Pelo Hotel Ritz

Há prazeres na vida que não são para qualquer bolsa, nem podem ser postos em prática com a frequência que desejamos. No entanto, datas especiais merecem ser celebradas de forma única.

Querida avó,

Como sabes a minha mãe celebrou o seu aniversário recentemente.  
Para comemorar este dia tão especial, decidi levá-la ao famoso brunch, do Restaurante Varanda, no Hotel Ritz Four Seasons, em Lisboa. Há prazeres na vida que não são para qualquer bolsa, nem podem ser postos em prática com a frequência que desejamos. No entanto, datas especiais merecem ser celebradas de forma única. Este é um dos brunches mais cobiçados da cidade. Não é só pelo local mas, acima de tudo, pela variedade e qualidade dos produtos e pela forma como somos atendidos com um serviço de excelência.  

A sala é lindíssima, com as suas enormes janelas do chão ao teto e com vista para o Parque Eduardo VII, onde viveste a tua infância e juventude.

Este brunch leva-nos numa viagem pela gastronomia mundial, sem sairmos de Lisboa. É composto por uma vasta seleção gastronómica gourmet, oriunda dos quatro cantos do mundo, distribuída por várias mesas. Os mais gulosos podem encerrar esta degustação com “chave de ouro” pois as sobremesas, os chocolates e gelados (não esquecendo a pastelaria francesa) são de paragem obrigatória.

Se quiseres “ver para crer” esta sugestão deste teu neto que tanto te ama, podemos combinar esta viagem à volta do mundo da gastronomia num fim-de-semana que venhamos a estar na Feira do Livro.

Será uma belíssima forma de celebrarmos a publicação do nosso próximo livro. Parece-te bem?

Não eras tu que estavas sempre “caída” no Ritz?

Gostava que me fizesses uma visita guiada ao Ritz Four Seasons. Adorei ver a trilogia de tapeçarias de Portalegre de Almada Negreiros que estão no lounge e são espantosas, bem como outras peças. Não é por acaso que se diz que o Ritz tem uma das mais valiosas coleções privadas de todo o país, imagina.

Não te esqueças que na madrugada do próximo sábado muda a hora para o horário de verão, finalmente.

Boa Páscoa.

Bjs

Querido neto,

És tão novo que, provavelmente, o nome de João Maria Tudela (que morreu há 13 anos) não te dirá muito. Mas foi um grande intérprete de música portuguesa, e um grande amigo meu. Ainda hoje sou capaz de cantar várias músicas dele.

Encontrávamo-nos, não direi todas as tardes mas, muitas tardes durante a semana.

O Tudela tinha sido pai tardio, do João e da Carlota, e tinha a certeza de que eles seriam ainda pequenos quando ele morresse, o que, efetivamente, veio a acontecer.

Então escrevia páginas e páginas sobre a sua vida, para eles ficarem a saber um pouco melhor como ele tinha sido. Mas queria que fosse um texto muito bem escrito, sem enganos nem erros.

Então encontrávamo-nos todas as tardes no bar do Hotel Ritz, e ele mostrava-me o que tinha escrito. Claro que nunca mexi nem numa vírgula, ele escrevia muito bem. Eu adorava estar ali com ele a ler tudo aquilo e a conversar, até porque era a única maneira de eu ir ao Hotel Ritz!

Lembro-me que um dia eu vinha a sair do Ritz, e encontrei uma amiga que me disse «deves estar a ganhar muito bem… Aqui no Ritz!».

Nem lhe respondi e até fiquei contente que ela pensasse que eu vivia ali… Realmente o Ritz era só mesmo para quem podia! Mas o bar era diferente…

Além de tudo isto, o João Maria Tudela tinha imensa graça quando contava histórias que lhe tinham acontecido (a maior parte delas inventadas). Por isso, quando foi o velório, cheio de amigos, todos nós cá fora ríamos que parecíamos malucos a lembrá-lo. A Viúva, coitada até veio cá fora pedir que não ríssemos tanto porque ela também se queria rir daquelas maluqueiras dele mas não podia…

Desde que o João Maria Tudela morreu, nunca mais entrei no Hotel Ritz. Quando passo por lá é sempre dele que me lembro.

Fico muito feliz com o teu convite.

Terei todo o gosto em ir contigo ao brunch no Hotel Ritz para celebrarmos o lançamento do nosso próximo livro.

Boa Páscoa,

bjs