O Chega considera essenciais as tão faladas reformas estruturais sempre adiadas ao longo de sucessivos mandatos sejam eles do PS, sejam do PSD. Reformas de que toda a gente fala, mas a que ninguém nunca meteu ombros por falta de coragem moral e de vontade política.
E precisamente porque as considera essenciais, o Chega tem vindo, insistentemente, a apelar para que seja aproveitada a larga maioria de Direita saída destas eleições para as levar a cabo. Porque apenas uma maioria estável e duradoura, projetada a 4 anos e, de preferência, a 8 anos, na qual todos os parceiros estejam de acordo na absoluta necessidade de proceder a essas reformas estruturais as poderá, de facto, levar a cabo. Porque elas implicam, entre outras tarefas hercúleas, uma reconversão dolorosa das prioridades orçamentais, da estrutura da despesa pública e de uma racionalização profunda da extravagante máquina do Estado.
Luís Montenegro (LM) sabe isso: sabe que são urgentes essas reformas como sabe que elas jamais serão possíveis com minuciosas negociações casuísticas à esquerda e à direita. Esse sistema de negociações, se funciona medianamente quando a governação se reduz a uma mera gestão corrente à vista da costa, jamais poderá estar na base de um governo que meta ombros a uma governação assente sobre reformas estruturais. Estas exigem um plano integrado e de fundo que terá que comprometer todos os participantes.
Se Luís Montenegro sabe isso – e seguramente que o sabe – não metendo ombros à liderança de um governo que consubstancie e coloque no terreno essa larga maioria, das duas uma: ou não considera relevante essas reformas estruturais ou, então, não tem coragem política para as encetar e levar a cabo.
Ora o Chega encara esse conjunto de reformas estruturais como condição sine qua non para que o país inverta o seu caminho para a irrelevância política e para a ruína económica e financeira. Para o Chega, governar é levar a cabo essa tarefa, ou então é inútil.
Referiu LM que uma das primeiras medidas do governo será a de tomar medidas que melhorem, financeiramente, a vida das forças de segurança. Mas o que se passa é que essas forças pretendem muito mais do que isso: querem ser respeitadas no exercício da sua autoridade e ter o apoio dos seus superiores e do Estado no exercício dessa autoridade. O que implica uma reforma profunda da forma como o Estado encara o exercício das suas funções soberanas. Porque o Estado tem permanecido demasiado ausente dessas funções e demasiado presente em todas as outras que cabem, essencialmente, à esfera privada e social e apenas subsidiariamente ao Estado.
Aparentemente LM quer, apenas, dar mais algum dinheiro aos polícias. O que já é alguma coisa. Mas André Ventura pretende ir bem mais longe: para além desse dinheiro que há muito lhes é devido, quer devolve-lhes a autoridade perdida e o respeito que lhes é devido. E isso apenas será possível alterando profundamente a forma como o Estado se encara a si próprio como garante do respeito pela Lei e por aqueles a quem cabe, no terreno e no dia a dia, fazê-la cumprir. O mesmo para os professores, para os juízes e funcionários judiciais ou membros das Forças Armadas.
Aqui reside a diferença essencial entre um e outro. O Chega não quer governar por governar, mas quer governar para mudar o país. E é isso que irá exigir ao governo de Portugal.