Depois do pânico da seca veio a chuva, mas o cenário não ficou melhor. Choveu e o país ficou caótico. Estradas cortadas, ruas alagadas, casas inundadas e rios que galgaram. Foi este o cenário que se assistiu nas últimas semanas. Portugal foi afetado por três tempestades, em que a última depressão, Domingos, provocou centenas de inundações principalmente a norte do país. Agora parece que o tempo irá dar tréguas.
Segundo os dados do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), não há alertas no país nos próximos dias, à exceção de quinta-feira, dia em que os distritos de Viana do Castelo, Braga, Vila Real, Porto, Aveiro e Viseu, estarão em alerta amarelo devido à precipitação.
Nas previsões para período alargado – até 3 de dezembro – o IPMA refere que “na precipitação total semanal, preveem-se valores acima do normal (+1 a 30mm) para o Minho e Douro Litoral e abaixo do normal (-10 a -1mm) para alguns locais das regiões Centro e Sul na primeira semana”, ou seja, desde esta segunda-feira até dia 12. Depois, de 13 a 19, “preveem-se valores abaixo do normal (-30 a -1mm) para todo o território”.
Olhando para a terceira semana, de 20 a 26 de novembro, “não é possível identificar a existência de sinal estatisticamente significativo”. Na última semana (de 27/11 a 03/12) preveem-se valores acima do normal (+1 a 30mm) para todo o território.
Um cenário que vem agravar ainda mais a situação do país que foi atingido por seca severa. Ainda assim, o último resumo mensal do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), relativo ao mês de setembro, revela que esse mês, em Portugal continental, foi classificado como quente em relação à temperatura do ar e chuvoso em relação à precipitação. O valor médio da temperatura média do ar, 20.65 °C, foi superior ao valor normal com uma anomalia de + 0.43 °C.
Ainda assim, este foi o terceiro setembro mais chuvoso desde 2000, com um total de 69.1 mm que corresponde a 164 % do valor normal. Valores superiores aos deste mês ocorreram em 20 % dos anos, desde 1931.
“Durante o mês ocorreram alguns dias com precipitação significativa em vários locais do território continental sendo de destacar os dias 2 a 4, 9, 15 a 17 e 21”, destaca o IPMA.
No que diz respeito à percentagem de água no solo, registou-se um aumento dos valores nas regiões do litoral Norte e em grande parte da região Centro; diminuição na região Nordeste, vale do Tejo e do Sado, Baixo Alentejo e Algarve com valores muito baixos de percentagem de água no solo (inferiores a 10 %) e com muitos locais ao nível do ponto de emurchecimento permanente.
E, olhando para a seca, diz o IPMA, que “no final de setembro verificou-se uma diminuição da área e intensidade da seca meteorológica no território do continente. A região Norte e parte do Centro já não se encontra em seca. A Sul destaca-se os distritos de Setúbal, Évora, Beja e Faro com vários locais em seca severa. A 30 de setembro, 55 % do território estava em seca meteorológica, dos quais 17 % na classe de seca severa”.
Valores que levaram o Governo a apresentar um plano de ação.
“A água é uma questão política” E se a água esteve até aqui a provocar inundações também temos a certeza que irá fazer falta daqui a uns meses. O que nos leva a questionar: “Estará Portugal a aproveitar o excedente de água para fazer face aos próximos períodos de seca?” O secretário-geral do Concelho Nacional da Água já veio explicar que, para isso, seria necessário aumentar a capacidade das barragens em número e em capacidade.
Uma necessidade que já foi questionada pelo especialista em gestão de água e também ex-secretário de Estado de Cavaco Silva, Joaquim Poças Martins, que ao nosso jornal referiu que “a água é uma questão política”, referindo que “mesmo que se decida hoje só estará pronta daqui a 20 anos. Não é uma solução, nem para esta seca, nem para as próximas. É uma solução a prazo. Por outro lado, a União Europeia já não vai pagar barragens. A última grande obra que pagou foi o Alqueva, que custou 2500 milhões de euros e podemos ver o que é que está a acontecer com e qual é o seu contributo”.
Quanto à agricultura que, muitas vezes, é acusada de “esgotar” a água, o especialista refere que “temos de ter culturas adaptadas ao nosso clima e temos de regar com mais eficiência, em vez de regar por inundação ou por expressão, deve-se regar gota a gota”.
Uma necessidade que, segundo a CAP, já é é uma prática comum. Ao nosso jornal, Luís Mira tem referido: “A agricultura utiliza água, não gasta água. As pessoas têm de perceber que, se querem comprar um quilo de maçãs ou um quilo de tomate, não é possível o agricultor produzir esses produtos se não usar água. 80% do tomate ou da maçã, ou da carne ou de outro produto agrícola, é água. Não sou capaz de produzir cinco toneladas por hectare se não utilizar 500 litros de água. É impossível”.
É certo que a questão da água já abriu uma “guerra” com Espanha, o que já foi desvalorizado pelo ministro do Ambiente e da Ação Climática. “Não há guerra nenhuma relativamente à água. Há sim, da parte de Portugal e de Espanha, trabalho conjunto e permanente (…) e aquilo que é uma compreensão relativamente a um ano particularmente difícil do lado de cá e do lado de lá”, disse Duarte Cordeiro.