Como votar no dia 10 de março? É uma dúvida que por estes dias assalta muitos eleitores. As sondagens apontam para entre 16% e 20% de indecisos. Entre estes há muitos jovens, e muitos deles, particularmente em diversos grupos e movimentos católicos, começaram a organizar-se para se entreajudarem no processo de decisão. De norte a sul, grupos de jovens estão a organizar sessões e a convidar personalidades do centro e da direita para discernirem a opção de voto.
Destes grupos fazem parte essencialmente jovens universitários que vacilam entre o voto na AD, na IL e no Chega. As discussões entre os participantes já duram há muito, mas a proximidade de eleições tornou mais urgente um debate mais alargado e mais informado. Foi para ajudar a esse esclarecimento que alguns destes grupos decidiram organizar encontros que têm juntado algumas centenas de jovens católicos para ouvir figuras como Henrique Raposo, César das Neves, José Miguel Sardica ou Filipe Anacoreta Correia, entre outros.
O foco principal dos encontros tem estado na resposta à pergunta sobre se há ou não uma opção certa para o voto católico. A uma pergunta comum da maioria destes jovens, independentemente da sua origem, surge uma resposta sem direção certa. Antes, como agora, a Igreja não dá indicação de voto, nem atribui a nenhuma força política o estatuto de partido dos católicos. A grande tarefa é, portanto, encontrar os critérios para o discernimento.
Jesuítas: debates de norte a sul
A iniciativa parte do Ponto SJ (o portal dos jesuítas em Portugal) e adoptou o nome de ‘Ponto de Cruz’. Os jesuítas organizam quatro encontros em Portimão, Lisboa, Braga e Coimbra para debater os temas que consideram essenciais para uma decisão de voto: desigualdades sociais, educação, economia e participação democrática dos jovens. No anúncio dos encontros que irão realizar-se nos centros universitários que os jesuítas dinamizam nas quatro cidades é referido que «esta iniciativa procura pensar a realidade do país, com as suas dificuldades e desafios, à luz da Doutrina Social da Igreja, ajudando à reflexão que este período pré-eleitoral exige». Os encontros, com a participação de pessoas ligadas à academia, à igreja e ao mundo mais mediático, têm um objetivo definido: «O esquema dos encontros procurará seguir o método da Doutrina Social da Igreja que se caracteriza por ‘ver, julgar e agir’, de maneira a olhar para a realidade atual, analisá-la e propor soluções para o futuro. De fora destas conversas ficarão, por isso, debates partidários e questões políticas mais locais, uma vez que o objetivo é pensar os problemas de forma abrangente».
Paróquias de Lisboa e Estoril ajudam jovens a decidir
Não serão as únicas, mas as paróquias de Santo António do Estoril e de São Nicolau em Lisboa estão também a dinamizar encontros para o discernimento de voto dos jovens. A iniciativa tem partido, na maior parte dos casos, dos próprios grupos de jovens que têm muitas dúvidas sobre a decisão a tomar no dia 10 de março. «Muitos de nós vamos votar pela primeira vez e sentimos a necessidade de ter outro tipo de esclarecimento que vá para além dos discursos e anúncios políticos», diz-nos João Freire, um dos organizadores dos encontros do Estoril.
Afonso Virtuoso, que, a par de Miguel Fontan e César das Neves, participou no primeiro encontro, explicou ao Nascer do SOL que no centro das preocupações esteve a necessidade de clarificar os critérios para a decisão de voto: «É pedida liberdade e responsabilidade aos católicos na hora de votar, não há um voto perfeito, mas é de acordo com a construção do bem comum, da vida e da família, que os jovens devem tomar a sua decisão».
Para alguns dos participantes ouvidos pelo Nascer do SOL, os encontros foram úteis, mas as decisões ainda não estão tomadas. No centro das discussões está a opção pelo voto útil na AD, sobretudo porque muitos dos participantes tem simpatia pela IL ou pelo Chega. Mas a discussão aquece entre os pró e anti Chega, enquanto os primeiros defendem que o partido de André Ventura é o voto certo para os católicos, são muitos os que argumentam com a instrumentalização do voto católico feita pelo Chega, ao mesmo tempo que Ventura não hesita em criticar o Papa e a Igreja sempre que lhe parece útil.