Linhas vermelhas

Era exigível que, neste cenário internacional, o PS definisse também uma linha vermelha como Montenegro

Se é claro que Luís Montenegro não incluirá o Chega numa eventual solução governativa, já Pedro Nuno Santos (PNS) confirmou que contará com o BE. Mortágua não se faz rogada e, como aliada pretendida, definiu condições. São cenários que conhecemos. Ninguém poderá dizer que não existem diferenças entre as duas candidaturas que disputam a vitória.

Sucede que, quer nos debates quer nas entrevistas aos líderes, as questões internacionais foram olvidadas. Coisa que se entendia no passado, quando vivíamos no conforto das nossas certezas e a paz era um dado adquirido, mas que é inadmissível agora que há um risco iminente na Europa. Um risco motivado pelo expansionismo russo e pelo isolacionismo americano, que promete exacerbar-se se Trump vencer as eleições de novembro.

No tempo da ‘geringonça’, as posições do PCP ou do BE nas questões dos compromissos internacionais não eram relevantes. Mas, quando a Rússia invadiu a Ucrânia, assistimos à tergiversação cúmplice do PCP, que irá pagar a fatura nas urnas. Já o BE condenou a invasão, mas alinhou pela tese de Moscovo, invocando o argumento nazi do ‘lebensraum’. Depois, votou contra o alargamento da NATO. «A adesão da Finlândia e Suécia à NATO não traz paz», disse Joana Mortágua, acusando a organização de acolher no seu seio «ditadores» e responsáveis por «atentados terroristas». Não explicitou de quem falava e esqueceu-se de dizer que a neutralidade, em que os dois países bálticos tinham apostado, foi traída por Putin. Ignorou também que a NATO tem uma política de ‘porta aberta’ a todos os países que partilham os princípios e valores da democracia, do Estado de direito, do multilateralismo e do Direito internacional, ao contrário dos regimes que o BE tolera ou venera.

No seu Programa Eleitoral de 2022-2026, e em coerência, o BE professa a «saída de Portugal da NATO e defesa do desarmamento negociado e com uma base multilateral, rejeitando inequivocamente todos os cenários de aproximação à formação de um exército europeu.» No documento lê-se ainda que «uma política externa assente nos direitos humanos e na solidariedade implica igualmente a rejeição da participação na NATO e nas suas operações militares» – ou seja, uma política de ‘apaziguamento’ que nos recorda a conferência de Munique. E propõe ainda a desvinculação do Tratado Orçamental, revertendo a nossa posição no quadro da União Europeia. 

É este o programa de quem PNS escolhe como seu parceiro incondicional. Um programa que temos de levar muito a sério. Porque é inevitável, qualquer que seja o desfecho das eleições americanas, que Portugal seja chamado a reforçar o seu envolvimento na estratégia europeia de defesa; porque é irrealista romper com os compromissos europeus, em matéria orçamental e nas questões de imigração.

Por tudo isto, era exigível que, neste cenário internacional, o PS definisse também uma linha vermelha como Montenegro. Só que à sua esquerda e em relação a partidos que defendem posições incompatíveis com o que tem sido a nossa posição geoestratégia, consensual desde o fim do PREC. Não o querendo fazer, ou construir uma cerca sanitária idêntica à que impõe à direita, PNS saberá que voto útil irá captar e que votos irá alienar. No dia 10 veremos se a sua aposta, feita por convicção ou calculismo, foi acertada.