As eleições regionais no Arquipélago dos Açores não desiludiram o país e proporcionaram um excelente tubo de ensaio para as Legislativas, obrigando os partidos políticos a cuidados redobrados pela possível leitura daí retirada e previsível condicionamento continental.
Saíram destas ilhas algumas conclusões importantes, corroboradas pelos diversos estudos de opinião e sondagens nacionais até ao momento. Os portugueses não pretendem atribuir uma maioria absoluta a ninguém, a abstenção poderá reduzir, a Direita terá uma maioria parlamentar e os dois principais partidos serão confrontados com a decisão de viabilizar, ou não, uma vitória minoritária do principal adversário, caso desejem impedir uma chegada ao poder da extrema-direita.
A Esquerda, convicta que cresce de uma forma mais vincada se a Direita estiver no poder, poderá viver o seu maior dilema, obrigada a optar entre os seus intuitos exclusivamente partidários com ganhos mais tarde ou a defesa do interesse nacional.
A Direita, estando o PSD consciente de que perderá eleitorado, a médio prazo, se celebrar um acordo pós-eleitoral com a extrema-direita, necessitará de resistir à tentação do poder imediato, mantendo um distanciamento temporário. Para tal, de modo a prevenir impactos devastadores no continente, qualquer entendimento em nome da estabilidade governativa nos Açores só poderá acontecer após o dia 10 de março.
Nesta equação, a vontade popular corre o risco de ficar esquecida, apesar de ser essa a principal razão das eleições. Se a extrema-direita obtiver no país o significativo resultado apontado nas sondagens, compatibilizar a escolha dos eleitores à estratégia dos partidos, sem os defraudar, será o maior desafio em cima da mesa. E os acontecimentos recentes, onde proliferam casos de justiça e manifestações permanentes de vários setores, não ajudam em nada.
Quando a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, reconheceu no Fórum Económico Mundial em Davos que a desinformação e a difusão generalizada de informações falsas constituem a maior ameaça à democracia, polarizando as sociedades, devemos ficar preocupados. Somando esta situação à impreparação generalizada dos quadros políticos e da maioria dos líderes, assim como à circunstância de Portugal registar a taxa de emigração jovem mais alta da Europa, o horizonte de esperança torna-se ainda mais negro. Se o nosso país estivesse assim tão bom como alguns anunciam, trinta por cento dos jovens entre os 15 e os 39 anos, nascidos em Portugal, não tinham decidido emigrar, conforme consta na estimativa do Observatório da Emigração.
Os Açores não conseguiram esconder que a AD precisa do Chega, deixando no ar a dúvida se o acordo firmado entre PSD, CDS-PP e PPM para as Legislativas, Europeias e Autárquicas inclui um consenso às escondidas com a extrema-direita, a formalizar posteriormente. Perante a frustração dos mais jovens e de várias classes profissionais, vivemos no cenário perfeito para um extremismo ansioso por governar e por dominar o espaço político à Direita.