Xeque-mate

A política não se tornou uma metáfora mas para lá caminhamos em resultado do atual quadro parlamentar

A vida política portuguesa está transformada num completo jogo de xadrez. As peças avançam e movimentam-se como se de um tabuleiro de jogo se tratasse. A política não se tornou uma metáfora mas para lá caminhamos em resultado do atual quadro parlamentar. O que mudou? Tudo. E tudo é muito. Daí o xeque mate à estabilidade; uma estabilidade que irá ser posta à prova todos os dias e que na realidade só está assegurada durante os próximos 7 meses, altura em que terá que ser apresentada a proposta de Orçamento de Estado para 2025. É uma nova realidade política num quadro de tripolarização com uma maioria aritmética à direita mas que não é convertível em maioria política. 

O socialismo democrático (PS) e a social-democracia (PSD) estão separados por alguns milhares de votos. É certo que a vantagem da AD é frágil, mas tal circunstância não lhe retira legitimidade para governar nas condições em que se apresentou a eleições e que foram validadas pelos eleitores.

O primeiro ponto a considerar é a credibilidade. De que se trata? Da garantia dada por Luís Montenegro aos Portugueses de que não existiria qualquer acordo com o Chega. Acordo de governo, entenda-se. Foi este o sentido da afirmação de Montenegro : «Não é não». E é esta a posição que deverá prevalecer. O contrário seria um suicídio político para Luís Montenegro. A AD terá que governar em minoria, ora negociando à direita, ora à esquerda. Será um exercício difícil que exigirá capacidade de negociação, diálogo e maturidade democrática a todos os atores políticos da direita e da esquerda. 

Com os seus 50 deputados, o peso do Chega confere à política portuguesa um grau de incerteza e de imprevisibilidade. André Ventura não se cansa de repetir que representa um milhão e 100 mil Portugueses. Exprime-se num tom de birra de que foi paradigmática a sua versão sobre o encontro com Marcelo Rebelo de Sousa em Belém. 

A estratégia de André Ventura é forçar um acordo de governo com a AD. Ameaça com o chumbo do orçamento. Diz que os eleitores do Chega estão a ser humilhados. Invoca o nome do Presidente. Revela que Marcelo lhe disse que não se opunha à entrada do Chega no governo. Avança com uma citação presidencial: «Quem escolhe é o povo». 

Foi tal a confusão que Marcelo foi obrigado a emitir um comunicado, declarando que a presidência não comenta nem manchetes de jornais (Expresso) nem declarações de dirigentes políticos. 

André Ventura reforçou na passada segunda-feira a pressão que tem vindo a exercer sobre a AD desde a pré-campanha. Como é que se vai concretizar este desassossego? São insondáveis as manobras políticas de um partido que num primeiro momento terá que se organizar em função do resultado eleitoral. Paralelamente, o Chega, perseguindo o objetivo de continuar a crescer, deverá reposicionar-se estrategicamente, moderando-se à semelhança do que fez Marine le Pen em França com o ‘Rassemblement National’ ou Giorgia Meloni que governa a Itália com o partido ‘Irmãos de Itália’. 

À esquerda, as alterações no quadro parlamentar tiveram, para já, uma consequência relevante. O PS perdeu a maioria absoluta com estrondo. Menos 12 por cento dos votos. Assim como Santos Silva falhou a eleição pelo círculo da emigração, algo inédito e significativo. As aberturas dos telejornais com Santos Silva e André Ventura aos gritos terão vitimizado este último. Nunca iremos saber se esta tese vingou nas urnas mas que pela primeira vez um presidente da Assembleia da República não foi eleito, isso é objetivo.

Liberto do ‘costismo’, Pedro Nuno Santos terá que construir a sua identidade como secretário-geral. Já deu sinais de que o vai fazer assumindo o compromisso de que aprovará um orçamento retificativo. O líder do PS neste momento quer fazer parte da solução e não do problema, sabendo que quem criar uma crise política só terá a perder. Os portugueses estão fartos de eleições. Sabe isso Pedro Nuno Santos como saberá igualmente André Ventura e Luís Montenegro. Este último só tem que formar um bom governo e decidir bem. Até outubro, mês do orçamento, o caminho far-se-á caminhando