SLB, SLB, SMO

O plano será impedir-lhes o acesso a uma formação superior, para os enfiar no SMO, como aconteceu antes? Não faz sentido.

O serviço militar não é um serviço cívico, ao contrário daquilo que a população pensa. Em Portugal passaram-se cinquenta anos a achincalhar a nação, a abandalharem a instituição militar e conseguiram. Esse foi a missão da esquerda, dos seus capitães incluídos, e da ausência de direita.

Este país está socialmente moribundo, sem dinheiro para as escolas, os hospitais, a habitação e toda a ladainha que sabemos… vamos nestas paupérrimas condições, reorganizar a tropa? Uma tropa fandanga? De resto, como tudo o mais por aqui.

Se apregoam precisarem de imigração, porque os portugueses não querem fazer determinados trabalhos, vão agora impingir-nos um Serviço Militar Obrigatório? Os nacionais vão servir de magalas e os imigrantes ficam com todos os postos de trabalho? Metam mais tabaco naquilo que andam a fumar, se faz favor…

Antes de mais, devo alertar que falo em conhecimento de causa, pois cumpri o Serviço Militar Obrigatório (SMO). O tal que transformava os rapazolas em homens, onde fui obrigado a ausentar-me da minha vida, e sobrevivi quase dois anos vestido de verde, às ordens de gente que mal sabia escrever, indo ao quartel como se ia ao escritório e pouco mais.

Se foi uma má recordação? Nem boa nem má, foi um desperdício, foi uma experiência como qualquer outra, tendo em conta que durante esse tempo me foram retirados os meus direitos cívicos normais, para integrar um submundo, uma inútil comunidade com leis próprias regendo-se à margem, mas inserida na sociedade portuguesa que todos conhecemos, e onde todos os indivíduos são potenciais servidores dos velhos (ou novos) sargentos, majores, coronéis e generais, justificando-lhes as mordomias e os altos salários. A troco de quê? De nada, da lei que a isso os obriga, caso contrário vão para a prisão militar. O que relembra, os simplistas conceitos da escravatura. E peso, as minhas palavras.

Se cumprir o SMO me serviu para alguma coisa, no futuro? Não.

Tenho de realçar que passei por todo esse período de “mãos nos bolsos”, ou seja, sem problemas. Porque estava em forma fisicamente e mentalmente assumi porque era habitual assumir-se nessa altura, que o SMO faria parte de uma fase natural na vida de um rapaz, para ele “se fazer homem”, repito.  Na realidade nenhum por entre nós se fez homem ali, mas recordo-me de vários se tornarem alcoólicos ou drogados. O tédio alimentava os dias e a malta passeava no interior do perímetro militar, chutando com a biqueira das botas as pedrinhas da parada, fazendo a continência e inventando ocupações, enquanto ansiosamente se aguardava pelo início de mais um período de instrução, dado aos recrutas que obrigatoriamente apareciam por lá, três vezes por ano. Em suma, enquanto uns viviam daquilo, a maioria fingia que servia a nação. Mais disso? Perdoem-me dizer não.

A dado passo, para os finais do século passado extinguiram o tal SMO, o que foi uma decisão civilizacional. Queriam então quase que privatizar a tropa, achando que teriam gente suficiente para ocupar os quartéis como praças. Esqueceram-se que para tal, teriam de lhes pagar ordenados razoáveis. Resultado: foi um fracasso previamente anunciado.

Hoje com o exército depauperado, as instalações abandonadas ou em fase de transformação em hotéis para turistas, um quarto de século depois, eis que por entre os gritos das hostes futebolísticas, nas televisões se anuncia o regresso do SMO… assustando-nos, como sempre nos assustando, com os perigos de uma possível guerra. A derradeira boia de salvação dos políticos agarrados ao poder, sempre foi a guerra. Será que não aprendemos nada nas universidades? Se for o caso, regressemos todos ao sector primário, pois o retrocesso ao SMO, tal prediz.

Esquecem-se provavelmente que, entretanto, o estado português se transformou num velho maquinismo obsoleto, onde o brio fugiu para o futebol e os valores desapareceram. Que os jovens têm futuros diferentes e as fronteiras são planetárias. Sobretudo esquecem-se que os jovens portugueses uma vez formados, emigram em busca de algo melhor. O plano será impedir-lhes o acesso a uma formação superior, para os enfiar no SMO, como aconteceu antes? Não faz sentido.

Esquecem-se de outra coisa, das armas. Quando eu lá estive nos anos oitenta, estas eram na sua esmagadora maioria espingardas G3, fabricadas em Portugal e ultrapassadas, muitas provindas da guerra colonial, onde sem munições sequer para o treino, a única função que tinham, era a de diariamente serem desmontadas para se limparem. Fingia-se relembro, que tínhamos tropa. Hoje, querem regressar exatamente ao mesmo.

 Chegados a 2024, com a ameaças que existem e aquelas que nos querem fazer crer, o nosso país não necessita de militares, mas sim de magalas. Como é o seu historial aliás… isto nunca foi o berço de militares, mas sim de gente desenrascada, indisciplinada e tesa para a porrada. O que os generais portugueses precisam na verdade, é de um sem número de vidas disponíveis, para em caso de conflito e ao abrigo de acordos, os enviarem para a frente de batalha e fingirmos, uma vez mais, que temos um exército. Chama-se a isto, carne para canhão.

Reparem que Portugal tem à sua responsabilidade, uma enorme zona marítima no oceano Atlântico, e como a nossa Marinha sem barcos e sem navegadores, não cumpre essa sua missão. Bem podem castigar os marinheiros que se recusaram embarcar numa barcaça sem condições, que semanas depois avariando-se em alto mar, teve de ser socorrida, dando-lhes razão. Somos este despudor de nação, ou pior ainda, se tivermos em conta o histórico e glorioso passado, e formos agora avaliados pela nossa atual Armada.  

Para dizer a verdade, anuncia-se o repetir do que se fez a 9 de março de 1916, ao enviarem para a guerra soldados portugueses sem preparação, sem armas nem roupa apropriada, sacrificando as suas vidas em troca dos ingleses, como na batalha de La Lys na Flandres, que foi o maior desastre militar português depois da batalha de Alcácer-Quibir em 1578. Basta de fantochada, sobretudo quando nos vai custar, e muito, em vidas humanas.

O Presidente da República veio sobre este tema, colocar água na fervura, e bem.

Nota: o PCP veio utilizar esta expressão de “carne para canhão”, dizendo-se contra o regresso do SMO, mas isso é porque o nosso suposto inimigo num futuro próximo, seria o senhor Putin. Estivessem eles, comunistas no poder, já andaríamos todos a marchar e a engrossar as fileiras dos russos, invadindo a Ucrânia.