Agora há uma crise do regime

Costa não para e já congeminou o plano que lhe permitirá, de forma direta ou por interposto discípulo, retomar o controlo da situação.

Oito anos totalmente desperdiçados para o país, apenas para satisfazer a ambição pessoal de um político que vive atormentado pelos seus complexos.

Depois de 2015 foi sempre uma governação de desperdício e trapalhadas que passará à história como ‘uma crónica do tempo perdido’.

«Que não restem dúvidas; António Costa é e será o grande culpado por uma década de Portugal em coma profundo» escreveu recentemente Joana Petiz. É difícil ser mais assertivo.

O que já era muito mau ficou muito pior com a insólita demissão do primeiro-ministro (PM) por causa dum anódino parágrafo.

Quem conhece o dr. António Costa, as suas ambições políticas sem limite, e a interpretação muito própria do seu conceito de lealdade e transparência, só pode sorrir (para não chorar) com a demissão burlesca apresentada no dia 7 de novembro.

Mas essa insólita decisão rapidamente se tornou no início de um processo de fuga às responsabilidades.

Costa agarrou-se à forma esquecendo o conteúdo e, pelo menos de início, obteve ganho de causa junto de alguma comunicação social.

Alguns dias depois (12/11) o PM dirigiu-se ao país, utilizando todos os truques emocionais que a sua equipa de propaganda preparou para criar a versão 3 da cabala contra o poder judicial.

Como então referiu o Prof. Luciano Amaral, «usou o que resta da dignidade do cargo, para interferir no funcionamento da justiça e substituir-se a ela».

Curioso é que, à memória do militante histórico do PS António Costa, não tenha ocorrido o exemplo do seu camarada Roque Lino que, tendo sido confrontado no final de 1977, com irregularidades do chefe de gabinete Lopes da Mota (que passou à posteridade como Lopes da Nota) apresentou de imediato a sua demissão que foi logo aceite por Mário Soares.

Sem parágrafos, sem espetáculo, sem acusações descabidas e infundadas, Roque Lino fez uma demonstração prática do conceito de ética republicana e, sobretudo, não envergonhou o seu partido.

Mas o espetáculo não acabou (nem parece acabar tão cedo) pois confrontado com a inevitabilidade da dissolução do Parlamento, o primeiro-ministro demissionário envolveu-se em sucessivas trapalhadas e desmentidos com o Presidente da República, a procuradora-geral da República, o Ministério Público, o governador do Banco de Portugal e o Conselho de Estado.

Com que consequências? Só o futuro permitirá avaliá-las, mas estes recentes episódios são já o ataque mais forte ao regime democrático praticado nos últimos 50 anos.

E o que é mais preocupante é que Costa não para e já congeminou o plano que lhe permitirá, de forma direta ou por interposto discípulo, retomar o controlo da situação.

As eleições internas do PS, reproduzindo um modelo já usado no passado, fazem parte dessa estratégia.

Para já conta com a ajuda do Presidente da República que, de forma consciente ou inconsciente, lhe permitiu mais meio ano de poder com escasso ou nulo controlo parlamentar.

Não… não era necessário esperar pela aprovação do Orçamento, pois nada de substancial sairia prejudicado com a sua inexistência durante um período de 3 ou 4 meses.

Entretanto a propaganda oficial vai capitalizando pequenos êxitos (a melhoria da notação financeira da República) ou explorando medos primários (afinal o Chega deve ser rejeitado, não pela sua ideologia, mas pela sua ‘má educação’).

No que diz respeito à melhoria notacional, que tem de ser saudada, é altura de regressar a Jorge Sampaio, pois «há mais vida para além do Orçamento» (e não do deficit) e o desenvolvimento do país e a acalmia social só se obtém com crescimento económico sustentado.

Quanto à segunda observação mal estaria o partido do Governo se a regra da boa educação fosse imposta, pois teria de encontrar ocupação alternativa para muitos dos seus atuais e principais dirigentes.

Ignorar que há hoje uma crise do regime e que essa situação foi causada por António Costa é meter a cabeça na areia e negar a evidência.