A guerra no Médio Oriente está longe de ser resolvida e caminha, a passos largos, para uma escalada. Israel continua a levantar preocupações sobre a sua ação na Faixa de Gaza enquanto mantém a sua frente de guerra com o Líbano, a norte, aberta e continua a bombardear a Síria, tendo atingido a embaixada iraniana.
O conflito israelo-iraniano não é de agora. As duas potências têm-se digladiado pela superioridade regional, com Israel a tentar sempre evitar que o seu adversário possua armas nucleares – nomeadamente através da eliminação de cientistas nucleares. Já o Irão, com vista a enfraquecer Israel, opera através de proxies, como o Hezbollah no Líbano, o que fez os israelitas abrirem uma frente de guerra no Norte do seu território.
Na passada segunda-feira, Israel lançou um ataque contra a embaixada iraniana em Damasco, na Síria, vitimando mortalmente treze pessoas, entre as quais Mohammed-Reza Zahedi e Mohammed Hadi Haji-Rahimi, comandantes de topo da Guarda Revolucionária do Irão. A DeutscheWelle noticiou que o embaixador iraniano, Hossein Akbari, não estava na embaixada no momento do ataque e que segundo o próprio, o bombardeamento foi feito por caças F-35, um dos aviões de combate mais avançados do mundo, que lançaram seis mísseis de forma consecutiva, destruindo por completo o edifício consular. O edifício principal ficou intacto.
Akbari prometeu retaliar na «mesma magnitude e dureza», considerando que «o regime sionista sabe melhor do que ninguém que estes crimes e a violação da lei internacional têm a sua resposta na altura apropriada». Já o Ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, declarou: «A cada dia que passa temos mais provas de que estamos envolvidos numa guerra em múltiplas frentes, que é simultaneamente ofensiva e defensiva. Operamos em todo o lado, todos os dias, para prevenir que os nossos inimigos se fortaleçam e para garantir a todos os que agem contra nós, em todo o Médio Oriente, que o preço pela ação contra Israel será pesado». Por sua vez, o líder supremo do Irão, Ali Khamenei, citado pela Al Jazeera, prometeu uma reposta à altura: «O regime sionista perverso será punido pela mão dos homens corajosos do Irão e vai-se arrepender de cometer estes crimes».
Ainda no ano passado, as forças israelitas tinham bombardeado Damasco, matando Seyzed Razi, outro membro da Guarda Revolucionária do Irão, e também em janeiro cinco conselheiros iranianos foram vítimas do Governo de Netanyahu. A Euronews acrescenta a esta lista um outro conselheiro iraniano morto, na semana passada, num ataque aéreo perto da fronteira com o Iraque.
Este episódio irá certamente escalar o conflito, envolvendo de forma direta a principal potência do Médio Oriente. O objetivo de Israel terá sido enviar um sinal aos iranianos para que suspendam o financiamento ao Hezbollah, mas a manobra não deverá surtir o efeito desejado.
World Central Kitchen
O ataque à embaixada do Irão em Damasco vem num momento em que a pressão e o escrutínio ao primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, nunca foi maior. Estando já na mira dos críticos quanto ao cumprimento do direito internacional e sendo até acusado de genocídio, as Forças de Defesa de Israel atingiram um veículo da World Central Kitchen, uma organização não governamental e sem fins lucrativos que procura fornecer alimentos em situações de catástrofe, seja ela natural ou bélica. Morreram sete membros da organização.
Os israelitas prontamente declararam que ocorreu um erro de identificação e garantiram que se procederá a uma investigação independente.
«Como exército profissional, comprometido com o direito internacional, prometemos examinar as nossas operações de forma exaustiva e transparente», assumiu Daniel Hagari, porta-voz da Forças de Defesa de Israel, através de um vídeo publicado na rede social X. Hagari falou também com o fundador da World Central Kitchen, o chef José Andrés, expressando-lhe as «mais profundas condolências».
Andrés apelou à moderação de conduta de Netanyahu: «O Governo israelita tem de parar com estas mortes indiscriminadas. […] Tem de parar com as restrições à ajuda humanitária, parar com a morte de civis e de trabalhadores de ajuda e parar de usar a comida como arma».
A resolução de cessar-fogo imediato que passou no Conselho de Segurança da ONU fez rejuvenescer a esperança de um apaziguamento no Médio Oriente, mas o que sucedeu foi exatamente o inverso. Há uma grande escalada e os interlocutores – seja o Hamas, Netanyahu ou até mesmo o Irão – não são os indicados para a condução de um processo de paz, que neste momento parece longínquo.