À medida que vão ficando definidos os cenários com que os partidos vão apresentar-se a eleições, André Ventura vai ajustando o discurso.
As sondagens vão dando uma subida em flecha do Chega nas eleições de 10 de março e Ventura está apostado em fazer valer o seu peso eleitoral na próxima governação do país.
Ao longo da semana, os avisos à navegação foram em crescendo e o líder do Chega chegou mesmo a garantir numa entrevista televisiva que, se o Chega não entrar na equação de um Governo liderado por Luís Montenegro, esse Executivo vai cair à nascença com a apresentação de uma moção de rejeição logo no debate sobre o Programa do Governo. Este é um debate que não exige votação, a menos que um dos partidos com assento parlamentar apresente uma moção de rejeição, tal como aconteceu em 2015, com a esquerda a derrubar à primeira o segundo Governo de Passos Coelho.
A entrada em cena de Pedro Passos Coelho esta semana trouxe novos argumentos ao líder do Chega. O antigo primeiro-ministro fez declarações dúbias à comunicação social, manifestando o desejo de que o PSD ganhe as próximas eleições e que seja capaz de encontrar uma solução governativa estável. Perguntado sobre se o Chega deveria fazer parte dessa solução, Passos Coelho remeteu para os líderes dos dois partidos, deixando no ar a ideia de que não deve haver linhas vermelhas.
Foi o suficiente para que André Ventura (que já o dissera em entrevista ao Nascer do SOL) viesse dizer que Passos Coelho percebeu o que Montenegro ainda não viu.
A direção do PSD bem se esforçou ao longo do dia por diminuir os danos causados pelas declarações de Passos Coelho, mas o tema Chega voltou de rompante para o debate político.
Ventura está agora de olho nas próximas sondagens e irá adaptar o discurso àquilo que os estudos de opinião forem ditando. Certo é que, como o Nascer do SOL publica nesta edição, num cenário de coligação entre o PSD e o CDS, o Chega parece ver contido o crescimento que tem vindo a registar. Dos 17.2% que obtinha na sondagem que publicámos apenas há 15 dias, no dia 7 de dezembro, o partido de Ventura recua neste estudo para os 12% num cenário em que PSD e CDS concorrem em conjunto.
Uma coisa é certa, André Ventura promete não fazer vida fácil a Montenegro, tentando não sair do centro da discussão sempre que se fale em governar à direita.