Se há assunto que me irrita, a imigração é um deles, até por causa do populismo empregue no tema, quer da extrema-esquerda como da extrema-direita. Passando por cima do óbvio, que fomos e somos um país de emigrantes, e de que a sociedade portuguesa ficaria praticamente paralisada sem imigrantes, convém irmos ao importante. Temos ou não capacidade para receber todos, todos, todos, parafraseando o Papa? É claro que não e a melhor analogia que podemos dar é a de nós próprios. Será que convidamos todos os nossos amigos e conhecidos para jantarem em nossa casa no mesmo dia? A resposta é óbvia, não temos espaço para tantos, nem cadeiras, nem mesa, nem talheres, nem copos, nem tão pouco fogão para fazer o repasto para tanta gente. Mas é por causa disso que não fazemos jantares de amigos ou familiares? A resposta também é óbvia. Sim, mas respeitando a capacidade do espaço e a possibilidade de recebermos todos bem.
Serve o que foi dito para dizer que, também como é óbvio, devemos acolher os imigrantes, mas tendo sempre em conta se os podemos receber condignamente, se temos trabalho, habitação e cuidados de saúde, e se nos vêm acrescentar alguma coisa.
E os imigrantes que escolhem Portugal também devem saber que aqui há uma cultura que precisa de ser respeitada, onde as mulheres e as crianças têm os mesmos direitos. Se abrirmos as portas indiscriminadamente, corremos o risco de estar a contribuir para mais racismo, mais sentimento de insegurança e para o desvirtuar de uma forma de vida.
Já o escrevi, mas nunca é demais dizê-lo, António Barreto redigiu os três melhores textos sobre o problema da imigração – foi em final de fevereiro e início de março do último ano. E tudo o que foi escrito está cada vez mais atual. Depois de nomear os aspetos positivos da imigração, que são muitos, o sociólogo passou a enumerar os negativos, que também são muitos, e os perigos de não se ter uma política racional sobre a imigração. «Importa notar que entre os países que recebem imigrantes e refugiados contam-se só democracias. As ditaduras e regimes equiparados não aceitam imigrantes nem refugiados. Não há imigrantes na China, na Rússia, na Bielorrússia, na Venezuela ou na Coreia do Norte. Como não havia na União Soviética ou nos países comunistas, nem nos países fascistas. Das ditaduras foge-se, para elas não se emigra», escreveu.
Vem esta conversa a propósito dos ataques que foram feitos a Pedro Passos Coelho por ter dito «nós precisamos de ter um país aberto à imigração, mas cuidado, precisamos também de ter um país seguro. Na altura o Governo fez ouvidos moucos disso e, na verdade, hoje as pessoas sentem uma insegurança que é resultado da falta de investimento e de prioridade que se deu a essas matérias, não é um acaso».
Repare-se que o antigo primeiro-ministro disse que as pessoas ‘sentem uma insegurança’ e isso foi considerado racismo. Mas as pessoas estão tão fanatizadas para não perceberem que isso é verdade em algumas localidades alentejanas, por exemplo? E que as máfias brasileiras, romenas e russas encontram em Portugal um verdadeiro santuário para viver? E, já agora, não é verdade que Portugal deixou de ser o terceiro país mais seguro do mundo para estar em sétimo lugar?