Muito barulho por nada

Essa putativa coligação pré-eleitoral não conta com o Chega porque o PSD não quer (nem o Chega quereria).

Much Ado About Nothing. Muito Barulho por Nada. A este título de Shakespeare acabou por se resumir a AD. Contas feitas, essa putativa coligação pré-eleitoral não conta com o Chega porque o PSD não quer (nem o Chega quereria). Nem com a IL que o PSD queria (porque a IL não quer). Nem com o PPM porque o PSD o quis reduzir a um membro honorário da coisa, mas honra sem proveito é casca vazia, pensou o PPM e não aceitou. Finalmente, não conta sequer com o nome Aliança Democrática porque o mesmo PPM o não permite. Mas com quem conta o PSD para essa AD que não é AD? Conta com essa marca vazia que é hoje o CDS, a quem benevolamente concedeu dois lugares seguros nas suas listas. O PSD já tem, pois, os seus ‘verdes’. Neste caso ‘azuis’. Sim, much ado about nothing. No campo ainda dos fait divers, o mantra ‘foi o PS quem inventou e fez crescer o Chega’. A tê-lo sido, teremos de felicitar o PS e seus militantes pela abnegação. Porque apenas uma excecional capacidade de abnegação poderá ter levado a que, todas as semanas, um autarca, um secretário de Estado ou um assessor socialista tenham enviado, para o MP ou para a Comunicação Social, indícios de corrupção própria ou de crimes idênticos, transformando-se, assim, em indiciados, ou arguidos, ou condenados. Tudo isto culminando, nobre abnegação, no episódio da demissão de António Costa. Pouco credível? Seguramente. Ora, assim sendo, como causas do Chega e do seu rápido crescimento parece-me existirem outras, essas bem mais razoáveis. Desde logo porque o PSD – e o CDS, enquanto teve existência autónoma – se julgaram com direito, por decreto divino, aos votos da Direita em Portugal. Faziam campanha à Direita para depois, com os votos da Direita, governarem à esquerda. Uma receita barata e infalível que parecia eterna. Mas não era. Mal surgiu um partido de Direita real e não virtual, os votos que eram dados como património inquestionável foram reforçar o partido de Direita. Foi isto que fez nascer o Chega e lhe tem dado força crescente, não o PS. Por fim, e resumindo este capítulo de efemérides: o CDS, incapaz de angariar votos para regressar ao Parlamento e à vida, irá conseguir lá chegar com os votos do PSD. Esta, a fase um. Fase dois: no dia 11 de março, com uma eventual maioria de ‘direita’ no Parlamento apenas possível com os votos do Chega, CDS e PSD tentarão chegar ao Governo com os votos dos eleitores do Chega, mas sem o Chega. Contudo, sobre isto já foi dito o que tinha de ser dito: se querem governar sozinhos, que consigam os votos necessários para o poderem fazer. Não contem com os votos dos eleitores do Chega. Se estes quisessem ver o PSD a governar sozinho votavam no PSD, não no Chega. Porque o Chega respeita os seus eleitores. Por fim, o que verdadeiramente importa. O Natal abre-nos um corredor iluminado, que cada ano nos leva ao fundo de nós e, depois de nós, ao fundo de cada uma das 60 gerações que nos precederam e, através delas, numa viagem de 26 séculos, até ao mais longínquo passado. Uma viagem fascinante às raízes da nossa civilização europeia. Uma civilização que sobreviverá a todos os ataques, porque continua viva nas pessoas comuns, aquelas que farão sempre frente às oligarquias desenraizadas que povoam este atual ‘Inverno do nosso descontentamento’ (Shakespeare outra vez). Farão frente e vencerão.

Deputado do Chega