Pedro Nuno, um caminho estreito para tentar a vitória

É um caminho difícil mas não impossível. Pedro Nuno Santos tenta ganhar eleições muito mais cedo do que imaginava. O apoio de moderados como Francisco Assis pode ser precioso.

Pedro Nuno Santos parte para o desafio eleitoral de 10 de março menos de três meses depois de ter sido eleito secretário geral do Partido Socialista.

Numa altura em que esperava ter cerca de dois anos para se preparar para suceder a António Costa, com tempo suficiente para atenuar o efeito dos episódios que acabaram por afastá-lo do governo, Pedro Nuno foi obrigado a acelerar calendários por causa da crise política que levou à demissão do primeiro-ministro.

Como vários comentadores disseram na altura, o desafio mais fácil do líder socialista foi ganhar o partido. Nos últimos anos Pedro Nuno Santos foi preparando o terreno, percorrendo as diversas estruturas do partido e conquistando apoios que dificilmente lhe escapariam na hora da verdade. No dia 15 de dezembro o ex-ministro das Infraestruturas foi eleito sem dificuldade, com os votos de dois terços dos militantes socialistas. Mas como se disse logo no início da crise política, a maior dificuldade do novo líder seria tentar ganhar o país.

O presente envenenado de Costa 

Com pouco tempo para se preparar e o país a viver uma crise nos serviços públicos, a tarefa de Pedro Nuno Santos é difícil.

Em plena campanha o líder dos socialistas vê-se obrigado a fazer um equilíbrio difícil entre defender o legado dos últimos anos de governação e tentar mostrar que tem soluções novas. Diante de qualquer proposta para resolver os problemas da saúde, da educação ou da habitação, Pedro Nuno Santos tem sido confrontado pelos seus adversários com a pergunta inevitável: “Porque é que não fez isso enquanto estava no Governo?”.

Aos problemas já existentes e que têm gerado grande contestação de sindicatos e vários setores da sociedade, juntam-se agora os protestos das forças de segurança. Tudo porque o Governo decidiu aumentar o subsídio de risco para os elementos da Polícia Judiciária, deixando de fora a PSP e a GNR. Uma desigualdade considerada inaceitável e que tem mobilizado nas últimas semanas milhares de polícias e elementos da GNR a exigir igualdade de tratamento.

As manifestações das forças de segurança têm dominado as atenções dos vários candidatos em campanha eleitoral, obrigando todos a comprometerem-se com negociações no dia seguinte às eleições. Apesar de só nessa data ser possível negociar, a verdade é que os protestos foram subindo de tom e quase comprometeram o debate entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro. O desvio de um grupo de polícias que decidiu rumar ao Parque Mayer, onde se realizava o debate, em vez de se manter na Praça do Comércio para onde estava convocada a manifestação, condicionou a discussão entre os dois candidatos a primeiro-ministro. Foi um momento para Pedro Nuno Santos surpreender e ganhar vantagem em relação ao adversário, aproveitando para mostrar sentido de Estado: “Toda a disponibilidade para conversar, mas não negociamos sob coação”, afirmou.

Com esta tirada o líder socialista ganhou pontos e também uma nova força no discurso de candidato responsável e com experiência governativa. E é precisamente na capacidade de tomar decisões e na experiência de governo que Pedro Nuno aposta para convencer o eleitorado ao centro e os muitos indecisos que as sondagens continuam a mostrar. Se conseguir levar avante esta estratégia, sem que os tropeços da sua ação governativa se sobreponham, o novo líder socialista talvez consiga convencer os eleitores de que é uma solução inovadora na continuidade.

Apoios que podem fazer a diferença

Pedro Nuno Santos apresenta-se com uma equipa abrangente. Ao seu lado estão companheiros de sempre, como Pedro Delgado Alves, Francisco César ou Alexandra Leitão, mas o líder socialista contou também com apoios inesperados de militantes conotados com a oposição a António Costa. É o caso de Francisco Assis (crítico desde a primeira hora da geringonça), Sérgio Sousa Pinto e Álvaro Beleza.

O apoio dos principais rostos que estiveram na oposição a António Costa é uma arma preciosa para o líder socialista. O seu apoio abre a porta para criar a ideia de uma nova fase no partido e uma nova forma de conduzir os destinos do país. Tudo o que Pedro Nuno Santos quer transmitir, apesar da camisa de forças de ter de defender o legado dos últimos anos de governação.

A posição sobre os cenários de governabilidade pós-eleições, que Pedro Nuno Santos trouxe para o frente-a-frente com Luís Montenegro, é um sinal da influência que este grupo tem tido junto do líder.

Apesar das muitas contradições em que entrou já depois do debate, a verdade é que Pedro Nuno voltou à posição inicial, facto que agrada à ala mais moderada do partido, que está preocupada com uma rotura no sistema político. A ideia de que não vai criar uma crise de governabilidade depois das eleições é um fator considerado essencial para que Pedro Nuno Santos possa surgir como opção junto do eleitorado do centro. A disponibilidade para deixar passar um governo minoritário da AD afasta a imagem de radicalismo colada a Pedro Nuno Santos e este é justamente um dos grandes objetivos da campanha socialista.