Estamos perante um novo conceito de mobilidade?
Há muito tempo que se pedia a expansão da rede do Metropolitano ao concelho de Loures. Tive oportunidade de dizer, esta sexta-feira de manhã, quando foi feita a assinatura formal que era um dos dias mais importantes do concelho de Loures, porque finalmente se deu esse passo e já não é possível voltar para trás. É a concretização de um sonho. António Costa quando foi candidato em 1993 ao concelho Loures já falava do Ferrari e do burro, isto é, na altura, já alertava para essa necessidade. O Metro chegou a Odivelas, mas não chegou a Loures e era uma luta que se arrastava há anos, há décadas, em que havia anúncios, havia avanços e depois recuos. Finalmente deu-se o passo importantíssimo que foi o lançamento formal do concurso. Vai contar com cerca de 6,5 quilómetros de rede, nove estações e é uma obra de 527 milhões de euros. É uma obra muito complexa, desde a questão técnica, em que temos sistema misto: uma parte em subsolo, outra em superfície. E foi também um processo político muito complicado, pois havia a intenção dos municípios de terem de suportar o conjunto de infraestruturas envolventes. No caso de Loures eram 50 milhões.
Mas houve uma espécie de braço de ferro…
Tive uma luta com o Governo. Confesso que a tive, mas felizmente conseguimos sensibilizá-lo e não é uma questão de termos de pagar ou não, era uma questão de justiça. Sempre disse isto: a rede do metropolitano do Porto está a fazer a sua expansão e não vi nenhum município do Porto a pagar seja o que for. Opus-me desde o início a ter de pagar, porque queríamos um tratamento idêntico. Felizmente, já quase no fim da linha do Governo – numa reunião do conselho de ministros, muito por decisão do primeiro-ministro António Costa e do ministro do Ambiente Duarte Cordeiro que se envolveu de forma muito direta – foi aprovada a resolução que diz que o Governo financia tudo, uma parte por via do PRR e outra através do Orçamento do Estado. Essa era a grande batalha de que tínhamos, mas felizmente o Governo foi sensível às preocupações e à justeza desta matéria. Esse financiamento envolve desde a criação da linha, ao material circulante até à construção das vias alternativas.
A verba proveniente do Orçamento do Estado está dividida por vários anos. A mudança do Governo poderá pôr em causa esse financiamento?
Não, porque a partir do momento em que foi lançado o concurso público, a obra está cativa, está comprometida. Não pode haver alterações ou Orçamentos retificativos que ponham em causa este projeto, uma vez que já está lançado o concurso público.
Houve sempre essa linha vermelha por parte da câmara em não pagar?
Havia um compromisso por parte do anterior presidente da câmara, em que a autarquia assumia um pagamento, mas eu, desde o início, que me opus. A Câmara não tinha, obviamente, de pagar rigorosamente nada, uma vez que é uma questão de justiça. O município de Lisboa pagou alguma obra de infraestruturas do Metro? Não, então porque é que Loures teria de pagar? É uma questão de justiça, chamem-lhe braço de ferro, chamem-lhe o que entenderem, o facto é que se conseguiu, a bem da população do concelho de Loures e a bem da própria área metropolitana de Lisboa avançar com este projeto. Tive a oportunidade de dizer no lançamento do concurso que Loures é o segundo concelho de toda a área de Lisboa que mais passageiros tem no âmbito dos transportes metropolitanos de Lisboa. Foram 22 milhões de passageiros que usaram os transportes metropolitanos de Lisboa no ano de 2023 só do concelho de Loures. Só Sintra é que supera estes dados em número de passageiros. Isto é bem significativo e notório da necessidade de haver mais reforço ao nível de transporte público. E esta expansão da rede do metropolitano em superfície vem dar resposta a esta necessidade que está patente nos próprios números. Loures é dos concelhos que mais viaturas introduzem na cidade de Lisboa e por isso esta obra alivia. E foi também bom para o concelho de Mafra, para o concelho de Vila Franca de Xira, porque obviamente também esperam que a linha seja prolongada. Mas isso é uma luta que não é minha. Esta foi ganha e esta sexta-feira também deixei um alerta ao secretário de Estado da Mobilidade que na passagem de pasta para o futuro Governo lhe possa passar a pasta das negociações que estávamos a ter para criar uma alternativa de transporte para a zona oriental do concelho de Loures, que abrangesse toda essa zona. Estava tudo praticamente a ser fechado, o estudo está a ser feito inclusivamente no âmbito do PT 2030 – é algo que não é obviamente para este mandato autárquico – mas havia este compromisso de haver uma verba cativa no PT 2030 para a implementação também do transporte alternativo para toda a zona oriental do concelho de Loures. Estava praticamente fechado com o atual Governo e fiz esse alerta para a existência deste compromisso que existe, sob pena de ter que me chatear e normalmente quando me chateio não é bom. Foi um passo importante, um dia muito determinante para o concelho de Loures, que não acaba aqui.
Este projeto peca por ser tardio?
Claro que sim. Foram demasiados avanços e recuos de vários governos, as pessoas estavam descrentes. As pessoas hoje só estão certas de que vai haver essa expansão da rede do metropolitano porque se lançou o concurso público. O que pode acontecer é começar um pouco mais tarde ou um pouco mais cedo. Isso depende das complexidades, mas um mês mais tarde ou um mês mais cedo, é certo que a obra começa. E com este passo, as pessoas sentiram que finalmente vamos ter o Metro no concelho de Loures. Claro que estou contente porque foi um Governo do PS que o fez. Não tenho memória curta e enquanto aqui estiver vou apelar a que essa memória curta não exista. Se hoje há a expansão da rede de metropolitano deve-se à boa interligação que existiu entre o Governo do PS, neste caso do António Costa e entre uma Câmara Municipal liderada pelo PS, neste caso por mim.