Decida o que Marcelo decidir, o PS vai a votos. Os socialistas terão de escolher se querem um novo Guterres ou um novo Sócrates; se querem um novo cristão ou um novo guerreiro; se querem um ponderado ou um impulsivo; se querem um humilde ou alguém que acha que sabe tudo.
Por estes dias os telefones socialistas tocam como nunca – assisti a alguns. Desde as bases às figuras mais conhecidas, perguntam-se como foi possível tamanha irresponsabilidade e quem será o líder que se segue. À primeira, já deviam ter pensado nisso; à segunda, pensam agora.
Pedro Nuno Santos é o ‘menino d’oiro do PS’, aquele que descende de Sócrates, o combatente rebelde que nas últimas semanas se atirou ao Orçamento de Medina e criticou Costa, obrigando-o a desmentir-se. Os históricos socialistas acham-no um «imaturo convencido» sem experiência de vida; Ana Catarina Mendes ralhou-o em público, chamando-lhe «truculento» e aconselhando mais ponderação e sensatez.
José Luís Carneiro é discreto, um progressista reformista, um homem de diálogo a quem os socialistas reconhecem competência e dedicação; que é de confiança e sabe trabalhar em equipa com lealdade. Augusto Santos Silva reconhece-lhe o sentido de Estado e a ‘humildade intelectual’, que estuda e trabalha os assuntos a fundo e que, como «não nasceu ensinado, essa é uma das suas grandes vantagens».
Pedro Nuno Santos carrega polémicas de sete anos no Governo; José Luís Carneiro soma reformas. Pedro, o ‘Ícaro’, quis voar alto e derreteram-lhe as asas de cera quando se aproximou demasiado do Sol – mas insiste que nasceu para ser líder. Carneiro, que não é ‘lobo’, é o camisola 7 das equipas de futebol que organiza – acha-se um médio ofensivo, diz-se um distribuidor de jogo e não gosta de perder.
José Luís Carneiro estabilizou as forças de segurança, olhando para os salários e condições miseráveis em que trabalhavam; apaziguou os viúvos do SEF, com formação e um modelo de transição; acabou com a polémica do SIRESP e reforçou o combate aos incêndios, diminuindo-os drasticamente e fazendo com que este ano tenha sido o primeiro sem vítimas mortais.
Pedro Nuno Santos teve um papel importante na ‘geringonça’; mandou renovar os comboios, aprovou um plano estratégico para a CP e deu-lhe um contrato de Serviço Público; lançou o programa de Arrendamento Acessível e envolveu-se nas negociações com os motoristas de mercadorias e matérias perigosas.
Mas, Pedro Nuno Santos fica irremediavelmente ligado às polémicas da TAP e ao novo aeroporto, a revolução prometida na Ferrovia ficou no apeadeiro e a crise na Habitação mostra o falhanço daquela que devia ter sido uma emergência nacional.
Os anteriores ministros da Administração Interna saíram queimados, José Luís Carneiro não. Transformou as adversidades em oportunidades e aprovou estratégias para a segurança Urbana e Rodoviária e para a Proteção Civil; apaziguou as Comunidades lá fora e deu-lhes direitos políticos que não tinham.
Luís Montenegro sabe que tem muitas trapalhadas para atacar Pedro Nuno Santos e poucas para apontar a José Luís Carneiro e o PSD prefere ter um PS mais à esquerda que lhe deixe o centro livre.
Pedro Nuno Santos até pode ganhar o partido, mas dificilmente ganhará o país; José Luís Carneiro poderá não ganhar no partido, mas já ganhou o respeito e reconhecimento do país. l
Jornalista