A linha vermelha que Mário Soares traçou entre o radicalismo e a moderação, essa linha está agora entre o PS e o PSD. Com esta frase, Luís Montenegro definiu não só o espaço em que o partido se posiciona na próxima campanha eleitoral, como mandou também um recado abrangente a todos os que querem afastar o PS do Governo depois de 10 de março. O líder do PSD quis deixar bem claro que é perigoso deixar o país nas mãos de Pedro Nuno Santos, não só pela sua simpatia com o Governo da ‘geringonça’, mas também porque ele próprio é o sinal do radicalismo.
O Nascer do SOL avançou na semana passada que a direção do PSD está a estabelecer contactos para recolher apoios com vista a construir uma plataforma alargada para se apresentar a eleições. E o tema foi defendido em várias intervenções no Congresso de Almada, pela voz de alguns dos mais influentes militantes, entre os quais Paulo Rangel, Nuno Morais Sarmento e José Luís Arnaut. Em Almada, disseram-no em público, mas nos dias antes do Congresso já o tinham feito sentir a Montenegro e, do lado do presidente do partido não encontraram a porta fechada, muito pelo contrário.
Ao que soubemos já esta semana, os contactos continuam a bom ritmo e incluem personalidades, movimentos e, numa fase posterior, a negociação com partidos. O Nascer do SOL apurou que, apesar de ser improvável, os sociais-democratas ainda não desistiram de incluir no barco a Iniciativa Liberal e, ao que nos garantem, os canais de diálogo mantêm-se abertos. Se, por um lado, a indisponibilidade da IL para uma coligação já foi dita e repetida em público pela voz de Rui Rocha, a verdade é que no interior do partido a decisão não é consensual.
Esta semana, no programa É ou não É, da RTP, Pedro Duarte, presidente do Conselho Estratégico Nacional do PSD, responsável pela elaboração do programa eleitoral do partido, afirmou: «O PSD está predisposto em liderar uma alternativa de poder e de governo para o país. Essa alternativa quanto mais alargada for melhor, do ponto de vista do que são as forças sociais, os movimentos cívicos. Estamos abertos, recetivos e interessados em que haja de facto este agregar, acumular e isso também pode ser aberto a partidos políticos. Há uma lógica que tem que ver com o nosso sistema eleitoral que pode vir a ter peso do ponto de vista do número de deputados no fim do dia».
Foi assim, e de viva voz, que um membro da direção social-democrata confirmou num debate com Pedro Delgado Alves (apoiante de Pedro Nuno Santos) e Jamila Madeira (apoiante de José Luís Carneiro), a estratégia que o SOL revelou e que estava fechada a sete chaves no gabinete da direção laranja na São Caetano à Lapa. Pedro Duarte não o fez ingenuamente: ao fazê-lo num debate televisivo teve a intenção de sinalizar que o PSD está a trabalhar para contrariar os sinais que muitas sondagens (incluindo a sondagem da Universidade Católica, que também se analisava no programa) têm dado, de que o PSD não está a conseguir descolar.
Estratégia em vários passos
A primeira fase do caminho ficou cumprida no Congresso de Almada , com a direção do PSD visivelmente satisfeita com os resultados. O Congresso tinha o objetivo de mostrar um Montenegro afirmativo, seguro e pronto para o combate, mas também para começar a preparar o partido para um cenário de coligação, tenha ela a forma que tiver.
Também desse ponto de vista o objetivo teve sucesso, já que do palanque do pavilhão de Almada foram muitos os que defenderam a solução, sempre em tom de conselho à direção, e na plateia a reação foi positiva. Ao longo do dia não se ouviram críticas a essa opção, e nem Cavaco Silva, o convidado surpresa de Montenegro, se mostrou contra a estratégia. Ao contrário do que tinha dito em março, quando defendeu que o PSD devia ir sozinho a eleições, no final do Congresso, em resposta aos jornalistas, o antigo Presidente disse que «essa é uma decisão que cabe aos orgãos do partido».
Com a primeira etapa cumprida, e a deixar tempo para que o país discuta as propostas que Montenegro apresentou no encerramento, particularmente no que respeita às pensões, o tempo é agora para consolidar apoios que o PSD quer que comecem pelo centro e só depois se estendam para a direita, com a inclusão do CDSe outros partidos.
15 dias decisivos
Segundo o Nascer do SOL apurou, os próximos quinze dias serão cruciais para fechar os apoios e só por essa altura o país ficará a conhecer os nomes e as siglas que irão compor a plataforma eleitoral liderada pelos sociais-democratas.
Nesse espaço temporal, o PSD terá que tomar a decisão de avançar para a formalização da proposta de uma coligação na Comissão Política e, depois de aprovada por esta, para a respetiva confirmação dessa decisão em Conselho Nacional, o órgão máximo do partido entre congressos.