Agora que já se conhece o nome de quem vai disputar as eleições de 10 de março à frente dos socialistas, começam a afinar-se as análises sobre quem tem mais hipóteses de vir a liderar o próximo Governo, Pedro Nuno Santos ou Luís Montenegro.
O Nascer do SOL foi perguntar a dois especialistas em marketing político quais as fraquezas e as forças dos líderes do PS e do PSD, o que os pode ajudar a ganhar eleições e que dificuldades devem ultrapassar. Jorge Morgado e Daniel Sá concordam num ponto: mais do que programas e propostas políticas, os eleitores valorizam as características pessoais dos candidatos a primeiro-ministro e, se nalguns casos o fator novidade é uma vantagem, por outro lado o eleitorado português já provou que é conservador e prefere apostar na previsibilidade.
A dificuldade, dependendo de para quem estivermos a olhar, é escolher que características devem fazer prevalecer em campanha eleitoral.
Pedro Nuno transforma o incumbente PS em novidade
Jorge Morgado, especialista em comunicação política, vê como uma das maiores vantagens de Pedro Nuno Santos o fator novidade. Para este especialista, o facto de o recém eleito secretário-geral dos socialistas surgir como sangue novo, “com uma nova energia e novas ideias”,consegue transformar o partido que está há oito anos no poder num novo chalenger: “A expetativa está do lado dele, mais do que do lado de Montenegro, que já está no palco político há mais tempo, já não é novidade”.
Ainda a favor do novo líder socialista joga o facto de, com a sua eleição, Pedro Nuno Santos trazer para o PS uma nova dinâmica e um partido rejuvenescido, contrastando com uma imagem de um PSD que parece ter envelhecido. “É preciso que Montenegro mostre caras novas, soluções novas e um lado mais reformador, nesse sentido a hipótese de vir a apresentar uma grande coligação de centro direita, contém em si um grande espaço para progressão”, facto comprovado pela sondagem que publicamos nesta edição do Nascer do SOL.
Carisma versus sensatez
Daniel Sá, diretor do Instituto Português de Administração e Marketing, considera que, na hora de escolher, os eleitores baseiam-se essencialmente em três ou quatro caracterísricas e é nelas que os candidatos devem estar focados. «O carisma é um fator que pesa muito na decisão, e esse, está do lado de Pedro Nuno Santos», observa este especialista. Mas, se o carisma é importante, a sensatez também é «e aí quem vence é Montenegro, que deve tirar partido deste ponto. A história comprova que o eleitorado valoriza a sensatez, os portugueses são de brandos costumes e contra a violência, por isso preferiram Soares, Sampaio, Cavaco, Barroso e o próprio António Costa».
Este especialista em marketing político diz, no entanto, que “há um ponto que Pedro Nuno Santos sublinhou no seu discurso de vitória e que não o fez por acaso. Ao dizer que ele é o nono líder dos socialistas e que Montenegro é o décimo nono, no mesmo espaço de tempo, o objetivo é marcar o lado da estabilidade dos socialistas, por oposição a um PSD instável”. Diz Daniel Sá que os sociais-democratas têm três meses para desconstruir a imagem de um PS que tem uma máquina estável.
Montenegro precisa de refrescar e surpreender
Os dois especialistas ouvidos pelo Nascer do SOL concordam que Pedro Nuno Santos leva vantagem na comparação dos perfis à partida para as eleições.
Daniel Sá diz mesmo que Montenegro está no “papel ingrato do underdog, com a obrigação, mais difícil, de destronar quem está no poder”. Jorge Morgado acha que tentar atacar Pedro Nuno Santos pelos erros do passado não é a boa estratégia: “As pessoas motivam-se mais por quem queira mudar e ele apesar de tudo tem a imagem de quem decide”. Também o facto de o novo secretário-geral dos socialistas ter experiência governativa beneficia Pedro Nuno Santos na contenda com Luís Montenegro, que nunca esteve no Governo. Os eleitores valorizam a experiencia governativa e associam-na ao PS.
Jorge Morgado e Daniel Sá aconselham o líder do PSD a fazer algumas apostas novas, para contrariar a imagem do déja vu diante da novidade que é o seu adversário.
“As expetativas baixas podem ser uma vantagem na medida em que aumentam a capacidade de surpreender”. Numas eleições em que é claro que as pessoas sinalizam uma necessidade de mudança, os especialistas recomendam a Montenegro que dê sinais de que pode ser o protagonista dessa mudança, “ao mesmo tempo deve empurrar o adversário para o papel de alguém que promete os amanhãs que cantam”.
O grande motor para uma perceção de mudança e de uma dinâmica que traga novidade ao embate entre os dois líderes é, para estes especialistas, o anúncio de uma coligação que deve ser o mais abrangente possível. “Aí, sim, a imagem de Montenegro pode refrescar-se, enquanto líder de uma alternativa de mudança”. Mas, para que isso possa acontecer, é importante que a coligação traga algo de novo, que dê a ideia de “uma solução federativa de espetro não socialista”.
A presença de outras forças políticas ou cívicas para além do CDS, e até – na impossibilidade de contar com a Iniciativa Liberal – procurar integrar nas listas figuras ligadas ou próximas da IL, são os elementos que Jorge Morgado e Daniel Sá consideram que podem fazer a diferença na perceção pública de que Montenegro está mesmo a apresentar uma alternativa ao país e não apenas um caminho para aumentar a votação.
Conselhos dados, os técnicos dizem também que o tempo que falta percorrer até às eleições pode ditar outras exigências quer a Pedro Nuno, quer a Montenegro, como sempre, em disputas como estas, «quem cometer menos erros, tem mais possibilidade de ganhar».