A sede da Caixa Geral de Depósitos (CGD) vai mesmo mudar para o Parque das Nações e não é a mudança de Governo que vai travar o processo. O novo espaço foi comprado no início deste ano, para que o edifício na João XXI possa ser libertado para receber os vários Ministérios. Uma ideia do Governo socialista e que deverá manter-se com o novo Executivo.
Ao que o Nascer do SOL apurou, este espaço está adaptado às necessidades dos vários Ministérios e, neste momento, já lá se realizam reuniões de secretários de Estado. Também ao nosso jornal, o presidente do Sindicato de Trabalhadores das Empresas do grupo CGD (STEC), Pedro Messias, referiu que «há serviços [do Estado] que já estão funcionar na sede [da CGD] e já estão lá a trabalhar algumas centenas de trabalhadores da função pública no edifício».
O responsável diz, no entanto, que poderá haver alterações em termos de calendarização. «Não sei qual vai ser a eventual pressão por parte daquele que venha a ser o novo Governo, mas admito que o plano possa vir a ser ajustado, assim como o calendário e essa mudança até pode ser antecipada de 2026 para 2025». Ainda assim, lembra que a futura sede do banco público ainda «não está pronta para começar a receber quer os serviços, quer os trabalhadores». E alerta: «A Caixa não pode sair já da João XXI e, por outro lado, também não me parece razoável que vá arrendar quaisquer instalações até as novas estarem prontas».
Recorde-se que a nova sede da Caixa está ainda em construção e terá uma área de escritórios de 27 635 metros quadrados, 1 240 metros quadrados de áreas comerciais e 400 lugares de estacionamento. O banco, na altura, chegou a admitir que tinha envolvido os trabalhadores neste processo de mudança. «Os colaboradores da Caixa foram envolvidos no processo de decisão, tornando evidente a necessidade de escolher uma localização dotada de uma boa rede de transportes públicos, limitando a necessidade de recurso ao veículo privado para as suas deslocações para o trabalho», referiu. E, segundo Pedro Messias, foi tida em conta a preocupação que o sindicato tinha, no sentido de albergar todos os trabalhadores que estão atualmente na João XXI, mas também reconhece que o número é bastante inferior. Um cenário que tem vindo a ser admitido por Paulo Macedo: «O CEO da Caixa tem afirmado que aquele edifício já não estava devidamente dimensionado para aquilo que eram as necessidades da Caixa, há muitos espaços vazios e não está previsto aumentar o atual número de trabalhadores». E lembra que um dos departamentos que foi para a ainda sede do banco público foi a Caixa Geral de Aposentações que estava localizada na Rua Castilho e foi ocupar um piso inteiro, em 1993. «Só esse departamento, na altura, tinha cerca de 900 trabalhadores e hoje tem talvez 200».
‘Não pomos de lado nenhum cenário‘
A par da mudança, a CGD enfrenta um braço de ferro entre administração e trabalhadores. Em causa está o aumento salarial proposto pelo banco liderado por Paulo Macedo e que já levou à realização de uma greve no início deste mês. Uma questão que ganha maiores contornos depois de o banco público ter apresentado lucros históricos de 1 291 milhões de euros no ano passado, o que vai permitir ao Estado receber dividendos de 525 milhões de euros. «Entendemos que não é razoável aquilo que a Caixa apresenta em termos de lucros e aquilo que realmente quer repercutir na tabela salarial dos trabalhadores. A Caixa diz que vai pagar prémios, naturalmente que o sindicato não se opõe, só que os prémios não estão ao alcance de todo o universo dos trabalhadores e beneficia apenas os que estão na rede comercial – cerca de 50/55% do total de trabalhadores – o que quer dizer que há uma franja que nunca irá alcançar esses prémios, nem há a garantia que no ano próximo ano exista a mesma dinâmica ou o mesmo volume de prémios a distribuir», salienta Pedro Messias.
Apesar do presidente da estrutura sindical estar aberto a negociações, também recorda que já houve um recuo no valor inicialmente avançado. «Recuámos de 7% para 5,9%. Vamos ter uma reunião no dia 26 e estamos disponíveis para negociar, mas não para a proposta dos 3% avançados pela administração. Entendemos que a Caixa pode ir além dos valores que apresentou sem pôr em causa a sustentabilidade financeira da empresa para o futuro». E face a esse cenário não descarta a possibilidade de realizar novas paralisações: «Não podemos deixar de colocar em cima da mesa todos os cenários possíveis».