O Rei Ruy

As exposições que organizo partilham a vida e obra de um homem marcado pela memória, pela saudade e por uma comovente generosidade.

Querida avó,

Ruy de Carvalho, o ator português mais velho no ativo, celebra 97 anos, imagina.              

A exposição Retratos Contados de Ruy de Carvalho anda em itinerância há, praticamente, 3 anos. Sinto-me um privilegiado por percorrer Portugal de norte a sul com o “avô de todos os portugueses”. Esta é a forma, carinhosa, como gosto de o tratar. Um sentimento comum a grande parte dos portugueses.

Nas tertúlias que organizo, todos ficam deslumbrados com a doçura desarmante, a sabedoria infinita e a entrega do ator ao público.

Adora partilhar as suas lições de vida. Fazem com que a própria existência, a de cada um de nós, faça realmente sentido. Com um olhar crítico mas temperado pela ternura e pela doce maturidade, abre o seu coração, num relato espontâneo e comovente sobre a vida, o amor, os afetos e os anjos que aparecem na nossa vida, quase sem darmos por isso.

«Com medo de morrer muitos acabam por não viver. Nunca penso na morte. Gosto muito de viver!». Como não ficarmos rendidos?

As exposições que organizo partilham a vida e obra de um homem marcado pela memória, pela saudade e por uma comovente generosidade.

Um ator que tem dado voz, corpo e alma a centenas de personagens ao longo de 82 anos de carreira. Nunca se conformou com a mediocridade, sofreu e amou, ganhou e perdeu. Tudo para agradar o público.

Estas exposições levam os visitantes numa viagem íntima pelas suas emoções e pelos grandes momentos da sua vida, como marido, pai, amigo e ator. Partilham, com aqueles que apenas o viram através das personagens que interpretou, as suas mais importantes peças e vivências.

É de uma humildade encantadora. Diz que, apesar da idade, tem muito para aprender e para fazer.

Anda em itinerância com duas peças de teatro e com as exposições. Já fala das celebrações do seu centenário, imagina.

Obrigado pela entrega e por tudo o que nos tem dado.

Parabéns, avô Ruy.

Bjs

Querido neto,

É verdade, o nosso Ruy está de parabéns.            

Chegar aos 97 anos, da forma em que ele está fisicamente e psicologicamente, não é para todos.  

Que bom que é tê-lo nas nossas vidas.   

Imagina que quando nasceu a Segunda Guerra Mundial ainda nem sequer tinha começado.

Muitos parabéns pelo trabalho que tens desenvolvido com o Ruy.

Essas exposições, com mais de uma centena de fotografias pessoais e profissionais que passam em revista, cronologicamente, a vida e carreira do grande ator, são ao mesmo tempo uma viagem às memórias de Portugal.

O público tem assim a oportunidade de revisitar os momentos mais marcantes, mais simbólicos, mais felizes da vida do ator. Desde as origens da família às fotos do arquivo do Teatro Nacional D. Maria II. São 82 anos de uma carreira brilhante e multifacetada, em que se confrontou com os mais criativos encenadores, autores, realizadores e contracenou com uma legião de grandes atores portugueses.

São também 97 anos de vida plena, onde construiu uma belíssima carreira e uma linda família, que eu amo de paixão.

Ruy de Carvalho é um dos mais emblemáticos atores nacionais portugueses e dos poucos vivos da sua geração, detentor de inúmeros honrarias e comendas. Cada vez que o vejo diz que já não tem espaço em casa para tantos prémios.

Como tão bem referes, o Ruy faz parte da nossa família. O que não é de admirar, pois entra nas nossas casas, desde 1957, ano em que foi emitido o “Monólogo do Vaqueiro”, a primeira peça de teatro que vimos da RTP.

Diz que está na idade “com-dor”. Antigamente usávamos os cremes da lata azul. Agora, nada como dar duas demãos de creme para as dores e siga para cima do palco. Onde ele gosta de estar e nós gostamos (muito) de o ver.

Esteve internado inúmeras vezes, resistiu a diversas doenças e voltou sempre à representação, o que lhe dá vida.

Tenho a certeza absoluta de que será eterno.

Bravo Ruy!

Bjs