Insegurança no Mar Vermelho ameaça economia global

Operação Prosperity Guardian não foi suficiente para neutralizar a capacidade dos Houthis, que continuaram ataques no Mar Vermelho.

Desde novembro, no Mar Vermelho, houve um aumento de mais de 500 por cento nos ataques perpetrados por forças Houthis a embarcações alegadamente ligadas a Israel. A insegurança originou uma diminuição de 60 por cento do tráfego em dezembro. Um cenário de tensões prolongadas ou de um conflito regional teria profundas consequências para a segurança e o comércio internacional.

Evitar a guerra

Fundado por Hussein al Houthi nos anos 90 e liderado por membros da tribo Houthi, o movimento Ansar Allah, de matriz xiita, tem combatido a maioria sunita no Iémen. Neste momento, o grupo controla as regiões do país com maior densidade populacional incluindo a capital, Sanaa.

Após os primeiros ataques da operação Prosperity Guardian, dirigida pelos Estados Unidos e o Reino Unido, com o apoio da Austrália, do Bahrein, do Canadá e dos Países Baixos, John Kirby, porta-voz da Casa Branca, assegurou que os Estados Unidos «não tinham interesse» em entrar em guerra com o Iémen, afirmando também que os ataques tinham atingido a capacidade de armazenar, lançar e dirigir mísseis ou drones.

Mas os primeiros esforços da operação Prosperity Guardian não foram suficientes para neutralizar a capacidade dos Houthis, que continuaram os ataques contra embarcações no Mar Vemelho. Após a operação, os Houthis atingiram um navio pertencente aos Estados Unidos, que navegava com a bandeira das Ilhas Marshall, e um navio grego.

Em ano de eleições e com uma presidência fragilizada, a Administração Biden não tem interesse em abrir (mais) uma frente de conflito, apostando por isso numa intervenção cirúrgica com apoio internacional, tentando reproduzir a dinâmica que sustentou as operações antipirataria realizadas ao largo da Somália.

Mas num período que é de fragmentação, não parece existir uma frente unida. O Mar Vermelho e o Iémen são epicentro de velhas tensões e conflitos, internos e regionais. A Arábia Saudita, para os Houthis, é um país invasor. Mas o reino, que liderou a coligação que apoiou as forças governamentais contra os Houthis, tenta agora negociar um cessar-fogo com o grupo. Riade não tem interesse na guerra, que obrigaria a desviar recursos e atenção necessários à implementação da ambiciosa Visão 2030, chave para garantir não apenas a prosperidade mas também a estabilidade interna. O Ministério dos Negócios Estrangeiros saudita publicou uma declaração manifestando “grande preocupação” e apelando “à contenção e necessidade de evitar uma escalada”.

Em reação aos ataques, o porta-voz dos Houthis, Nasruldeen Amer, prometeu uma «resposta firme, forte e efetiva». O representante da Rússia junto da ONU, Vassily Nebenzia, acusou os ingleses e os americanos de «desencadear o alastramento do conflito em Gaza a toda a região».
Londres e Washington, por sua vez, acusam o Irão de apoiar os Houthis com capacidade militar e de inteligência.

Riscos geopolíticos e geoeconómicos

A escalada de tensões no Mar Vermelho onde, em 2022, passaram cerca de 22.000 navios e 123,5 milhões de toneladas métricas de mercadorias, traz riscos geopolíticos e geoeconómicos. Primeiro porque, embora justificado como medida cirúrgica para garantir a segurança numa artéria vital do comércio internacional, os ataques podem desencadear um conflito de larga escala.

E o mercado já reagiu ao aumento de tensões, que condicionam a liberdade e segurança de navegação. Com os navios a serem forçados a seguir uma rota alternativa, contornando África, torna-se inevitável um aumento dos custos. Isto porque se trata de uma viagem mais longa, mais cara e que não está, também, isenta de riscos.

Juntando-se ao anúncio de redução da produção pela OPEC+, os receios em relação a uma disrupção prolongada do transporte deverão pressionar no sentido da subida do preço do petróleo nos próximos meses. E, esta semana, o Qatar anunciou que iria suspender o transporte de gás pelo Mar Vermelho. Na Alemanha, as disrupções obrigaram a fábrica da Tesla a anunciar uma paragem de duas semanas, devido à falta de componentes importadas da Ásia.