Num país como Portugal, em que a produção é baixa, que tem vindo a ser sucessivamente ultrapassado por outros países europeus, que precisa de produzir mais, fazem-se experiências para trabalhar menos. Em vez de incentivarmos o trabalho, incentivamos o ócio. Alguém conseguirá explicar isto?
Há umas semanas, um canal de TV transmitiu uma pequena reportagem sobre uma empresa que adotou o horário experimental de trabalho de 4 dias por semana, sem diminuição de salário.
Perguntaram aos trabalhadores o que achavam da medida e estes mostraram-se encantados. Tinham mais tempo para tratar dos seus assuntos, ou para ir ao ginásio, ou simplesmente para não fazerem nada.
Tudo estava melhor, portanto. Quando entrevistaram uma das diretoras da empresa, ela confirmou. Disse que as reações eram boas, embora tivessem de analisar «todos os parâmetros». E aqui percebeu-se uma pequena dúvida, que a responsável não concretizou. Mas que se percebeu mais tarde. Depois de elogiar a experiência, a repórter televisiva rematou, como se acrescentasse algo sem importância: «Só a produção diminuiu».
Só a produção diminuiu.
Ora, a produção é a finalidade das empresas! Claro que é bom os trabalhadores sentirem-se bem, estarem motivados, irem para o trabalho satisfeitos. Mas se, no fim, a produção diminuir, a experiência foi um fracasso. O objetivo de qualquer empresa é crescer, produzir mais. Se definhar, ainda por cima não reduzindo a massa salarial, tudo fica em risco.
A semana de 4 dias foi uma iniciativa rara do Governo, pois ofereceu aos trabalhadores o que eles não pediram. Nunca ouvi um sindicato a reivindicar os 4 dias de trabalho. Ouvi-os a exigir mais salários, melhores condições, horas extraordinárias mais bem pagas, mas nunca menos dias de trabalho.
É certo que a medida foi apresentada como opcional. Só adeririam ao projeto as empresas que quisessem. E era experimental, ou seja, reversível. Mas pensar isto era uma ingenuidade: este tipo de medidas, uma vez postas em prática, nunca voltam para trás.
Tal também ficou claro na pequena reportagem citada, quando uma trabalhadora afirmou, perentória: «Ninguém admite voltar a trabalhar 5 dias». Ou seja: se a empresa quiser recuar e regressar ao horário antigo, terá um problema bicudo.
E estas medidas envolvendo o trabalho tem outro problema, mais fundo: induz a ideia de que o trabalho é uma escravidão, pelo que, quanto menos as pessoas trabalharem, melhor. Ora, a diabolização do trabalho é perigosa para a sociedade e para os próprios trabalhadores.
Uma sociedade desenvolve-se pelo trabalho dos cidadãos. E estes realizam-se pelo trabalho e não pelo ócio. É através do trabalho que as pessoas devem garantir o seu sustento e o dos seus dependentes – e não através de esmolas ou de subsídios. É através do trabalho que deverão procurar melhorar as suas vidas – e não através de expedientes ou de favores.
O trabalho deve, pois, ser encarado como uma atividade que dignifica e não que escraviza. Aliás, é assim que, de um modo geral, a sociedade o vê. Quando se diz, «fulano é muito trabalhador», isso constitui um elogio.
Dirão alguns que os nazis diziam o mesmo quando escreviam à entrada de um campo de concentração: «Arbeit macht frei» (O trabalho liberta).