Infelizmente, este desfecho era previsível, pois era a solução preconizada no famoso plano de negócios elaborado pelo Grupo de Trabalho nomeado pela Direção Executiva do SNS que teve um parecer favorável da CIRA, votado por todos os municípios presentes, só que o Presidente da Câmara Municipal de Ovar, que também é Vice-Presidente da CIRA, esteve ausente no momento da votação por assunção política de conflito de interesses, em vez de assumir a única posição aceitável que era votar contra, na defesa da população do Município de Ovar.
A passividade intolerável e indesculpável dos Vereadores e Presidente da Camara Municipal de Ovar não desculpam, de forma alguma, a decisão injusta e inconcebível tomada pelo Governo.
A ausência de cuidados de saúde durante a noite no município é total e consequentemente, até as farmácias passaram a estar encerradas após as 24h00, repito, isto num Município com mais de 55.000 habitantes fixos!
São João da Madeira é um concelho de menor dimensão, tem menos de metade da população do concelho de Ovar e na época balnear, parte da população desloca-se para as praias de Ovar, exemplo disso mesmo é o Parque de Campismo situado na praia do Furadouro ser gerido pelo Clube de Campismo de São João da Madeira, mas apesar de estar pertíssimo do Hospital da Feira, tem um Serviço de Urgência no seu Hospital.
A somar a esta falta de equidade gritante, agora, como se não bastasse, condenam os munícipes de Ovar a serem referenciados para Aveiro ou Coimbra que fica muito mais distante e dispendioso do que Santa Maria da Feira ou Gaia.
Mas desengane-se quem pense que apenas os utentes de Ovar são prejudicados, os utentes que atualmente recorrem ao Hospital de Aveiro também serão muito prejudicados, senão vejamos, infelizmente, há períodos em que serviços de urgência do Hospital de Aveiro são encerrados por falta de capacidade de resposta, imaginem com um acréscimo de mais de 55.000 utentes, será caótico e incomportável, penalizando o acesso dos utentes dos 11 municípios que compõem a CIRA aos cuidados de saúde.
No passado dia 20, o Grupo Parlamentar do PS apresentou um Projeto de Resolução na Assembleia da República que recomenda ao Governo a integração dos Serviços de Saúde de Ovar na ULS de Entre Douro e Vouga que foi aprovado com os votos dos Deputados do PS, PSD e Chega. Sinal de que há razões válidas para emendar o erro.
É justo referir que não é apenas o Governo o responsável por esta medida, a CIRA deu o seu aval!
Poderá sempre argumentar-se que a criação desta ULS é importante para a ampliação do Hospital de Aveiro e para o início do curso de medicina na Universidade de Aveiro, mas também deve ser dito que haverá um período em que o acesso aos cuidados de saúde vai ser limitado e muito deficitário para os utentes de vários municípios do distrito de Aveiro e que no caso de Ovar, a saúde e a vida das pessoas está a servir como moeda de troca, e a saúde e vida das pessoas não pode ser negociável!
Atualmente, quando um utente do município de Ovar liga para a Saúde 24, já é reencaminhado para Aveiro, ou seja, teoricamente a alteração entra em vigor no início do próximo ano, mas na prática já se iniciou e está a penalizar todos os Vareiros.
Perante hecatombe política da semana passada, o Governo ainda em funções, não tem legitimidade para continuar a reforma no SNS e tem o dever de reverter a decisão desajustada que prejudica todos os habitantes do município de Ovar.
É imperdoável manterem uma decisão que coloca em risco a saúde e vida das pessoas, sob pena, de que cada morte que suceda, provocada pela demora na assistência médica, no concelho de Ovar, possa ser considerada da responsabilidade de todos os que contribuíram para esta situação.
Aguardamos com esperança a correção imediata do erro e a integração dos serviços de saúde de Ovar na ULS Entre Douro e Vouga, até lá, Ovar continua de luto!
Fernando Camelo de Almeida
