Nos últimos dias com o rol de debates dos candidatos às legislativas, Portugal tem assistido a uma estranha facilidade com que se abusa da boa-fé dos eleitores.
Passou, com leviandade, a fazer-se uso de referências a documentos que não se encontram, a histórias questionáveis com familiares para criar empatias, a invocar-se números que não correspondem aos estudos e a reclamar-se paternidade de medidas a que são alheios.
É assustadora a desfaçatez com que o interveniente político dispõe da mentira e da invenção para convencer o seu eleitorado, quando sobre si pende uma maior responsabilidade e presumível credibilidade.
Existem em particular dois ou três candidatos que são especialmente profícuos no uso destes métodos.
Pedro Nuno Santos é um desses casos. Faz frequentemente uso da repetição de afirmações falsas, confiante de que quantas mais vezes as repetir, mais certeza tem de serem percecionadas como reais. Uma dessas afirmações é a de que: «O Governo do PS não fez nenhum corte de pensões». O que é mentira. Em 2011 José Sócrates cortou as pensões no decurso do memorando de entendimento que ele mesmo negociou. Foi exatamente o Governo PS.
Outra das suas formas de comunicar passa por divulgar meias-verdades, como quando referiu, muito agilmente, que «o parque público disponível para arrendamento aumentou em 55% no último trimestre». Acontece que parque público não é o mesmo que dizer parque habitacional, porque coisa muito diferente é os 55% serem devidos a uma oferta pública ou esse aumento ser devido a uma maior oferta privada.
Com André Ventura são os truques que alimentam a sua retórica, como o de constar no seu programa eleitoral a isenção de IVA na compra da primeira habitação, quando as casas em Portugal não pagam IVA ou como quando diz que os partidos políticos copiam constantemente as suas medidas no combate à corrupção, no apoio às famílias ou na defesa das forças de segurança quando o seu partido foi constituído em 2019 e o CDS desde 1974 que exaustivamente trabalha e defende cada uma destas matérias.
O derradeiro player tem sido Mariana Mortágua, que nos últimos dias foi o ex-líbris no uso destes métodos quando usou a sua ‘avó’ para apelar à comoção, ao referir que esta terá sofrido angústia quando confrontada com a realidade da pretensa atualização da renda da casa onde vivia. Avó essa que à data dos factos teria de ter no máximo 65 anos, para não estar protegida pela lei que prevê a proteção contra a atualização dos mais velhos. O que dificilmente tem sido aceite pela opinião pública, uma vez que seria de esperar que essa fosse a idade presumível da mãe e não da avó.
É necessário, por isso, separar o trigo do joio nas escolhas políticas para a próxima legislatura.
Quando formos chamados a decidir, é imperativo garantir que premiamos quem demonstra respeito pelo cargo a que se propõe e pela democracia que dela faz parte. A bem da boa governação do país.