portugueses em situação de emergência. Numa altura em que o PSD_aposta tudo numa redução da carga fiscal, o Presidente já fez saber que vai estar atento ao que Fernando Medina vai colocar no Orçamento de Estado. Certo é que a margem de manobra do ministro das Finanças diminuiu, tendo em conta as expectativas económicas menos otimistas, prevendo-se a estagnação de economia europeia.

 Mas, além da economia, há os problemas que tardam em resolver-se e para os quais o Presidente já prometeu tolerância zero, até por saber que tem o apoio de uma maioria de portugueses.

O decurso do ano letivo e o preenchimento dos horários ainda vagos nas escolas e os resultados da reforma anunciada do Serviço Nacional de Saúde estarão nas prioridades da agenda.