Situacionista, é o Portugal que não deixámos de ser

O situacionista não pensa, não lê, não ouve para avaliar as ideias e convicções. O situacionista reage e censura.

1. Ao contrário do que se ouve dizer, não somos um ‘Portugal socialista’. Como antes não fomos ‘um Portugal cavaquista’, ou um dia depois de se manifestar apoteoticamente marcelista no Estado Nacional, houve um ‘Portugal comunista’; nem mesmo quarenta anos antes o que podia dizer um ‘Portugal salazarista’. Nem ‘Portugal republicano’ costista, nem monárquico, liberal ou miguelista.

O que Portugal foi durante séculos e continuou a ser depois do 25 de Abril, na sua natureza ou cultura mais entranhada e resistente, é situacionista. Com os últimos Governos deste socialismo, pela sua exímia arte de caçar votos sem escrúpulos, de um situacionismo ainda mais ignorante, cego, submisso, intolerante, fanático.

2. Nasci e cresci no situacionismo salazarista. Distingo, pois, as diferenças desse situacionismo e do situacionismo que com nuances fomos tendo depois de Abril. Diferenças que com este situacionismo de António Costa cada vez parecem ser menos substanciais e cada vez mais apenas formais. Um situacionismo do qual parece já não nos conseguirmos libertar com eleições, tal como aconteceu no situacionismo salazarista.

Sustentado por uma clientela sem ponta de espírito crítico e anseio de liberdade, cada vez mais encorajadamemte dependente e pedinte do dinheiro que como sempre no passado vem de fora. Agora da Europa que trabalha. como antes viera do Brasil e depois dos emigrantes. Gente que vota e elege de mão estendida para os subsídios que lhes alimentam o ócio e a submissão, e a ilusão de uma importância que os senhores que servem na verdade não lhes dão. Governos de tantos medíocres e tantas minhocas.

Repare-se como essa clientela e o coro monocórdico de comentadores da mesma natureza, que nunca se preocuparam com os milhões delapidados pela incompetência geral dos políticos, ou que a corrupção permitida ou praticada nunca vista devorou, se preocupam agora tão chorosamente em saber onde Ventura irá buscar os recursos para a limpeza imperativa que promete ao país fazer!

3. Situacionismo socialista na sua modalidade mais virulenta, porque sustentado por gente mais carente e ávida de emprego do que a gente da oposição PSD. Este mais inserido nas empresas, clientes com mais emprego garantido, menos desesperados por sustento e estatuto ou ilusão dele.

4. O apoiante situacionista não pensa, não lê, não ouve, não ouve para avaliar as ideias e convicções, valorizar ou afinar as suas que não tem, ou criticar, com argumentos, as dos outros, dar ou negar o seu apoio com liberdade e consciência. O situacionista reage e censura, se pudesse punia, ou melhor, pune mesmo como pode.

O situacionista não vive a política como o cidadão que vê o adversário como um parceiro na procura das melhores soluções e práticas para o progresso do país. Por isso num país dominado pelo situacionismo não há debate político nem público. A AR é um “faz de conta”, onde na realidade ninguém ouve ninguém e todos se insultam. O apoio e o voto que dá é cego e exterminador. O outro não é o adversário divergente, mas o inimigo a abater, seja qual for o mérito das suas ideias e propostas. Não age como um cidadão, mas como o adepto de um clube de futebol. Sem se aperceber sequer que também no futebol só tem graça ser do Sporting por haver Benfica.

5. Quando e quem romperá com este ciclo de situacionismo, que com os últimos governos socialistas, repito, atingiu o paroxismo?

6. E para escolhermos em março sem risco, a novidade, há a Democracia, cujo mérito maior é podermos com ela mandar para casa os governantes que como os atuais não prestem.

Faltará também, claro, escolher um PR forte, que nenhum esqueleto no armário tolha ou limite. Um patriota, talvez um militar, que ainda haverá. Dias, Eanes, ou Cabral, para dobrar connosco, com as mãos firmes no leme, este cabo das tormentas que nos barra há muito o caminho do futuro.

P.S. – Repare-se que nunca se disse ‘Portugal é soarista’. Porque esse seria um Portugal da liberdade, do prazer da divergência, da consciência da sua necessidade. Um Portugal de tolerância, de verdadeiros democratas, como Mário Soares lamentava rarearem.