As linhas vermelhas de Montenegro

Em termos ideológicos, a distância que separa o PS dos seus antigos aliados da geringonça é bem maior do que aquela que afasta os partidos que integram a AD dos seguidores de Ventura.

O recente folhetim da eleição do novo presidente do parlamento veio provar o fosso em que Montenegro se deixou atolar, ao ceder à chantagem da esquerda e à pressão vinda do seu próprio espaço político, para que estabelecesse linhas vermelhas em relação a acordos com o Chega.

O “não é não”, repetido até à exaustão durante a campanha eleitoral, resultou numa clara vitória do PS que, apesar de derrotado nas urnas, vai ter, em breve, um dos seus correligionários como segunda figura do Estado, caso esta legislatura sobreviva pelo menos dois anos.

Montenegro não teve forças nem coragem para resistir à ditadura do politicamente correcto, que impõe barreiras à direita, obrigando ao isolamento de um partido reconhecido como democrático pelo Tribunal Constitucional, daí ter permitido a sua legalização, mas que não coloca qualquer entrave a acordos e negociações com partidos defensores dos regimes mais repressores e opressivos da História moderna.

Costa, para alcançar o topo do governo sem que para isso tenha recebido um voto de confiança dos portugueses, permitiu-se aliar aos comunistas e aos bloquistas, que, entre outras pérolas, são defensores da saída de Portugal da OTAN e da União Europeia, mas a Montenegro são cerradas as portas para qualquer tipo de entendimento com um partido que não questiona o ideal europeu nem põe em causa os princípios democráticos do regime vigente.

E, registe-se, em termos ideológicos, a distância que separa o PS dos seus antigos aliados da geringonça é bem maior do que aquela que afasta os partidos que integram a AD dos seguidores de Ventura.

Rui Rio, o anterior presidente do PSD a submeter-se a sufrágio, recusou-se sempre a alinhar nessa tirania que nos tem sido imposta, não assumindo nenhum compromisso que o obrigasse a não dialogar com o Chega depois das eleições.

Após a derrota eleitoral, e a consequente maioria absoluta do PS, os seus críticos responsabilizaram-no pelo desaire por não ter criado linhas vermelhas à sua direita.

Convencido pelos barões do seu partido, a quem os complexos de esquerda mantém-se como imagem de marca, Montenegro deixou-se levar na conversa e, acreditando que obteria melhores resultados se fosse taxativo quanto à recusa de qualquer tipo de acordo com o Chega, acabou por ceder e, já em plena campanha, avançou com o célebre “não é não”!

Se atentarmos ao que se verificou nas anteriores eleições legislativas, tal opção não lhe serviu rigorosamente para nada.

O PSD de Rio, sozinho, obteve praticamente o mesmo resultado que o PSD de Montenegro, coligado com o CDS!

As linhas vermelhas não tiveram qualquer efeito prático, porque o eleitorado está-se a borrifar para esse tipo de maquinações.

Os portugueses quiseram oferecer à direita uma maioria com uma dimensão que esta só em sonhos acreditara ser possível, deixando um claro recado de que o que querem é que o País seja governado com autoridade, acabando-se, de uma vez por todas, com a balbúrdia socialista.

Montenegro teve que ceder ao PS para negociar o nome de Aguiar Branco, rendendo-se, para esse efeito, a uma presidência repartida na cadeira mais importante da assembleia da república.

Não quis, ou não lhe consentiram, privilegiar um acordo à direita, o qual lhe teria permitido que aquele lugar se estendesse por toda a legislatura.

A factura vai-lhe sair bastante cara, porque, caso insista na negação de se sentar à mesa com os deputados do Chega, a sua sobrevivência como chefe do governo vai depender, exclusivamente, da vontade dos socialistas.

Governará enquanto eles quiserem!

E a primeira prova de fogo será em Outubro, quando se discutir o orçamento de Estado para 2025.

Nessa altura, caso não seja sua vontade sujeitar-se a novo escrutínio, terá apenas duas opções: ou negoceia com o PS ou com o Chega.

Com os dois será impossível!

Se se virar para o PS, sabendo, de antemão, que Santos já reafirmou, categoricamente, que não viabilizará nenhum orçamento, a não ser um eventual rectificativo, o chumbo será o destino mais do que certo.

Claro que, entretanto, o líder do PS pode mudar de opinião, estratégia a que já estamos habituados.

Mas, perante esse hipotético cenário, Montenegro seria obrigado a desvirtuar o documento que mantém o País governável, cedendo, em toda a linha, às exigências da esquerda, sobretudo da mais radical.

E não foi para isso que os portugueses lhe confiaram a governação de Portugal!

Se, certamente por obra e graça do Espírito Santo, abrir os olhos e mandar às urtigas o “não é não”, ficou desde já avisado que não pode haver conversações à noite que venham, posteriormente, a ser desmentidas no dia seguinte por um qualquer ressabiado.

Os acordo com o Chega terão que ser discutidos e assumidos às claras, sob pena deste partido, sentindo-se de novo traído, roer a corda.

Foi esta a lição que Ventura, fazendo jus das suas credenciais como professor universitário, quis ensinar a Montenegro.

Esperemos, para bem de Portugal, que este a tenha aprendido!

Pedro Ochôa