Abril pelas Direitas, foi bonita a festa, pá?

Abril é um ideal sequestrado pela esquerda e que tem de ser repensado com rigor, quer na dimensão histórica, quer na dimensão mítica.

Imagine que quer conhecer um cubo específico e que esse conhecimento só é possível se aceder à totalidade daquilo que esse objeto é, as cores e os desenhos de cada uma das suas faces, pois só assim compreende o seu conjunto. Imagine também que alguém se apropriou do cubo e só se pode dizer deste, o que se vê numa face e aquilo que o autointitulado dono permite. Imagine também que sempre que tenta aceder a todas as faces para um melhor conhecimento é rotulado de fascista e extremista de direita. Infelizmente é o que acontece com a data e o significado de Abril de 1974. Esta data foi usurpada de modo ideológico pelo esquerdismo. Ora, se muito dessa esquerda tivesse triunfado, teríamos vivido numa nova ditadura, uma Albânia II. 

Abril não tem donos, muito menos a esquerda da miséria e da manipulação e até a sua versão triunfante, o socialismo. É necessário combatermos a doutrinação falsa e imobilizadora que deformou o melhor dessa data. Lutar por mais liberdade e democracia significa combater as barreiras ao pensamento crítico e plural, enfrentar a censura e a tática de considerar a crítica e a dissidência da doutrina oficial como delitos de opinião e expressão. Não é fácil, pois como sabemos a historiografia portuguesa é ainda dominada pelos órfãos da visão marxista, tal como a academia dos cursos de papel e caneta. Os partidos e as expressões de centro e a direita em Portugal são aquilo que a esquerda permite que sejam, muitos meios de comunicação estão sob o controlo implícito do Estado e vinculam sempre a versão oficial da realidade socialista (com e sem dê). Veja-se na atualidade o tema do excedente orçamental deixado pelos socialistas, feito inédito da democracia. Tretas, esse dinheiro é dos portugueses e foi-lhe retirado quer em impostos excessivos, quer retendo dinheiro que lhes pertencia. 

Ora, o necessário combate pela liberdade trava-se com pequenos passos concretos, como o caso de um projeto recente que conseguiu furar a tirania quase soviética da versão única da mistificação político-mediática sobre data, o livro Abril pelas Direitas. Esta obra deve-se ao trabalho corajoso de dois homens, Rodrigo Pereira Coutinho e Paulo Jorge Teixeira que têm realizado um trabalho assinalável e verdadeiramente democrático. Desta vez convidaram 50 pessoas para apresentarem a sua visão plural sobre a data, com um único critério, estarem à direita do socialismo. O prefácio da obra escrito por Alexandre Franco de Sá devia ser de leitura obrigatória em todos os níveis de ensino pelo rigor e factualidade.

Abril não é só uma efeméride para recordar anualmente e ouvir os mesmos de sempre a sinalizarem a sua virtude e projetando nos outros os seus fracassos. Abril é um ideal sequestrado pela esquerda e que tem de ser repensado com rigor, quer na dimensão histórica, quer na dimensão mítica. Temos de interrogar os seus fundamentos, os seus conteúdos, a sua verdade e o seu uso. 

É mais que tempo de perder o medo por desobedecermos ao pensamento único e começarmos a desfazer falsos mitos, Abril não é comunista, nem de extrema-esquerda, nem significa uma mentalidade uniformizada e homogénea. Abril vale pelo significado, pelo ideal de um país mais próspero, com mais equidade, um país de homens livres e democratas.