Regime da Venezuela reativa ‘a forma mais violenta de repressão’

Missão da ONU destacou que, em janeiro de 2024, Maduro pediu para “ativar a Fúria Bolivariana”

O regime venezuelano está a reativar “a forma mais violenta de repressão”, com uma nova vaga de detenções de opositores, acusados de alegadas conspirações. A denúncia é da Missão Internacional Independente da ONU para a Venezuela.

A presidente da missão apresentou esta quarta-feira um novo relatório ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas sobre os abusos cometidos pela liderança de Nicolás Maduro na Venezuela desde 2023.

A portuguesa Marta Valiñas destacou que “as autoridades invocam conspirações reais ou fictícias para intimidar, deter e processar pessoas que se opõem ou criticam o Governo”.

Segundo a representante da ONU, desde 2023 que há uma transição de uma fase menos repressiva da oposição, em que o regime de Maduro se limitou a criar “um clima de medo e intimidação”, para um período mais violento, “ativado para silenciar as vozes da oposição a qualquer preço”.

Valiñas, citada pela agência Lusa, destacou que, em janeiro de 2024, Maduro pediu para “ativar a Fúria Bolivariana” depois de garantir que quatro conspirações para o assassinar ou organizar golpes de Estado tinham sido descobertas.

Também a Procuradoria-Geral da República anunciou a existência de uma operação chamada ‘Pulseira Branca’, que alegadamente visava acabar com a vida do presidente venezuelano. No contexto desta última alegada conspiração, 33 soldados foram despromovidos e expulsos e vários críticos do regime foram detidos.

A presidente da missão da ONU acrescentou que várias mulheres foram perseguidas, sublinhando o caso da advogada Rocio San Miguel.  A espanhola-venezuelana especialista em temas militares tornou-se a presa política mais importante do regime de Maduro.

Em fevereiro, pouco depois da missão da ONU e do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos terem manifestado a sua preocupação com Rocio San Miguel, o governo venezuelano suspendeu as atividades da missão técnica e deu ao seu pessoal um período de 72 horas para sair do país.

A chefe da missão adiantou ainda que, juntamente com Rocio San Miguel, foram documentados casos de outras 18 mulheres que permanecem detidas sob a acusação de estarem associadas ou envolvidas em “conspirações” para derrubar o Governo.

As conclusões da missão foram, mais uma vez, rejeitadas pela delegação venezuelana perante o Conselho da ONU para os Direitos Humanos, em Genebra, que colocou mesmo em causa a legitimidade do organismo criado em 2019 para investigar abusos de direitos humanos no país.