As taxas de juro não voltaram a descer mais uma vez, mas essa descida deverá acontecer até ao final deste ano entre três a quatro vezes. Pelo menos é essa a previsão dos especialistas ouvidos pelo Nascer do SOL, que comentam o facto de o Banco Central Europeu (BCE) não ter mexido nas taxas.
«Tal como o esperado, o BCE manteve as taxas de juro inalteradas em níveis recorde pela quinta reunião consecutiva, mas enviou um sinal ainda mais claro de que pode estar a preparar-se para reduzi-las à medida que a inflação na zona do euro continua a cair», disse ao nosso jornal Paulo Rosa, economista do Banco Carregosa.
Para o economista, perante uma inflação da Zona Euro agora perto da meta de 2% do BCE, «os empréstimos bancários paralisados e a economia da Zona Euro com um crescimento fraco, marcada pela recessão na Alemanha, o BCE mostrou uma maior abertura para um possível corte na sua próxima reunião». Quer isto dizer que a probabilidade de uma descida de 25 pontos base na próxima reunião no dia 6 de junho «é de 79%, de acordo com o mercado monetário». Paulo Rosa adianta ainda que até ao final deste ano «são antecipados entre 3 ou 4 cortes de 25 pontos base. A taxa de depósitos deve descer dos atuais 4% para os 3,25% ou 3%».
A decisão do BCE também não surpreende Ricardo Evangelista, diretor executivo da ActivTrades Europe, que recorda também que o BCE «deixou a porta aberta para fazer um primeiro corte já na próxima decisão que acontecerá em junho».
O analista adianta ainda que o BCE «mudou de tom relativamente às reuniões anteriores, admitindo pela primeira vez que será apropriado cortar os juros se a evolução dos dados económicos permitir uma maior confiança de que a inflação está encaminhada para atingir o objetivo dos 2%». E adianta que «embora junho não tenha sido explicitamente mencionado como sendo o momento apropriado para o primeiro corte, a opinião generalizada dos analistas é de que a reunião que hoje terminou terá sido a última antes desse primeiro corte».
No então, diz ser difícil fazer previsões para além de junho, «uma vez que o BCE manteve o discurso de basear decisões nos dados económicos que forem saindo». Ainda assim, Ricardo Evangelista defende que, «levando em conta o fraco crescimento económico na zona euro, e a queda da inflação de forma mais rápida do que se previa, arriscaria dizer que para além do corte de 25 pontos base em junho, devemos ter pelo menos mais dois cortes até ao final do ano».
Recorde-se que o (BCE) decidiu manter as taxas de juro inalteradas. É a quinta vez consecutiva que a instituição liderada por Christine Lagarde toma a decisão de não mexer nas taxas de juro.
Assim, a taxa de depósitos mantém-se no máximo de sempre de 4%, aplicável às operações principais de refinanciamento em 4,5% e a de cedência de liquidez em 4,75%.
«A informação que tem vindo a ser disponibilizada confirmou amplamente a anterior avaliação efetuada pelo Conselho do BCE das perspetivas de inflação a médio prazo. A inflação continuou a descer, impulsionada pela menor inflação dos preços dos produtos alimentares e dos bens», diz o BCE.
Mas a ideia de descida tem vindo a ser defendida, ainda que com alguma prudência, por Christine Lagarde, que já tinha avisado que as taxas de juro não devem descer, pelo menos, até ao verão, em junho. Mas é preciso esperar. «Referi antes que em abril temos alguma informação e alguns dados, para os quais olhámos, mas em junho teremos muito mais dados e muito mais informação e também teremos uma nova projeção, que incorporará e será informada por tudo o que será publicado antes de a projeção ser terminada», indicou, adiantou Lagarde.
Crescimento global de 3%
Ainda esta quinta-feira o Fundo Monetário Internacional avançou que a forte atividade económica nos Estados Unidos e nos mercados emergentes ajude a impulsionar o crescimento global em cerca de 3% este ano. No entanto, a diretora-geral do FMI, Kristalina Georgieva, avisou que «as cicatrizes da pandemia ainda estão entre nós», apontando que elevadas perdas de produção, «com os custos a recaírem desproporcionadamente sobre os países mais vulneráveis».
O economista Paulo Rosa adianta que «a robustez da economia dos EUA ajudou a melhorar a perspetiva económica global por parte do FMI», destacando que o forte crescimento da economia norte-americana, «suportada por um mercado de trabalho resiliente, ajudou a melhorar as perspetivas para a economia mundial, mas é preciso fazer mais para conter uma queda na produtividade», como defende o FMI, que espera agora que a economia mundial cresça mais rapidamente do que o previsto em janeiro, quando previu que o crescimento global aumentaria 3,1% em 2024 e 3,2% em 2025.
Segundo o FMI, recorda Paulo Rosa, «os receios de uma recessão global e de um período de estagflação o ano passado parecem ultrapassados, mas o aumento das tensões geopolíticas está a intensificar os riscos de fragmentação da economia global. Há também os desafios da crescente dívida pública e de uma ‘desaceleração generalizada da produtividade’».