O referendo de 10 de março

A crise não nasceu em Belém, nem é judicial. É da responsabilidade de Costa e de Pedro Nuno Santos

Nas próximas eleições legislativas, mais do que escolher entre partidos e coligações, os portugueses vão responder, no referendo possível, se acham normal o estado a que Portugal chegou e se estão dispostos a fazer alguma coisa acerca disso.

O que dirão é se aceitam, ou não, a repetição de filas intermináveis, a horas absurdas, de doentes em centros de saúde, urgências de especialidades críticas encerradas como regra, vidas comprometidas pelos agendamentos de consultas e cirurgias crescentemente fora do tempo útil, e um milhão e setecentos mil portugueses sem médicos de família, Se aceitam, ou não, um governo que vive montado no esforço e sacrifício dos outros, medidos por valores recorde de carga fiscal sobre o trabalho, sobre as empresas e de impostos indiretos.

Se aceitam, ou não, que mais de 40% dos portugueses vivam no limiar da pobreza, bem perto de metade da população.

Se aceitam, ou não, o desastre das políticas de habitação e as promessas do primeiro-ministro incumpridas desde 2015, quando garantiu um investimento de 1400 milhões de euros para recuperação de património público, que transformaria em 7.500 casas a preços acessíveis, recuperando coisa nenhuma e gerindo depois o desastre com arremedos ideológicos à volta de arrendamentos compulsivos das casas alheias e a mão estendida a Bruxelas. 

Se aceitam, ou não, o total descontrolo de fronteiras, a impossibilidade de deter ilegais aos fins de semana e centenas de processos de expulsão parados há anos por falta de meios, tudo agravado pela extinção absurda do SEF.

Se aceitam, ou não, que a Justiça seja transformada em argumento político, quando desde 1995 o PS governou 22 anos, com várias maiorias absolutas, recusando todas as reformas relevantes e tendo no primeiro-ministro a prerrogativa da escolha da procuradora -geral da República, agora atacada, sem que isso lhes diga nada.

Se aceitam, ou não, a Educação em pé de guerra, com os professores em protestos nas ruas, por causa de reivindicações que são justas, em vez de concentrados nas Escolas a ensinar.

Se aceitam, ou não, 14 substituições de governantes em dois anos e o ridículo de um questionário anunciado de 36 perguntas, como se não coubesse a um primeiro-ministro a avaliação da idoneidade básica das suas escolhas.

Se aceitam, ou não, ver o SIS transformado numa espécie de polícia do governo, chamado a resgatar equipamentos informáticos em casa de cidadãos, com violação de direitos, liberdades e garantias protegidos pelos Constituição Se aceitam, ou não, indemnizações de meio milhão de euros decididas por SMS, ou a decisão d  e construção de três aeroportos em cima do joelho, no valor astronómico de muitos milhares de milhões de euros por um ministro, sem autorização nem instrução do primeiro-ministro, que depois a revogou.

Se aceitam, ou não, ver o país a cair repetidamente na lista dos mais pobres da UE, ultrapassado por países de Lesta muito mais atrasados ao tempos das respetivas adesões, bem mais recentes do que a de Portugal.

A crise que Portugal vive, não nasceu em Belém, nem é judicial. É política e muito grave, mas se é da responsabilidade de António Costa, também é de Pedro Nuno Santos, secretário-geral do PS.

Se há certeza em política, é de que não se conseguem melhores resultados, insistindo nos mesmos. Por isso, quando tudo está à vista, em 10 de março ninguém poderá dizer que foi ao engano. Só votará no PS quem ache que nada disto tem mal. Essa, pela normalização do desastre, seria uma tragédia bem maior.